Neste mês dedicado à juventude, propusemo-nos trazer, à ribalta, parte da história de vida de mais um jovem angolano, que, fruto da sua determinação e resiliência, construiu um percurso empresarial digno de respeito, podendo ser, por isso, um exemplo a seguir para quem pretender trilhar os mesmos caminhos.
Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.
O académico Rui Mingas, falecido quinta-feira, em Lisboa, aos 84 anos, foi considerado, ontem, um dos maiores pilares da revolução na formação de quadros superiores no país.
O reconhecimento foi feito pelo reitor da Universidade Lusíada de Angola, Mário Pinto de Andrade, numa cerimónia de homenagem àquele que foi o primeiro reitor da instituição.
Segundo Mário Pinto de Andrade, Rui Mingas foi um dos principais activos na recuperação dos recursos humanos, ao investir na criação de mecanismos que permitiram formar centenas de pessoas em Luanda, Lunda-Sul, Benguela, Cabinda e Namibe.
Ao longo dos anos, disse, esta Universidade formou mais de dez mil quadros, muitos dos quais destacados na Educação, Administração Pública, Política, entre outras áreas.
"Hoje, temos vários quadros formados neste projecto universitário fundado pelo doutor Rui Mingas e Paulo Múrias, que ajudou, de facto, nestes últimos anos, Angola a ter um capital humano próprio”, sublinhou.
Além disso, continuou, Rui Mingas concedeu bolsas de estudo a muitos jovens das primeiras selecções nacionais de futebol e basquetebol que vinham fazer a formação na Universidade.
"O doutor foi um homem filantropo, por ajudar as famílias desfavorecidas que não tinham possibilidade de ter os seus filhos a estudarem na instituição”, explicou.
Mário Pinto de Andrade garantiu que a Universidade Lusíada vai continuar a dar bolsas de estudo a estudantes de famílias desfavorecidas. "Vamos trabalhar para se manter este legado, em memória de Rui Mingas”, disse, esclarecendo que os primeiros alunos tiveram a possibilidade de serem docentes da instituição.
Marca profunda e indelével
Os estudantes da Universidade Lusíada consideraram a morte de Rui Mingas "um acontecimento de profunda tristeza e consternação, que abala e enluta não só os familiares e amigos próximos, mas também todo o povo angolano”.
A sua obra, paixão pela vida, amor pelos homens e pela natureza e o seu firme compromisso com o povo angolano na luta pela Independência, liberdade, paz e justiça social, disseram, deixam uma marca profunda e indelével nos corações e na memória colectiva dos angolanos e também no resto do mundo.
Além disso, consideraram o professor como um homem culto que debitou a sua vida pelo desporto, cultura, política, diplomacia e saber, sempre preocupado com o futuro do país e das gerações vindouras, tendo se destacado em todas essas e outras áreas, "com maior ênfase na música, onde é, inquestionavelmente e orgulhosamente, um gigante”.
Símbolo
do canto pela liberdade
Para os estudantes, além de símbolo do canto pela liberdade, o artista dos artistas que soube, com as suas composições e canções, interpretar no fundo do coração e alma os maiores e mais profundos anseios e sofrimento do seu povo.
Quanto às canções, salientaram, estão carregadas de energias positivas, de força, vontade, com espírito de luta, com fé, confiança e esperança, que certamente estarão gravadas em suas memórias, trazendo consigo lembranças preciosas e inspiradoras.
"Queremos ser eternamente gratos e testemunhas vivas da sua obra, do que ele criou aqui na Universidade Lusíada de Angola, uma contribuição valiosa para o país, pois ajudou milhares de jovens e adultos a obterem, nesta instituição, ferramentas importantes para lidar com o desafiante mundo da inteligência, do conhecimento e da sabedoria”.
Na cerimónia, os estudantes prometeram elevar bem alto o nome de Rui Mingas, os seus ensinamentos nobres sobre valores éticos e morais, do amor ao próximo, da igualdade, liberdade e progresso, para que se possa construir a Angola com que os ancestrais sonharam e lutaram.
Exéquias
O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, informou, segunda-feira, que o corpo de Rui Mingas chega a Luanda na sexta-feira, dia 12 de Janeiro.
"Em princípio, a chegada do corpo está prevista para dia 12”, declarou Filipe Zau, à margem da cerimónia de homenagem aos artistas, por ocasião do Dia da Cultura Nacional.
Para hoje está prevista uma homenagem dos artistas, aberta ao público, no Centro de Convenções de Belas, a partir das 15 horas, sob a égide da produtora de eventos Nova Energia, de Yuri Simão.
O titular da pasta da Cultura referiu que está em curso um programa sob a responsabilidade dos ministérios da Cultura e Turismo e da Juventude e Desportos, para que a memória de Rui Mingas e as exéquias tenham uma dignidade à altura do grande homem que ele foi.
"Estamos a festejar em luto. É uma perda nacional de um homem que era extremamente importante, um belíssimo operário da cultura, um compositor e também um homem da política, da diplomacia”, disse o ministro, ao falar sobre a dimensão de Rui Mingas.
Filipe Zau destacou a veia musical de Rui Mingas, considerando que muitas das suas composições constituem "clássicos da nossa música”.
Artistas reconhecem contributo à cultura
Artistas e fazedores da cultura reconheceram, segunda-feira, em Luanda, o contributo do músico e compositor Rui Mingas nos campos político, cultural, desportivo e social.
Autor de clássicos como "Mbiri Mbiri” e "Meninos do Huambo”, Rui Mingas faleceu na quinta-feira passada, em Lisboa, aos 84 anos, vítima de doença prolongada.
Para a directora do Instituto Nacional do Património Cultural, Cecília Gourgel, Rui Mingas é, sem dúvida, um homem de cultura. "Neste momento de luto e dor, o que podemos fazer é agradecer pelo seu contributo em prol da cultura nacional e noutros sectores da sociedade. Aproveito a oportunidade para dar o meu apoio à família, amigos e admiradores deste grande ícone da música de intervenção”, disse, em declarações à imprensa, à margem da gala alusiva ao Dia da Cultura Nacional, assinalado segunda-feira, 8 de Janeiro.
Como co-autor do Hino Nacional, referiu, Rui Mingas deixa um vazio enorme para todos os operadores de cultura, sendo por isso uma figura incontornável da História de Angola.
O músico Carlos Lamartine afirmou que Rui Mingas tem uma longa história ligada à cultura, tendo se destacado pela sua musicalidade, que ultrapassou fronteiras. "Trabalhei com Rui Mingas aquando da criação do Hino Nacional, porque também fiz parte da construção do Hino que representa a nossa Bandeira além-fronteiras”, sublinhou.
Numa entrevista à Televisão Pública de Angola (TPA), o escritor Manuel Rui Monteiro recordou vários momentos que viveu com Rui Mingas, amigo de longa data. "Um dos momentos que tive com o Rui Mingas foi quando estávamos a fazer a composição do Hino Nacional de Angola, junto com o Carlos Lamartine. Tivemos cerca de vinte minutos para a construção da canção. Tenho como melhor cantor a nível nacional o Rui Mingas”, reconhece. Rui Mingas faleceu na quinta-feira passada, em Lisboa (Portugal), vítima de doença prolongada, aos 84 anos.
Um dos autores da letra do Hino Nacional, juntamente com o escritor Manuel Rui Monteiro, Rui Mingas participou activamente no processo que culminou com a Independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975.
Político, diplomata, empresário e compositor, entre outras valências, Rui Mingas nasceu a 12 de Maio de 1939, e distinguiu-se também no desporto, particularmente no atletismo, antes de ser secretário de Estado da Educação Física e Desportos, deputado à Assembleia Nacional pelo Grupo Parlamentar do MPLA, embaixador de Angola em Portugal e reitor da Universidade Lusíada de Angola.
Rui Mingas musicou os poemas "Monagambé”, "Adeus à hora da largada” e compôs "Mbiri Mbiri”, "Makezu” e "Meninos do Huambo”. A sua voz levou ao mundo poemas de Agostinho Neto, Viriato da Cruz, António Jacinto e Mário António.
Armindo Canda
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