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Ritmos do Carnaval e xinguilamento marcam as celebrações dos 447 anos

Hoje, a cidade de Luanda celebra mais um aniversário. São 447 anos. A data tem um peso simbólico para muitos habitantes, em especial os ilhéus, para quem é uma altura de exibir e enaltecer a cultura local, assente nas tradições da “Kianda”.

25/01/2023  Última atualização 12H20
Por meio da música e da dança, o grupo União Mundo da Ilha passou a ser uma das principais referências de preservação das tradições do povo ilhéu © Fotografia por: DR

Para marcar o dia, o grupo carnavalesco União Mundo da Ilha realiza hoje, no Memorial António Agostinho Neto, um espectáculo.

O vice-presidente da Associação dos Naturais e Amigos da Ilha do Cabo (Anazanga), João Manuel, disse, segunda-feira, que vão aproveitar o convite do Governo Provincial de Luanda para mostrar que as tradições locais ainda continuam vivas entre as novas gerações.

Durante a homenagem, contou, vão ser apresentadas algumas peças que prestigiam a arte e a cultura do povo ilhéu, com principal realce para o Carnaval e o xinguilamento, prática que é parte dos costumes de Luanda, para venerar algo ou afastar o mal. O xinguilamento, esclareceu, serve ainda para abençoar qualquer tipo de actividade.

Actualmente sem realizarem muitas actividades para saudar as festas da cidade de Luanda, a ANAZANGA, adiantou, pretende recuperar, ainda este ano, parte da mística das "festas da ilha”, nas quais as bessanganas eram uma referência.

"Antes, as actividades decorriam até muito tarde. Cada um fazia a festa de forma diferente. Hoje, o acto perdeu parte do peso, para os demais habitantes da capital. Mas para os ilhéus não. Muitos continuam em busca da identidade cultural e tradicional”.

 

Histórias locais

A Ilha do Cabo  é um dos lugares mais emblemáticos  de Luanda, disse a ancião Beatriz António "Tia Loló”, um dos rostos conhecidos dos ilhéus, por ser a antiga rainha do grupo carnavalesco União Mundo da Ilha.

Para a anciã, a Ilha tem costumes próprios, a maioria assente na mística da "Kian-da”, a sereia que se tornou um símbolo da cidade capital, em torno da qual surgiram inúmeros mistérios, tradições e hábitos.

Os ilhéus, explicou, continuam a ser, maioritariamente, pescadores e os rituais dedicados à Kianda são parte da vida destes. "Já ouvi muitos mitos sobre a sereia. Cresci com receio e respeito de todos. Antes, os mais velhos contavam muitas histórias em torno dela, mulheres com cabelos longos e caudas de peixe. Às vezes duvidava, mas um dia a minha mãe foi ao mar, tomar banho, e viu uma, à  distância. Ela só conta que desmaiou”, disse, acrescentado que todo o nato ou descendente de ilhéus respeita as histórias sobre a Kianda.

 

Continuidade

As festas da ilha, adiantou, ainda são uma realidade, mas agora, de forma restrita e uma dinâmica diferente das anteriores. "Antes as festas, por serem associadas às actividades culturais, tinham maior simbolismo, inclusive muitas mães aproveitavam baptizar os filhos nesse período”, disse.

As actividades, revelou, eram realizadas antes pelos moradores, com apoio das bessanganas, que traziam comidas típicas da Ilha. "Apesar das inúmeras mudanças, os trajes e rituais ainda são parte das tradições da Ilha e das referências nesta data”.

  Artesãos mostram identidade em peças

As histórias dos ilhéus vão estar em evidência hoje, na Calçada da Ilha de Luanda, com trabalhos artísticos de diversos artesãos, cujas produções vão colocar em evidência parte da identidade local.

Desde O Pensador,  às imagens da sereia, ou da Palanca Negra, os artesãos decidiram juntar-se as festividades do dia da cidade de Luanda. O coordenador dos artesãos da ilha de Luanda, Matumona António, disse que pretendem realizar, hoje, uma Feira de Artesanato Urbano.

Os trabalhos são, para muitos deles, uma forma de mostrar ao mundo, parte da diversidade cultural da capital, em especial para os turistas que visitam Luanda, curiosos em conhecer mais sobre a arte e cultura angolana.

  Passagem de testemunho

A passagem de testemunho dos costumes da Ilha de Luanda tem sido assegurada pela nova geração, como defendeu, ontem, Esperança Miguel, de 64 anos, moradora e membro do União Mundo da Ilha.

Como uma prática de anos, passada de geração em geração, as festividades da Ilha de Luanda, disse a anciã, ainda perduram entre os moradores da Ilha do Cabo.

"Actualmente, são os jovens que têm seguido os passos dos mais velhos nesta data. Por regra, cada morador contribui com 500 ou mil kwanzas, para realização de um acto simbólico”, revelou.

 

Festas do Caculo

Uma das tradições antigas da Ilha de Luanda é a "Festa do Caculo”, que consiste em lançar comida ao mar, como forma de agradecimento e para que haja protecção e produtividade, como explicou Esperança Miguel.

 

Mitos da ilha

A Ilha, continuou, tem, também, vários mitos, além do habitual da Kianda, como o das pedras andantes, que para os mais velhos são lendas vivas.

"O preocupante é a falta de interesse por parte de alguns jovens, que não acreditam em certas histórias”, criticou Esperança Miguel.

A membro do União Mundo da Ilha destacou a importância da passagem de testemunho entre as gerações, para que os hábitos e costumes dos ilhéus não morram com os ancestrais.

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