O Presidente senegalês convocou, ontem, o Conselho de Ministros para debater hoje, a crise provocada pelo adiamento das eleições presidenciais, iniciativa prevista num plano que prevê, entre outros passos, um amplo debate nacional com todas as franjas da sociedade.
Macky Sall está a linhar, assim, o esforço político do Governo com as apreciações dos principais parceiros internacionais, da oposição e sociedade civil. Estes, por sua vez, pedem a retirada do adiamento das presidenciais do dia 15 de Dezembro, em lugar da data inicialmente prevista, o dia 25 de Fevereiro.
O Chefe de Estado enfrenta ainda os apelos de todos os senegaleses que, a favor ou contra a alteração do calendário, estão preocupados com o risco da generalização da violência no país e pedem a tomada de medidas para acalmar a situação. O Conselho de Ministros poderá, segundo rumores que circulam na capital senegalesa, discutir uma amnistia, a aprovar pelo Parlamento, destinada a anular a imposição da justiça às infracções cometidas no contexto dos tumultos que assolam o Senegal desde Março de 2021, que levaram à morte de dezenas de pessoas e à detenção de outras centenas.
Um dos principais candidatos anunciados às eleições presidenciais de 2024, Ousmane Sonko, bem como o seu número dois no partido, entretanto, dissolvido Pastef, Bassirou Diomaye Faye, estão detidos desde 2023. Ousmane Sonko é visto como o principal potencial beneficiário de uma eventual amnistia.
De acordo com Alioune Tine e Pierre Goudiaby Atepa, duas figuras proeminentes da sociedade civil que desempenharam o papel de bons ofícios entre a Presidência do país e o campo de Sonko, afirmaram à Comunicação Social senegalesa que o líder da oposição será libertado nos próximos dias. Nenhum funcionário do Governo confirmou tais conversações ou a existência de um projecto de amnistia, sublinhou a agência France-Press.
O Presidente Macky Sall, eleito em 2012 e candidato à reeleição em 2019, provocou muitos protestos para além da oposição do país, quando anunciou, em 3 de Fevereiro, o adiamento das eleições presidenciais, três semanas antes do prazo previsto. A Assembleia Nacional fixou a nova data eleitoral para 15 de Dezembro e prolongou o mandato do Presidente, que expirava a 2 de Abril, até à tomada de posse do sucessor.
A oposição considerou que a decisão configura um "golpe de Estado constitucional" e as forças de segurança senegalesas reprimiram já várias tentativas de manifestações, que degeneraram em confrontos, causando a morte de, pelo menos, três pessoas até agora. Mais de 260 pessoas foram detidas, segundo as Nações Unidas, a Human Rights Watch e a oposição. Os Estados Unidos da América e a França apelaram, entretanto, ao Presidente senegalês, Macky Sall, para que realize as eleições o mais rapidamente possível, sendo que Washington considerou mesmo ilegítima a decisão de adiamento das eleições.
Contactos políticos ajudam a acalmar os ânimos
O Departamento de Estado norte-americano revelou, na noite passada, que o secretário de Estado, Anthony J. Blinken, manteve uma conversa telefónica com o Presidente senegalês, Macky Sall, a quem voltou a apelar ao restabelecimento do calendário eleitoral, manifestando "preocupação com o aumento das tensões políticas e com a possibilidade de uma maior instabilidade interna e regional em resultado dos acontecimentos recentes". De acordo com a oposição, a Presidência está a contornar o calendário porque tem a certeza de que o seu candidato, o Primeiro-Ministro, Amadou Ba, vai perder.
O medo da violência é generalizado. Serigne Babacar Sy Mansour, califa dos Tidianes, uma das grandes e poderosas confrarias muçulmanas, emitiu uma declaração instando o Chefe de Estado a "dar prioridade à consulta" e a oposição a "aceitar qualquer mão estendida", porque este "impasse pode mergulhar o país numa noite de arrependimento e desolação".
Numa declaração conjunta, várias organizações patronais do sector privado apelaram aos "actores políticos para falarem uns com os outros" e sublinharam a "necessidade de [o país] preservar o investimento privado e a actividade económica", alertando, ainda, para as "consequências desastrosas" de uma deflagração da violência.
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