Economia

Roteiro pode tornar Okavango na nova “jóia” do turismo

Lourenço Bule | Menongue

Jornalista

O Executivo angolano está a trabalhar para transformar o município histórico do Cuito Cuanavale no maior roteiro turístico de libertação da África Austral, para a atracção de vários turistas nacionais e estrangeiros.

27/03/2023  Última atualização 08H00
© Fotografia por: DR

A garantia foi dada pelo  presidente do Conselho de Administração (PCA) da Agência Nacional de Gestão para a Região do Okavango (ANAGERO), Rui Lisboa.

Em declarações ao Jornal de Angola, no final das festividades do 23 de Março, no município do Cuito Cuanavale, Rui Lisboa disse que, para a materialização do referido roteiro turístico, serão implementadas uma série de acções, destacando-se a inventariação do património histórico militar, mapeamento, preservação, construção de infra-estruturas para simbolizar os momentos históricos, divulgação, valorização e rentabilização de todo o arsenal de guerra usado durante os conflitos.

Segundo o responsável, é importante, durante o processo de  inventariação, a participação dos protagonistas nacionais e estrangeiros envolvidos nos acontecimentos da Batalha do Cuito Cuanavale. Considera ainda que os mesmos representam um importante segmento de turistas a atrair para a região.

A título de exemplo, Rui Lisboa realçou que o dia 4 de Maio é feriado Nacional na Namíbia, precisamente para honrar a memória das namibianas vítimas do massacre de Kassinga, na província da Huíla, em Angola, e muitos turistas da Namíbia também manifestam interesse em visitar esta localidade angolana, que será parte integrante do roteiro turístico de libertação da África Austral.

 

Elemento diferenciador

Considerou ainda que a criação do roteiro turístico de libertação da África Austral  será também um elemento diferenciador comparativamente a outros países da região do Okavango, cujo produto turístico assenta, somente, no potencial natural e vai proporcionar oportunidades de integração de ex-militares no sector do turismo como guias turísticos, para além de inúmeras oportunidades de negócios para os empresários nacionais e estrangeiros.

Salientou que o património histórico militar representa todos os activos tangíveis e intangíveis relacionados com a guerra na região, nos quais se enquadram as áreas onde se desenrolaram os grandes combates da Batalha do Cuito Cuanavale, as zonas de concentração militar, as trincheiras para a protecção de alvos civis e militares, localidades e aldeias de grande interesse histórico, equipamento militar letal e não letal, as rotas usadas pelos combatentes, bem como os acontecimentos e mitos forjados no tempo do conflito armado.

"O património histórico militar da região angolana do Okavango tem despertado o interesse de muitos turistas nacionais e estrangeiros, ávidos de visitarem, para melhor conhecerem, os referidos locais e a verdadeira história, que culminou com a libertação de Nelson Mandela, a abolição do regime do Apartheid e a independência da Namíbia”, disse.

Acrescentou que parte considerável deste património não está devidamente protegido, correndo o risco de desaparecer se não forem adoptadas medidas urgentes de preservação.

 

"Santuário da vida selvagem

Fez saber que a região angolana do Okavango é sobejamente conhecida pela riqueza natural, sendo considerado como o principal santuário de vida selvagem de Angola e um promissor destino turístico. Nesta senda, a referida região  não se resume apenas ao potencial natural, destacando-se também o grande potencial cultural e histórico-militar.

Rui Lisboa disse que a região está, indelevelmente, associada à história da luta de libertação do país e da África Austral, porque foram travadas grandes batalhas, que culminaram com a independência da Namíbia e o fim do regime segregacionista do Apartheid, na África do Sul, destacando-se a Batalha do Cuito Cuanavale, onde se desenrolaram os mais violentos combates em África, depois da II Guerra Mundial.

Afirmou também que para além da Batalha do Cuito Cuanavale,  existem outros locais espalhados a  nível da província do Cuando Cubango, Huíla, Cunene e Moxico de grande importância histórico-militar para Angola e outros países da África Austral e não só, considerando o envolvimento de vários exércitos, movimentos de libertação e assessores militares de várias nacionalidades.

Potencial turístico é de referência mundial

A região angolana do Okavango representa, sem desprimor para outras partes do país, o principal potencial turístico de Angola, pois nas suas paisagens e nas vastíssimas áreas naturais bem preservadas em estado puro abundam uma grande variedade da fauna selvagem. O realce recai para as espécies emblemáticas da fauna mundial como elefantes, búfalos, rinocerontes, leopardos e leões, para além de outras espécies animais, conferindo à região o estatuto de "principal santuário de vida selvagem e o berço do Okavango”.

O gestor afirmou, por outro lado, que para além de toda está riqueza natural, pode-se também destacar a grande riqueza histórica cultural daquela região do Okavango, por estar associada à rica história militar do país e existirem na região muitos locais de grande interesse histórico militar, cujo  expoente máximo é a Batalha do Cuito Cuanavale.

"Consideramos de capital importância preservar todo o património material e imaterial da região angolana do Okavango, que são activos históricos e parte da nossa memória colectiva, tendo em conta que os mesmos têm despertado o interesse de muitos angolanos e estrangeiros ávidos de conhecer os locais históricos da região, o que se afigura numa oportunidade da sua valorização e posterior rentabilização”, disse.

Para o PCA da ANAGERO, este desiderato pode ser alcançado com a criação do "Roteiro Turístico sobre a Libertação da África Austral”, que vai "turistificar” o 23 de Março, ampliando a dimensão desta importante data, numa perspectiva de um maior e melhor aproveitamento.

Rui Lisboa fez saber ainda que a história militar de Angola, de uma forma geral, e a da região angolana do Okavango, em particular, têm despertado o interesse de muitos turistas que pretendem visitar o local.

Todavia, lamentou, nos últimos anos, parte importante de todo o património histórico e cultural tem sido delapidado, havendo necessidade urgente de protecção e um melhor aproveitamento ecoturístico.

Salientou que a riqueza histórica pode ser uma mais-valia para a diferenciação do produto turístico na região angolana do Okavango, mais relacionada com a natureza. Isso decorre, afirmou, do facto de o país ter excelentes oportunidades de oferecer um produto turístico rico e diversificado, reforçando assim o objectivo de criar uma grande área de conservação e destino turístico de referência mundial.

 

  Plano estratégico passa pelas infra-estruturas

O Conselho de Administração da ANAGERO tem um projecto cujo objectivo estratégico passa pela recolha de toda informação ligada à história militar da região e a preservação de todo o património material e imaterial, bem como o mapeamento de todas as áreas de interesse.

Rui Lisboa disse que tem ainda como objectivo a criação de um plano de infra-estruturação para tornar possível o acesso e permanência dos turistas na região, fazer o levantamento das condições de acesso e as infra-estruturas básicas existentes, definir os modelos de infra-estruturas necessárias em cada área de interesse turístico.

Sublinhou que outro propósito é definir o ordenamento turístico de toda área de interesse, melhorar os acessos e as infra-estruturas de apoio ao roteiro, emitir certificado de desminagem e declarar como sem mina toda a região correspondente ao projecto.

"Será ainda necessário definir um programa faseado de infra-estruturação de apoio a actividades ecoturísticas na região que vai servir de suporte para o desenvolvimento da actividade, identificar as necessidades do pessoal para trabalhar nas áreas de interesse turístico, formação de ex-militares e o seu enquadramento na sociedade", disse.

Para o PCA da ANAGERO, urge a necessidade de se desenvolver programas adaptados ao enquadramento das comunidades locais para projectos comunitários, mobilizar investidores para a construção dos equipamentos turísticos e outros serviços ao longo do roteiro turístico.

De acordo com Rui Lisboa, há também a necessidade de mobilizar-se parceiros nacionais e internacionais para implementarem projectos que   visam a melhoria das condições de vida das comunidades e identificar as principais oportunidades de negócio para criar todas as facilidades necessárias, que garantam o fornecimento de bens e serviços aos turistas.

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