Entrevista

Ser piloto de avião foi um sonho concretizado

Rui Ramos

Jornalista

Aos 35 anos, o jovem de Menongue recorda a sua existência atribulada, a guerra, as dificuldades extremas, mas também o seu objectivo maior, pilotar um avião

26/05/2024  Última atualização 08H04
© Fotografia por: DR

Que memórias tem da sua infância em Menongue e sobretudo no seu bairro?

Quando completei um ano de vida, a minha família mudou-se para a província da Huíla. Retornamos a Menongue quando eu tinha dez anos de idade. Portanto, passei a primeira parte da infância na Huíla, especificamente no município da Chibia, Jamba Mineira, Dongo, Matala e Lubango. De volta à cidade natal retomei os estudos, fiz alguns amigos com os quais aprendi a nadar no rio Kwebe, brinquei com carros e aviões de lata, também fazia desenhos artísticos, o que me levou a ganhar alguns prémios escolares com as artes e o que mais desenhava, obviamente eram aviões. Os lápis e os papéis sempre foram os meus amigos.

Bem, não fiz muitos amigos no ensino secundário por causa da minha condição social. O meu uniforme escolar era a bata de enfermagem do meu pai porque os meus pais não tinham dinheiro para comprar uma bata, e naturalmente era zombado por isso, pois, diferente das outras crianças cujo uniforme atingia o joelho, a minha bata chegava aos pés. A palavra bullying não fazia parte do nosso vocabulário mas eu já sofria isso e tinha de ser forte todos os dias. Os meus sapatos eram os famosos dibengos e furados, o dedo do pé estava sempre à mostra. Os chinelos arrebentavam constantemente e tinha de consertar com fios. As minhas calças eram chamadas de "pico” porque tinham as canelas mais finas o que dificultava na hora de tirar a roupa. No intervalo eu não saía da sala porque os colegas que se vestiam melhor riam-se de mim. Os colegas que eram próximo mais tarde começaram a se afastar porque eu não contribuía para o lanche e então entendi que era tempo de ficar mesmo sozinho. Na hora do intervalo eles iam distantes para evitar que eu os acompanhasse e era difícil porque eu passava fome na hora em que os outros lanchavam. Lembro que um dia corri atrás deles e eles fugiram para não lhes pedir.

 

"Perdemos tudo na Jamba Mineira”

No geral, as famílias angolanas em muitas províncias estavam a enfrentar uma fase muito difícil por causa da guerra e a minha estava numa fase pior porque perdemos tudo na guerra, abandonamos a nossa casa na Jamba Mineira no meio de tiroteio, saindo à pressa apenas com a roupa do corpo.

Em 1997, com dez anos, retornamos a Menongue para tentar recomeçar a vida. Ciente da condição financeira dos meus pais, comecei a vender doces (esticas) na escola.

Uma vez, um colega comprou e cuspiu na minha frente dizendo que aquilo não estava bom, ele fez aquilo só para zombar mesmo e todos à volta riram muito de mim. Aquela atitude doeu-me muito e quando cheguei a casa contei à minha mãe e disse-lhe que eu não queria  estudar, porque era muito difícil ir para a escola sabendo que seria zombado e passaria fome enquanto outros comiam e se divertiam. A minha mãe disse para não desistir porque ela estava certa que um dia Deus iria mudar a nossa história, pois, apesar das aflições, Ele estava connosco e com essa força que a minha mãe deu, continuei os estudos.

Já no ensino médio, os professores perguntavam sobre os nossos sonhos e também entre colegas partilhávamos os nossos objectivos, mas quando eu dizia "quero ser piloto” era motivo de piadas e gargalhadas. Na verdade, aparentemente, os meus colegas tinham razão porque tudo ao meu redor apontava que não daria certo. Um jovem que vive numa província que era chamada de Fim do Mundo, outras províncias nos tratavam como povos atrasados, alguns chegaram a dizer ao meu pai que nós, os nganguelas, somos cães. Algumas pessoas foram mais duras comigo. Um colega disse-me:  "Você não vai ser ninguém nesta vida. Pilotagem? Sonhas muito! Isso não é para você, é para quem tem dinheiro e saúde. Nem a limpador de avião tu chegarás. Dizes que tens 16 anos, tu tens mas é uns 25 e estás cheio de doenças nesse corpo”. E a plateia ia ao delírio com tais declarações. Então olhei para os colegas e respondi: "Eu tenho um Deus! Se Ele quiser, eu serei piloto e muito mais do que isso! Quem viver, verá!” Um dia, soube que estava em Menongue o filho de um piloto e eu fui atrás dele para pedir o número do pai dele, ao receber-me ele disse: "Se vivesses em Angola, seria possível realizares o teu sonho. Mas como és do Cuando Cubango, isso é quase impossível para você”. Apesar da dor das palavras duras e do desprezo, não retruquei. Eu só queria o número do piloto e consegui.

 

Um pai muito organizado

O meu pai é muito organizado com o tempo e tinha uma agenda onde marcava tudo. Comecei a fazer o mesmo na minha adolescência e era chamado de maluco por isso, porque antes de marcar qualquer encontro ou saída, eu via antes na minha agenda se não tinha outro compromisso. É uma cultura que não fazia parte dos jovens em Menongue, mas eu descobri cedo que para se dar bem na vida eu tenho que ser uma pessoa muito organizada.

Eu fui um adolescente muito tímido, posso até dizer que eu era a timidez em pessoa e me dedicar aos serviços da igreja moldou o meu carácter, porque aos 17 anos de idade fui eleito  secretário da juventude, o que neguei pois na igreja havia muitos jovens capacitados e melhores do que eu, afinal de contas eu era apenas um adolescente, mas o meu pai, na altura presidente regional da juventude do Cuando Cubango, e a minha mãe, actual presidente nacional da sociedade das senhoras da igreja (UIEA – União de Igrejas Evangélicas de Angola) pediram-me para aceitar, pois seria bom para mim: "Bom, secretário, tem de falar em público”, e então comecei a trabalhar para vencer as minhas inseguranças e consegui. Hoje não tenho problemas para falar em público.


Quando em 2008, aos 21 anos deixou a província do Cuando Cubango, que nível académico tinha e como os seus pais receberam a notícia de sair da cidade?

Saí de Menongue com o ensino médio completo. Eu era o braço direito dos meus pais e por isso não foi fácil sair de casa. A minha mãe disse-me que seria um novo tempo de adaptação para eles, pois na ausência deles eu cuidava da casa por ser o mais velho dos meus irmãos. Não apenas a família sentiu a minha falta, mas os meus alunos também ficaram tristes, pois eu já era professor. Então, não foi fácil para os meus pais conceberem a ideia, mas eles sabiam que um dia as asas do passarinho que eles ensinaram a voar, estariam prontas para explorar o mundo.

 

Deixou o Cuando Cubango e foi de imediato para Luanda, como foi a adaptação na nova terra, com um modo de vida diferente e na casa de outras pessoas?

De Menongue, vim imediatamente para Luanda, onde levei um tempo para me adaptar. A minha terra era uma cidade muito pacata (Eu amava aquela tranquilidade) e de repente eu estava na cidade mais agitada do país e em casa de parentes. Apesar de ser amado pelos parentes, leva um tempo para se ajustar aos modos das outras pessoas, o que aconteceu com o passar de alguns meses. Eu me adapto rapidamente.

 
Os seus pais ainda vivem em Menongue? Quantos irmãos tem e como encaram essa nova fase da sua vida?

Sim, eles vivem em Menongue. Éramos 9, o mais velho, por parte do pai, já não está mais entre nós. Somos 8. Os meus pais e meus irmãos, louvam muito a Deus por essa nova fase da minha vida porque é uma vitória da família. Na verdade, o meu pai está a ver o seu sonho a  realizar-se no filho porque ele queria muito ser piloto na infância. Mas, infelizmente as dificuldades não lhe permitiram, ainda assim, Deus é fiel porque está a realizar isso em mim. O meu pai é um entusiasta da aviação, fala dos aviões com muito prazer, dá vontade de ouvir. Foi militar da Força Aérea no Cuando Cubango mas não chegou a ser piloto.

Na minha adolescência, um dia sonhei que ele era piloto e fui lhe buscar no aeroporto. No meu sonho ele estava tão lindo uniformizado a piloto e a descer do avião. Quando acordei lhe contei o sonho e ele me disse: "Não vou a tempo para ser piloto. Sonhaste com o teu futuro e o teu filho”. Estava longe de ser piloto e de ser pai. Sempre que vou para Menongue, peço para ele ir no aeroporto me ver.

 
Quantos filhos tem?

Um filho, por enquanto. Chama-se Zaki, é um nome africano, e significa aquele que tem a proeza de um leão.

 
Viveu no Brasil. Como foi a adaptação?

Foi fácil porque já viajava em trabalho para o Brasil, como comissário de bordo. Viver em Luanda foi necessário para ter uma visão de mundo completamente diferente de quando vivia em Menongue, onde apenas viajava nos livros. Então, Luanda foi uma escola preparatória para ir viver no Brasil.

 
Quais as maiores dificuldades que enfrentou na sua vida?

A guerra e suas consequências. Em 1992 entramos numa tempestade que durou muitos anos. Perdemos a nossa casa na Jamba Mineira por causa da guerra. Ainda me lembro de algumas coisas, apesar de ter 5 aninhos, de brincadeira mas sempre pergunto aos meus pais para confirmar. Foi no ano das eleições e depois que anunciaram o resultado a cidade estava estranha… O meu pai na altura era enfermeiro e administrador do hospital da igreja da Jamba e estava a trabalhar quando recebeu a notícia. Não havia meios para se comunicar com a mãe e pedir para arrumar algumas coisas. Quando ele chegou a casa, deu a notícia e nos preparamos para deixar a nossa casa sem levar nada. Vestiram-nos duas blusas e duas calças cada criança, os pais pegaram mais algumas coisas e saímos de casa ouvindo já algum tiroteio nos bairros vizinhos. Fomos para a igreja no bairro Lukunga onde encontramos alguns irmãos em Cristo. Depois de uma oração feita pedindo a protecção de Deus, entramos nas matas da Jamba, atravessamos um rio, encontramos vários animais selvagens, inclusive os mais temidos; os reis da selva, os leões, mas eles estavam numa distância considerável e não nos fizeram nada. Paramos em algum lugar para acampar e no dia seguinte um dos irmãos em Cristo descobriu que fez a sua cama em cima de uma serpente enorme mas não foi atacado pela mesma.

 
A pé da Jamba Mineira à comuna do Dongo

Andamos à pé da Jamba Mineira até a comuna do Dongo, debaixo de chuvas fortes com relâmpagos, com muitas paragens na mata, as pernas do meu irmão inflamaram porque era muita caminhada para crianças pequenas. Ficamos presos no Dongo porque não havia como sair, as vias terrestres estavam bloqueadas. Depois de abrirem as estradas fomos para a Matala onde a minha mãe viu toda a nossa mobília a ser vendida num mercado informal, porque depois que saímos da Jamba as pessoas saquearam a nossa casa, retirando tudo. A nossa casa era bonita e a minha mãe conta que vivíamos bem e de repente tudo mudou. Na Matala começou a fome e depois de um tempo fomos ao Lubango de comboio. No Lubango vivemos no bairro Maringa e depois no bairro Entrada, o meu pai perdeu o emprego, já não era mais enfermeiro e então foi para as Lundas tentar ser garimpeiro e quase perdeu a vida. A fome era tanta que aos 9-10 anos cheguei a comer pão do lixo. Naquele dia eu e o meu irmão George fomos buscar água para beber na Laje, em casa de um irmão em Cristo e no regresso passamos ao lado de uma pracinha (Pequeno mercado informal). Vimos um pão amassado no lixo. Aqui vale ressaltar que quando se falava de lixo naquele tempo era uma mistura de tudo que não presta, mas nós não ligamos. Eu disse ao  George: "Se pedirmos para nos darem pão, não vão nos dar, vamos pegar aquele mesmo”. E na medida que íamos em direção àquele pão amassado e pisoteado, as pessoas exclamavam: "Hey, não pega isso! Isso foi pisado, aí é no lixo. Aí tem fezes”. Nós não ouvimos o grito das pessoas, ouvimos o grito da fome. Daí em diante, eu esperava alguém que estivesse a comer uma pêra ou maçã e assim que a pessoa jogava o caroço no chão, eu pegava, limpava na camisa e comia aqueles caroços. Esperava alguém que estivesse a beber um refrigerante para depois pegar a lata e beber o resto. Os meus pais não sabiam que eu fazia isso, contei-lhes mais tarde.

 
E quando abandonam o Lubango?

No Lubango, só jantávamos, não tínhamos o matabicho e o almoço. Lembro de termos passado mais de 24 horas sem comer absolutamente nada, apenas uma papinha para o meu terceiro irmão (Amiúdh) que na altura era uma criancinha e certamente não iria resistir a tanta fome, se nós adultos sentíamos as entranhas a comerem-se imagina uma criança. Com a má alimentação vem a desnutrição e doenças, então, pegamos sarnas na pele, meus lábios eram rachados que nem dava para rir, senão machucava. Mais tarde eu e a minha mãe começamos a vender água e sumo na praça do Santo Antonio para conseguir alimentos. Na luta de melhores condições de vida, e depois de girar quase pelo país todo, o meu pai que era enfermeiro e almejava chegar a ser médico, conseguiu emprego como jornalista na ANGOP em Menongue. Como a vida estava insustentável no Lubango, em 1997 decidimos abandonar a Huíla e ir ao encontro do meu pai em Menongue. E ali apesar das dificuldades, estávamos melhores porque estávamos no seio familiar e o meu tio, Augusto Mutunda (Em memória) nos recebeu na sua casa e nos alimentou. Queria que ele estivesse vivo para ver no que o sobrinho dele se tornou porque ele me respeitava muito, mas Deus sabe de tudo. De forma resumida, de 1992 até 2009, a minha família viu muitos navios na vida.


Fala muito em fé, Deus, é religioso?

Sou cristão e falo muito sobre fé e Deus porque Ele operou maravilhas soberanas na minha vida. Eu vi muitos milagres a acontecer na minha família e na minha vida em particular, milagres são fenômenos que acontecem quando você tem fé. É o que aconteceu comigo, milagre, muitos milagres. Se retirar Deus da minha vida a minha história perde todo sentido. Como alguém sem ter posses, vindo de uma família pobre, se torna piloto? Sou um eterno sonhador e tenho a minha fé firmada em Deus, é isso que me move, a fé.

Os meus modelos na fé são os meus pais, são eles que me ensinaram a olhar e esperar em Deus. Em meio a tantas dificuldades nunca deixaram de acreditar, servir a Deus e nunca se deixaram levar pelas posições sociais. O meu pai chegou a ser o delegado da ANGOP e aposentou-se nesta posição (Eu acho que se aposentou cedo, mas foi a decisão dele) mas não deixou de servir na igreja assim como a minha mãe que é professora até aos dias actuais. A melhor coisa que os meus pais fizeram foi ensinar-me a andar nos caminhos de Deus e hoje sou eternamente grato por isso. Havia dias em que ficávamos em casa, iluminados por uma luz do candeeiro ou lamparina, sem saber como será o dia de amanha, então o meu pai começava a cantar, a minha mãe entrava com o contralto, eu no tenor e de repente toda a família louvava naquelas noites que jamais serão esquecidas.

Eu tinha um vizinho que zombava do meu pai porque não pegava as coisas do serviço para uso pessoal. Um dia o mesmo disse para mim: "Mas o teu pai não aproveita as oportunidades por quê? Todo mundo evolui menos vocês.” Ao que respondi: "Isso não é oportunidade, é roubo e meu pai não é ladrão! A nossa vez vai chegar”. E ele riu de mim.

A integridade do meu pai, o tipo de esposo, homem e servo que ele é, a calma e sabedoria da minha mãe são qualidades que quero ter também. Os meus pais são modelos para mim.

 

O que gostaria de mudar no mundo e em Angola principalmente?

A Educação. Há uma frase que diz o seguinte: "Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Somos conhecidos pelos frutos que nós produzimos, ou seja, pela forma como uma pessoa procede no seu dia a dia, a forma como fala diante das situações adversas, dá para ver o tipo de educação que recebeu, e olhando para a nossa sociedade dá para perceber que "a educação não tem preço. Sua falta tem custo”, temos visto isso todos os dias.

Muito do que vemos hoje é fruto da falta de educação moral e cívica. Como ninguém previu isso? É a partir de casa onde a formação do novo homem começa, construindo o alicerce educacional para então a escola acrescentar. Antigamente, o professor era o segundo pai, hoje não é bem assim. Se o homem não tiver alicerce, se não receber a base, qualquer coisa que construir em cima dele não vai resistir porque ele não tem estrutura, é tipo uma casa construída na areia. O alicerce é muito importante para a construção subsequente.

Porém, como alguém que não recebeu educação vai educar o seu próprio filho? A família é o núcleo mais importante da sociedade, famílias bem estruturadas representam uma sociedade forte. Muitas famílias angolanas estão desestruturadas e isso não é bom indicativo, pois afecta o futuro da nação. Se queremos ver como será Angola amanhã basta vermos como estão a ser educadas as crianças hoje. Não tem que ver com posses, porque existem muitas famílias abastadas financeiramente mas deixam a desejar no que diz respeito a educação.

Assim como o desenvolvimento de uma pessoa envolve etapas, uma nação também passa por processos ou etapas para o seu crescimento que precisam ser respeitadas. Quando você não respeita o processo ou as etapas, então você vai dar passos maiores do que a perna e isso compromete um crescimento saudável. Isso acontece quando a pessoa fica parada no tempo e de repente percebe que os outros cresceram e ela não. Então vem a comparação e o desejo de ser como os outros, porém, se não respeitar o processo vem a frustração porque as expectativas serão quebradas. Quero com isso dizer que é imperativo que Angola cresça em todos os níveis, mas a base é a educação do seu povo. Não adianta construir lindas cidades como outros países se o povo que vai morar na mesma não for educado. A marginal de Luanda é linda mas é um balneário público. Só quem não recebeu educação ou não tem para onde ir tem coragem de fazer necessidades fisiológicas naquele lugar. A falta de educação patriótica não nos permite conservar nem dar valor ao pouco que temos. As crianças que estão a ser formadas hoje nas escolas públicas, particulares e nas famílias, são o futuro da nação. Os futuros governantes e professores, estão hoje nas escolas. E isso devia nos preocupar se queremos um país melhor, um mundo melhor.

 
Como olha a juventude do seu tempo e a actual?

Parece fácil responder a essa pergunta, mas não é. Então não vou generalizar porque há jovens do meu tempo que ficaram estagnados, parados no tempo e jovens da nova geração com uma maturidade dos anos 80 e cresceram muito. De qualquer forma são gerações com hábitos, ideias, opiniões e lutas diferentes. O nosso sistema educacional era o conservador, voltado à educação moral e cívica, respeito aos mais velhos e às autoridades. Uma geração resistente a mudanças e preocupada com a estabilidade de um emprego para garantir a aposentadoria. Quando terminei o ensino médio em 2007, ainda não tínhamos acesso à internet móvel em Menongue, nem Universidades. Então, os que tinham família em Luanda, no Huambo e no Lubango, depois que terminavam o ensino médio, seguiam para o ensino superior. Quem não tinha família ficava estagnado e a lutar apenas para trabalhar. É disciplinada e como lidou com  muitas dificuldades, é uma geração muito forte. A actual é geração globalizada, materialista e imediatista. 

Desde que saí de Menongue em 2008 até 2023, ano que comecei a trabalhar como piloto, passaram-se 15 anos! Não 15 meses ou semanas, 15 longos anos. É muito tempo de espera e a pessoa tem de saber realmente o que quer na vida.

 
É formado em pilotagem, exerce as funções de piloto, tipo de aeronave que tripula e de que companhia angolana?

A aeronave que piloto é o Dash 8 Q400, na TAAG Linhas Aéreas de Angola.

 
Qual o seu grau académico actual?

Ensino superior completo. Graduado em Ciências Aeronáuticas.

 
Sente-se realizado?

Ainda não alcancei todos os objectivos, então não me sinto realizado mas estou muito feliz com o meu progresso e cada passo dado. Maior Sonho? O principal consegui, ser piloto de avião porque os outros dependem deste.  Um dos alvos que tenho e posso partilhar, é proporcionar melhores condições de vida aos meus pais e meus sogros também porque me ajudaram  muito para me tornar piloto. Passei por muita coisa na vida que não deu para contar aqui, mas tudo estará no livro que um dia vou escrever.

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