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Restrições impostas pela Itália agravam risco de mortes no mar

As regras impostas pelo Governo italiano, como forma de travar o fluxo de imigrantes africanos, está a aumentar o drama daqueles que partem dos seus países em busca de um futuro melhor.

09/01/2023  Última atualização 10H20
© Fotografia por: DR

A descoberta do cadáver de uma mulher elevou, ontem, para três, o número de mortos no naufrágio de uma embarcação com cerca de 30 migrantes africanos junto às costas da ilha italiana de Lampedusa, na rota migratória do Mediterrâneo Central. Segundo a Efe, o corpo da mulher foi localizado por um pesqueiro tunisino que participava nas operações de resgate após se terem encontrado os cadáveres de uma criança de cerca de um ano e de um homem adulto, segundo a imprensa local.

A precária embarcação, que tinha saído da Tunísia, virou-se na sexta-feira a cerca de 38 milhas de Lampedusa, tendo sido resgatadas cerca de 30 pessoas, incluindo um recém-nascido transferido de imediato por um navio da Guarda Costeira para o Porto de Favarolo. Foi depois levado ao hospital, juntamente com outros três sobreviventes que se encontravam em estado grave, segundo as mesmas fontes, enquanto os restantes migrantes resgatados foram embarcados em navios da Marinha e da Guarda Costeira italianas.  A Procuradoria de Agrigento, na Sicília, abriu uma investigação sobre o incidente e irá ouvir os testemunhos dos sobreviventes.

Este resgate acontece numa altura em que o navio de resgate de migrantes "Ocean Viking", da organização SOS Méditerranée, recebeu autorização do Governo italiano para desembarcar no porto adriático de Ancona (centro), há cerca de quatro dias de navegação da zona onde resgatou no fim-de-semana 37 pessoas no Mediterrâneo Central As novas regras para o resgate de migrantes do Mediterrâneo impostas pelo Governo italiano estão a causar algumas dificuldades logísticas e humanitárias, acusam os responsáveis pelos navios que há anos patrulham estas águas à procura de quem possa estar em apuros numa embarcação precária.

 Este domingo, Roma atribuiu um porto de desembarque ao navio "Ocean Viking”, mas a distância que terá de viajar até poder desembarcar as pessoas que retirou do mar chega aos quatro dias. "O 'Ocean Viking' foi remetido para Ancona, na Itália, como Local de Segurança para os 37 sobreviventes a bordo. O porto fica a 1.575 quilómetros da área de operação — quatro dias de navegação", escreveu aquela Organização Não-Governamental (ONG) nas redes sociais.

 

O decreto da polémica

A organização garantiu que "a previsão do tempo vai piorar a partir da noite de domingo", pelo que esta decisão do Executivo presidido pela Primeira-Ministra Giorgia Meloni "expõe os sobreviventes a ventos fortes e mar agitado". A ONG lamentou então esta "nova estratégia" do Governo de Meloni, que classificou de "portos distantes" depois dos "portos fechados" que já em Novembro a haviam impedido de atracar na Sicília.

Em 28 de Dezembro, o Governo italiano aprovou um novo decreto com medidas para impedir e combater essas organizações de resgate de migrantes, que acusa de promover a imigração irregular. Em substância, o texto não impede o desembarque de imigrantes em Itália, mas complica-o, obrigando os navios das ONG a aceitar o porto designado, apesar de, como no caso de Ancona ou Ravenna, estar a centenas de quilómetros de distância. Os resgates das ONG continuam e nos primeiros cinco dias do ano já desembarcaram na costa italiana 2.556 imigrantes que partiram do Norte da África, contra 368 que o fizeram no mesmo período de 2022, segundo dados do Ministério do Interior.

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