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“Rui Mingas vai continuar a impactar gerações”

A provedora de Justiça, Florbela Araújo, considerou, sexta-feira, que Rui Mingas, falecido quinta-feira, em Lisboa, aos 84 anos, vai continuar a impactar gerações e a ser, para todos os angolanos, a mascote cultural.

06/01/2024  Última atualização 08H40
Rui Mingas, co-autor do Hino Nacional, que foi ministro dos Desportos e antigo embaixador em Portugal © Fotografia por: Edições Novembro
Numa nota de condolências, a provedora de Justiça refere que foi pelo próprio punho de Rui Mingas e dos seus companheiros que o país viu nascer a letra do Hino Nacional, um dos mais belos de África, "e que cantamos com orgulho”.

Florbela Araújo sublinha que Rui Mingas pertenceu a uma família de influentes músicos angolanos e também à classe diplomática, política, parlamentar, empresarial e no ramo do ensino superior, com destaque para a criação da Universidade Lusíada de Angola, que formou muitos quadros do país.

"A sua bagagem artística é internacional e marcou as três etapas da nossa recente história: a etapa de luta contra o regime colonial, a de luta pela independência nacional e a do fim do conflito armado e a conquista da paz efectiva”, refere a nota da provedora de Justiça, que endereça "à família, ao Parlamento angolano, aos ministérios das Relações Exteriores, da Cultura e Turismo, às diferentes classes a que pertencia e à Nação angolana, em geral, as mais sentidas condolências, manifestando a plena certeza de que as dimensões pessoal, histórica, política, diplomática e cultural de Rui Mingas serão eternizadas na memória colectiva dos angolanos”.

Artistas e políticos exaltam músico

Artistas e políticos da Huíla consideraram, ontem, no Lubango, Rui Mingas como um "dos mais importantes artífices” que fez recurso à música para exprimir o sentimento de repulsa à colonização e destacou-se, igualmente, no processo de afirmação da arte angolana além-fronteiras.

Em declarações à Angop, o músico Joaquim Patrício Correia, 62 anos, conhecido como "Kim Pátria”, disse que Rui Mingas foi um "exímio” intérprete, soube compor e cantar músicas que marcam gerações em Angola e no exterior.

Para o nacionalista Juliano Tyamukwavo, o legado de Rui Mingas deve permanecer, para que as futuras gerações saibam eternizar aquele homem que se manteve firme na defesa da Pátria.

Rui Mingas, disse, foi um daqueles compatriotas que revolucionou o MPLA, ao lado do primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, e de outros nacionalistas como Viriato da Cruz, António Jacinto e Mário António.

O director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Huíla, Osvaldo Lunda, afirmou que a cultura está mais pobre, tendo considerado Rui Mingas um "verdadeiro ícone” do desporto e da cultura angolana.

"Apesar da sua idade, 84 anos, acreditamos que Rui Mingas tinha muito ainda para dar, no que à música diz respeito. Infelizmente, a saúde roubou-lhe a vida e, neste dia de luto e dor, endereço à família enlutada os mais sentidos pêsames”, lamentou.

O secretário provincial do MPLA para a Informação e Propaganda na Huíla, Castilho Cacumba, disse que como nacionalista, político e deputado, Rui Mingas foi um marco de dimensão ímpar e compatriota sempre dedicado à causa do povo angolano.

Pelas obras deixadas, reforçou, "precisa-se exaltar e reconhecer o importante papel desempenhado por este histórico e fiel servidor do povo angolano”.

O director da Comunicação Social do Governo Provincial da Huíla, Luís Garrido, disse que Rui Mingas foi incentivador do desporto no país, porque graças à sua intervenção Angola participou e acolheu importantes provas, como o Africano de Júniores de basquetebol, em 1980.

Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas nasceu a 12 de Maio de 1939, tendo-se distinguido na juventude no atletismo, particularmente no salto em altura e nos 110 metros barreiras em Angola e Portugal. A conduta política de militante activo do MPLA levou-o a compor poemas de nacionalistas angolanos como Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário António e António Jacinto.

"País perde uma grande biblioteca”

Angola perde uma grande biblioteca humana e um homem de cultura, com a morte de Rui Alberto Vieira Dias Mingas, considerou, ontem, em Mbanza kongo, o governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho.

"Rui Mingas deixou-nos muita coisa. Emprestou a sua própria voz ao Hino Nacional, a mensagem que ele passava nas músicas é motivo de muito orgulho para todos, por isso, perdemos uma grande biblioteca humana, um homem íntegro, cheio de honra e dignidade, homem de cultura no sentido real da palavra”, sublinhou.

Adriano Mendes de Carvalho defendeu a necessidade de se começar a pautar as músicas das grandes lendas como Rui Mingas, para que no futuro quem quiser interpretá-las possa recorrer à pauta musical e cantar em qualquer parte do mundo.

Adriano Mendes de Carvalho considerou Rui Mingas um verdadeiro tio, porque era irmão espiritual do falecido pai, André Mendes de Carvalho "Uanhenga Xitu”. "É com muita tristeza que falo do tio Rui Mingas, como nós o chamávamos. O tio Rui Mingas era mesmo nosso tio, no sentido real da palavra. Eu sou muito pequenino para falar da dimensão do tio Rui Mingas, porque o pai dele foi padrinho de baptismo do meu pai e, como tal, eles eram irmãos espirituais”, frisou.

A directora do Gabinete Provincial da Cultura  do Zaire, Nzuzi Makiese, lamentou a morte do músico, desportista, nacionalista, académico e diplomata Rui Mingas.

"Foi com profunda dor que tomamos conhecimento da morte do músico e compositor Rui Mingas. O país perde um grande nacionalista, compositor, líder, mas o seu legado ficará para sempre para as novas gerações”, lamentou.

Sabia defender  a cidadania e o patriotismo

Para o delegado provincial da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC) no Zaire, Bernardo Alves Malamba, a classe artística do país perde uma figura incontornável em várias vertentes, como músico, intérprete, compositor, desportista, nacionalista, académico e diplomata de fino trato, que sabia defender as questões da cidadania e do patriotismo com elevação. "A classe artística da província do Zaire, em particular, vai continuar a preservar a identidade e o seu imponente produto cultural. As músicas como ‘Os meninos do Huambo’, ‘Mbiri Mbiri’ e tantos outros êxitos, bem como a emblemática sonoridade do Hino Nacional, do qual é co-autor com Rui Monteiro, vão permanecer para sempre na memória  colectiva dos angolanos”, disse.

  PRESIDENTE DE PORTUGAL
Marcelo considera Rui Mingas "personalidade da mitologia  moderna de Angola”

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou, quinta-feira, a morte do músico, político e diplomata Rui Mingas, que recordou como uma personalidade "da mitologia moderna de Angola”.

Rui Mingas, co-autor do Hino Nacional, que foi ministro dos Desportos e antigo embaixador em Portugal, morreu quinta-feira, em Lisboa, vítima de doença prolongada.

"Mesmo que não tivesse sido um dos autores do Hino Nacional de Angola, Rui Mingas faria parte da mitologia moderna de Angola nos últimos anos do império e nas primeiras décadas da independência”, considerou Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota de pesar publicada no sítio oficial da Presidência da República Portuguesa na Internet.

O Chefe de Estado português acrescentou que Rui Mingas "parece ter estado em todos os lugares onde Angola se afirmou como jovem Nação”, referindo que foi "atleta do Benfica nas décadas de 1950 e 60 e depois, sucessivamente, militante político, cantor e compositor, embaixador de Angola em Portugal, ministro, deputado e empresário”.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Mingas participou na afirmação de Angola como Nação, "em confronto com o regime português até 1974, mas não em choque com Portugal, pois também os portugueses reconheceram nele um símbolo da nossa relação com os angolanos, que abarca as vicissitudes passadas, as memórias e afectos em comum, um futuro de parceria e respeito mútuo”.

No fim da mensagem, o Presidente de Portugal apresentou as suas sentidas condolências à família e amigos de Rui Mingas.

Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas, nascido em 12 de Maio de 1939, distinguiu-se na juventude no atletismo, nas especialidades de salto em altura e 110  metros barreiras.

Militante activo do MPLA, foi deputado e secretário de Estado dos Desportos.

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