Especial

Reformas económicas despertam interesse do sector privado francês

Faustino Henrique

Jornalista

As reformas económicas operadas pelo Executivo angolano despertam o interesse do sector privado francês, revelou, em Luanda, o conselheiro para os Assuntos Globais do Presidente de França, na antevisão à visita de Emmanuel Macron ao país, no âmbito de uma digressão africana, a partir de 5 de Março, que inclui, também, o Gabão, a RDC e a República do Congo.

26/02/2023  Última atualização 06H20
Conselheiro do Presidente francês para Assuntos Africanos destaca as relações com Angola © Fotografia por: DR
Josué Serres, que avançou a informação na sexta-feira durante um encontro com jornalistas, na Embaixada da França, disse que as "opções que se apresentam no âmbito bilateral, resultantes do potencial agrícola e industrial francês, assim como as potencialidades angolanas de  terras aráveis e água abundante, são oportunidades que Paris não quer desperdiçar”.

O conselheiro José Serres salientou que são "estes os principais focos da viagem do Presidente Emmanel Macron, dentro do estreitamento da parceria agrícola e do reforço da cooperação.

Acrescentou que as autoridades francesas pretendem fortalecer os laços com Angola no sector da Agricultura. A digressão de Macron , nesse sentido, vai incidir,  nos quatro países da África Central, sobre  questões de segurança e combate à desflorestação na Bacia do Congo.

Por outro lado, o conselheiro do Presidente francês para os Assuntos Africanos, Franck Paris, afirmou que "o Governo francês está interessado no fortalecimento da soberania alimentar de países como Angola, tendo em conta o crerscimento da parceria agrícola”.

O assessor do Chefe de Estado gaulês frisou que, em Angola, o Presidente e a delegação que o acompanha vai aproveitar para reforçar os laços políticos, diplomáticos, económicos e comerciais.

"A França quer consolidar a parceria agrícola, baseada na formação de técnicos e docentes do Instituto de Tecnologia Alimentar de Malanje (ITAA), contribuir para os esforços de industrialização para assegurar a capacidade de produção”, disse, destacando que, dessa maneira, querem contribuir para a segurança alimentar de Angola, a fim de ter capacidade, em termos de execedentes, para exportar.

O Presidente francês, continuou,  vai integrar na delegação representantes de grupos empresariais que, em Angola, vão ter "todo o gosto e oportunidade para interagir com os parceiros nacionais”.

"O sector privado francês espera que os parceiros angolanos estabeleçam as prioridades, para que possam, em conjunto, se afirmar no sector agrícola”, concluiu o conselheiro de Presidente Emmanuel Macron.

  As relações bilaterais em números

Com os investimentos franceses  estimados em 7,6 mil milhões de euros, a presença francesa em Angola é significativa, sendo o segundo maior investidor estrangeiro, depois dos Estados Unidos, devido aos investimentos feitos pela Total Energies, tornando-se também num dos principais empregadores privados no país.

Para se ter uma ideia dos números, existem 60 filiais francesas e 45 empresas criadas por franceses em Angola, empregando cerca de 10.000 pessoas.

Business France

Business France é a entidade responsável pelo desenvolvimento internacional das empresas francesas, pelos investimentos internacionais e pela promoção económica da França.

Em 2022, a Business France acompanhou 80 pequenas e médias empresas (PME) e empresas de média dimensão (IME) no mercado angolano.

Desde 2019, 30 jovens talentosos completaram uma missão de voluntariado empresarial internacional (VIE) em Angola e, em 2022, sete eventos colectivos foram organizados pela Business France para reunir as comunidades empresariais francesa e angolana.

 

Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD)

A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) apoia Angola nos seus esforços para diversificar a economia. Para este fim, a AFD trabalha com parceiros chave e o Governo angolano para promover o acesso à água e à energia, desenvolver o sector agrícola, apoiar a inovação, o empreendedorismo e a investigação, assim com tem  acompanhado as reformas macroeconómicas.

A AFD é o principal doador bilateral, tendo financiado 11 projectos em Angola, desde 2018, concedendo 806 milhões de euros em empréstimos e subvenções.

Os compromissos da AFD em Angola aumentaram de 219 milhões de euros, em 2018, para 806 milhões de euros, até ao final de 2022.

 

Ciência e Educação

A França é um país atractivo para o Ensino Superior, com 244 estudantes angolanos que beneficiaram de programas de bolsas de estudo em 2022.

Para além dos bolseiros do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET) e Quai d’Orsay-Entreprises, 8 estudantes beneficiaram de uma bolsa de doutoramento-estudo financiada inteiramente pela Embaixada de França em Angola, nos domínios da FLE (mestres de ensino à distância), Ciências Agronómicas e Tecnologias, em 2022.

Em 2022, 219 estudantes angolanos estavam a estudar em França com uma bolsa de estudo, enquanto que 1017 professores universitários foram formados no mesmo plano anual de formação.

Em parceria com a Universidade de Grenoble, foram formados mestres de ensino à distância (FLE) 1 e 2.

A França também tem uma política activa de educação em Angola. As 4 escolas públicas bilingues angolanas da rede Eiffel formam todos os anos centenas de estudantes do ensino secundário angolano de todos os meios sociais.

O Liceu Francês Alioune Blondin Beye, em Luanda, tem 967 estudantes (em 2023), 58 por cento dos quais angolanos, 23 por cento franceses e 19 por cento de outras nacionalidades.

 

  Cooperação cultural e linguística

Comummente referido como o país não francófono, estima-se que 15 por cento da população de Angola fala francês perfeitamente. Esta atracção pela língua francesa deve-se a razões geográficas, históricas e geopolíticas.

A atracção pelo francês reflecte-se nas escolhas de política linguística: o francês é proposto, juntamente com o inglês, como língua estrangeira obrigatória no ensino secundário. Estima-se que existam cerca de 250 mil alunos e 1.500 professores de francês no ensino secundário.

A Alliance Française de Luanda recebeu, em 2022, cerca de 3.000 estudantes. Vinte e sete eventos culturais foram realizados em Angola em 2022. Por exemplo, é a França que coordena, todos os anos, a programação do mês da Francofonia. Numerosos artistas angolanos são apoiados financeiramente para acompanhar iniciativas locais (hip hop, kizomba, moda, slam), a organização de digressões em Angola e residências para artistas visuais.

O Instituto de Tecnologia Alimentar de Malanje (ITAA) e o Instituto Agro de Montpellier estabeleceram uma cooperação científica com a assinatura, em 2008, de um acordo-quadro visando a formação do pessoal docente do ITAA, em Malanje, a mobilidade estudantil, a investigação e a criação de sinergias entre as redes científicas e académicas.

No domínio da Saúde e Género, a Embaixada francesa em Angola, que avançou os dados ao Jornal de Angola, apoia a associação Química Verde, que fornece água potável às populações rurais, graças a um biofiltro, e luta contra o absentismo escolar das raparigas jovens devido à falta de  higiene feminina.

 

Histórico das relações

As relações entre Angola e França começaram em Janeiro de 1977. Um primeiro acordo assinado em 1982 lançou as bases da cooperação bilateral. Desde então, tem continuado a expandir-se.

Esta aproximação tem vindo a ganhar um segundo vento desde que o Presidente João Lourenço chegou ao poder, fruto de um desejo comum ao mais alto nível, de estabelecer um acordo sólido, desde o primeiro encontro com o homólogo francês, Emmanuel Macron, em Julho de 2017.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Especial