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Reabilitação do antigo Campo de Concentração do Tarrafal inaugurada no sábado

A inauguração das obras de reabilitação do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha cabo-verdiana de Santiago, atual Museu da Resistência, vai decorrer este sábado, com alguns meses de atraso devido à pandemia de covid-19.

21/01/2021  Última atualização 14H55
© Fotografia por: DR
A informação foi avançada pelo Instituto do Património Cultural (IPC), recordando que o campo de Concentração do Tarrafal foi classificado pelo Governo de Cabo Verde como Património Cultural Nacional em 2016 e integra atualmente na lista indicativa de Cabo Verde na UNESCO.
Em declarações à agência Lusa em setembro passado, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, avançou então que está prevista a entrega da obra de reabilitação pelo empreiteiro na "primeira quinzena de Janeiro” de 2021.Trata-se do museu mais visitado em Cabo Verde, mas que está encerrado desde 09 de Março de 2020 para obras de reabilitação que deveriam levar oito meses a concluir, inseridas no plano do Governo para candidatar o espaço a Património da Humanidade.
Contudo, explicou Abraão Vicente, devido à pandemia de covid-19, nomeadamente na logística e "chegada dos materiais importados”, a obra acabou por parar e só começou a ser retomada em "finais de Julho”.A assinatura da consignação da empreitada no antigo campo de concentração, pelo Ministério da Cultura e Indústrias Criativas à construtora Vilacelos, empresa com sede em Barcelos, Portugal, através da sucursal em Cabo Verde, aconteceu no final de Fevereiro de 2020, sendo a obra realizada no quadro do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade (PRRA), através do Ministério das Infraestruturas, do Ordenamento do Território e Habitação.
O ministro da Cultura explicou anteriormente que a obra, de 29,5 milhões de escudos (265 mil euros), visa um dos requisitos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) para a candidatura a Património da Humanidade que o Governo cabo-verdiano pretende apresentar em 2021.O investimento implica a substituição de telhados das antigas celas comuns e pavilhões, e a criação de um percurso pelo interior do antigo campo de concentração, levando ao reforço da componente de museu, entre outros trabalhos.
Abraão Vicente disse que o objectivo da obra de reabilitação e da candidatura à UNESCO passa por "transformar um espaço que era triste e que devia envergonhar” num local de "orgulho”, desde logo para a população do Tarrafal.O ministro afirmou também que é necessário "ficar em paz” com aquele local, por exemplo na tarefa de, com as famílias, decidir sobre os restos mortais dos então prisioneiros que ficaram no Tarrafal.
O governante disse à Lusa, aquando do lançamento desta empreitada, que o Governo cabo-verdiano pretende construir no espaço um memorial aos que estiveram ali encarcerados durante o Estado Novo e vai fazer um levantamento para apurar se ainda há restos mortais de antigos prisioneiros por transladar.O ministro recordou que as vítimas mortais do espaço, que ficou conhecido como "campo de morte lenta", foram enterradas ao longo dos anos no cemitério municipal do Tarrafal, localidade no norte da ilha de Santiago.
O Tarrafal recebeu mais de 500 pessoas, entre 340 antifascistas e 230 anticolonialistas. Destes, 34 morreram no local.Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de Outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.
Em 1962, foi reaberto com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, escola e desde 2000 alberga o Museu de Resistência.

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