Mundo

Sudão pede intervenção internacional no conflito

O Sudão pediu, ontem, formalmente à Organização das Nações Unidas (ONU) para mediar as negociações entre Cartum, Cairo e Etiópia sobre a gestão e enchimento do reservatório da barragem etíope, construída sob o Nilo Azul.

17/03/2021  Última atualização 15H10
O Primeiro-Ministro do Governo sudanês, Abdallah Hamdok, fez solicitação às Nações Unidas © Fotografia por: DR
"O Primeiro-Ministro enviou uma carta às Nações Unidas e outra aos Estados Unidos em que pediu que interviessem e desempenhassem um papel de mediador para resolver as divergências sobre a barragem do Renascimento”, disse Faisal Saleh, porta-voz do chefe do Governo sudanês, Abdallah Hamdok, à agência France-Press.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Sudão indicou, também, numa declaração, que Hamdok tinha escrito à ONU, aos Estados Unidos, à União Europeia e à União Africana a pedir a intervenção das quatro partes.
A construção da Grande Barragem do Renascimento Etíope, a maior de África, sobre o  Nilo Azul, um rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara e origina o rio Nilo, tem instigado tensões graves entre os três países.

Sudão e Egipto temem que a construção do projecto, avaliado em mais de 4 mil milhões de dólares e que vai permitir à Etiópia gerar seis mil megawatts de electricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da Administração etíope.  Com cerca de 6 mil quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e electricidade para cerca de 10 países da África Oriental.

A 21 de Julho do ano passado, Addis Abeba anunciou que tinha alcançado o objectivo de enchimento para o primeiro ano. Na ocasião, a Etiópia afirmou que o aumento da água na barragem se deveu às fortes chuvas, apontando que se tinha tornado "evidente nas últimas duas semanas da época chuvosa, que o primeiro ano de enchimento da barragem está concluído e está a transbordar”. No dia 6 de Março, o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, criticou a intenção da Etiópia em prosseguir com a segunda fase de enchimento da barragem.  
Na ocasião, Egipto e o Sudão "concordaram em relançar as negociações através de uma mediação quadripartida”.


Libertado líder de milícia
O Governo do Sudão perdoou e libertou o chefe da milícia armada Janjaweed, Musa Hilal, um líder sancionado pelas Nações Unidas e acusado por grupos dos direitos humanos de atrocidades em Darfur, anunciou, ontem, a Reuters.  A libertação de Hilal e de outros membros das suas forças, ocorre no momento em que o Governo de Transição do Sudão intensifica os esforços de paz na região ocidental devastada pela guerra, após um acordo assinado em Outubro com os grupos rebeldes e que visa encerrar várias décadas de conflito.

"Musa Hilal foi libertado juntamente com outros”, disse Ismail Aghbash, assessor do líder rebelde à AFP. Musa Hilal estava detido desde 2017 e era considerado próximo do Presidente deposto, Omar al-Bashir, que apoiou as forças árabes Janjaweed contra minorias étnicas africanas marginalizadas quando a guerra começou em Darfur, em 2003.

Os combates, que diminuíram nos últimos anos, mataram cerca de 300 mil pessoas e desalojaram 2,5 milhões de outras, de acordo com as Nações Unidas.
Hilal foi punido com sanções da ONU em 2006 pelo facto de ser acusado de supervisionar "atrocidades” em Darfur e responsável por violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos”.

Em 2014,  desentendeu-se com o Governo de al-Bashir depois de o acusar de tentar sabotar as relações entre tribos no seu Estado natal, Darfur do Norte.
Hilal, 60 anos, foi preso em 2017, após os confrontos entre as suas tropas e as Forças de Apoio Rápido do Governo de Al Bashir. Porém, o ex-Presidente Omar al-Bashir foi deposto em Abril de 2019 por um golpe e condenado em Dezembro desse ano por corrupção e agora está em julgamento desde Julho de 2020 pelo golpe de Estado perpetrado em 1989 que o colocou no poder.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Mundo