Entrevista

Sucesso dos bancos não se mede pelos lucros

Mário Nascimento responde a perguntas do Jornal de Angola sobre as razões da queda dos resultados líquidos e os desafios colocados ao sector no contexto da pandemia da Covid-19

21/05/2021  Última atualização 08H10
© Fotografia por: Edições Novembro
A crise da Covid-19 será, por si só, a grande explicação para a queda dos resultados da banca?
Angola enfrenta, desde há cinco anos, recessões económicas sucessivas, o que o surgimento da crise da Covid-19, em 2020, apenas veio agravar. Neste contexto, podemos dizer que a diminuição dos resultados na banca não se deve exclusivamente à  crise da Covid-19, mas também a uma forte diminuição da actividade económica, com as consequências que daí advieram, como o encerramento de empresas, a diminuição das receitas fiscais, etc. A Covid-19 teve um grande peso no forte decréscimo do resultado dos bancos, pois veio agravar a crise económica que o país atravessa e, por consequência, causou uma forte diminuição da actividade e dos rendimentos da banca.

O facto de, à excepção do BPC, todos os restantes gerarem lucros, significa que a banca é, de facto, um negócio bastante rentável...
Tal como os restantes sectores e actividades empresariais, onde existe uma forte presença do sector privado, o sector da banca, no geral, é rentável. No sector financeiro,  no geral, e no bancário, onde existe uma forte regulamentação e fortes requisitos prudenciais, a medição do sucesso não se esgota na medição do lucro. O facto de o sector bancário ser rentável, não quer dizer que não existam riscos e fortes exigências às instituições que dele fazem parte. Também não significa que não existam situações de bancos que não tenham ou passem por dificuldades financeiras apesar de apresentarem lucro. É de conhecimento público a existência de bancos no nosso sistema bancário que,  estando em dificuldades e sob planos de reestruturação, ainda assim, não cumprem os requisitos prudenciais do BNA. Pelo que é necessário não confundir, na banca, o lucro, com a solidez e solvabilidade das instituições.

O que a ABANC geralmente recomenda aos associados, atendendo os desafios do país?
A direcção e gestão dos bancos é da inteira responsabilidade dos accionistas e gestores, pois são eles que definem o seu posicionamento estratégico e a sua linha de actuação, pelo que não cabe a ABANC fazer recomendações aos accionistas sobre a actuação dos seus associados ou sobre questões de política comercial das próprias instituições. As únicas recomendações que a ABANC faz aos associados, são de cariz técnico e as que resultam do mandato. Como associação representativa do sector, o que a ABANC faz, enquanto parceiro social e representante dos bancos junto do BNA, do Executivo e dos fóruns em que participa, é contribuir para que o sector bancário participe de forma equilibrada e relevante no desenvolvimento do país, através da elaboração de pareceres, na participação de consultas públicas, na interacção da banca com os restantes sectores da nossa economia, na procura de caminhos e soluções que visam o acesso das empresas, famílias ou Estado, aos serviços e produtos bancários, contribuindo para a captação da poupança para o investimento público e privado e para o acesso aos serviços bancários.

É expectável haver mais crédito para as empresas, famílias e ao próprio Governo?
No seguimento do programa do Executivo de diversificação da economia (PRODESI e PAC) e da regulamentação do BNA relativa ao financiamento ao sector produtivo, com o Aviso 10/20, o crédito às empresas tem vindo a aumentar, apesar do contexto recessivo da nossa economia. É expectável que a banca continue a financiar o sector público e as actividades produtivas do sector privado, e que com a melhoria das condições económicas aumente o financiamento às famílias.

A opção da banca de investimentos em Títulos não enfraquece o seu papel de motor da Economia?
O financiamento ao sector público, nomeadamente o financiamento dos investimentos públicos, é uma função normal da banca em qualquer parte do mundo, pelo que não vejo como o investimento em Títulos Públicos pode ser visto como contranatura ao papel dos bancos ou como enfraquecedora do papel dos bancos na economia. Contudo verificamos que o peso da dívida pública no balanço dos bancos em Angola está muito acima dos níveis verificados nos países da nossa região, ou dos países com uma economia equiparada à nossa. Contudo, o sector bancário, para além do papel de intermediário financeiro, tem a responsabilidade de preservação dos valores dos depositantes colocados à sua guarda e disponibilizar um retorno positivo do capital investido pelos seus accionistas, pelo que devem gerir o risco das aplicações com a devida diligência e parcimónia.

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