Cultura

Romance de Manuel Rui narra factos vividos no tempo de guerra

Mário Cohen

Jornalista

A solidariedade em tempos de guerra e no pós-guerra e o não racismo são os focos do novo romance do escritor Manuel Rui Monteiro, intitulado “A Mãe”, que está nas bancas desde terça-feira, depois do lançamento da obra na União dos Escritores Angolanos (UEA), em Luanda.

25/05/2023  Última atualização 08H19
Autor revelou que começou a escrever o livro um dia depois da Guerra de Luanda, mas depois engavetou e já não sabia aonde estava a obra © Fotografia por: Edições Novembro

O novo livro de Manuel Rui chega ao mercado com a chancela da Editora Kacimbo e teve uma tiragem limitada de apenas quinhentos exemplares.

Segundo o responsável da editora Kacimbo, o escritor Ondjaki, a obra está nas bancas da livraria Kacimbo disponível para o público leitor e amantes de literatura no valor de seis mil kwanzas.

O romance, com 183 páginas, está dividido em sete capítulos, nomeadamente "Antes da Notícia”, "Do Huambo”, "O Romance”, "A visita do Huambo”, "A Anunciada Tristeza”, "A Notícia” e "Os Diamantes”.

Na cerimónia de lançamento, Manuel Rui disse ser uma pessoa muito bem disposta e que só daqui a 18 anos completará 100 anos. "Comecei a escrever o livro um dia depois da Guerra de Luanda, depois engavetou e já não sabia aonde estava a obra”, disse.

O autor acrescenta que, passados muitos anos, descobriu a existência do livro, encontrado no meio de muitos papéis em sua casa e que, dada a importância da narrativa dos vários acontecimentos vividos no tempo colonial, não poderia ficar no anonimato.

A obra, disse, narra factos reais vividos num contexto em que a acção principal é desenvolvida pela sua mãe. Outros acontecimentos são a guerra entre irmãs, que o autor confessa ser a parte triste da história.

Sobre a parte triste da história, Manuel Rui diz que "a mãe é contra a luta entre irmãs, interrogando-se porquê que vocês não conversam, as guerras já acabaram, já morreram muito dos nossos parentes, destruíram estradas e pontes, fazendo com que muitos abandonassem as suas localidades”.

Em síntese, o autor diz que o restante da história o público leitor vai saber lendo o livro, como a da Dona Fátima, uma "mais velha” que actualizava as notícias de ouvir falar nos musseques, que já era muita gente a mais na cidade, vinda do mato, andando de um lado para outro, a olhar para os edifícios da cidade capital.

Ao apresentar o romance "A Mãe”, a artista Mariza dos Santos disse que o livro fala de solidariedade em tempo de guerra, no pós-guerra e no não racismo, tendo revelado que a Mãe, que o autor narra na obra, é a sua progenitora, que "na sua narrativa congrega a família e amigo, num quintal onde existe muito amor, compreensão e coesão, onde toda acção é desenvolvida recebendo gentes com créditos diferentes e de diferentes ritmos”.

‘"A Mãe’, que o autor espelha no livro, falava com os olhos e com a tosse, onde o seu tossir eram sinais de descontentamento e negação, uma sábia no seu saber estar que tinha presente uma religião”.

Segundo Mariza dos Santos, a obra fala também sobre a renúncia de uma tristeza, o assassinato do médico David Bernardino.

O secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA), David Capelenguela, disse, durante o acto de lançamento, que Manuel Rui Monteiro é dos grandes mestres da literatura angolana. Considerou uma honra a União acolher o acto daquele que subscreveu a acta da fundação da UEA, a 10 de Dezembro de 1975, em companhia de outros gigantes da literatura nacional, destacando António Agostinho Neto, António Jacinto, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, Jofre Rocha, Aires de Almeida Santos, Uanhenga Xitu, Maria Eugénia Neto, Fernando Costa Andrade (Ndunduma), entre outros.

Reconheceu, ainda, que alguns dos escritores membros da União têm preferência em apresentar as suas obras fora da UEA, explicando que isso acontece, talvez, "por um conjunto de dificuldades que nós estamos a viver”.

Já para Manuel Rui, acrescenta, o caso é diferente. "Aqui é a casa de Manuel Rui, assim como ele não deixa esta casa por nada”, confessa.

Para o secretário-geral da UEA, em Dezembro a União vai fazer 48 anos de existência e, para ele, sempre que a casa apresenta uma obra do autor de "Conchas e Búzios”, é um orgulho, porque não dignifica só a literatura nacional, como também exalta a União dos Escritores Angolanos.

A cerimónia de lançamento foi animada pela orquestra sinfónica Kaposoca, que brindou os presentes com alguns clássicos do cancioneiro nacional, como "Avó Bea”, de Pedrito, "Belita”, de Artur Nunes, e "Carapinha Dura”, de Alberto Teta Lando.

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