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Ramos-Horta compara papel da China ao da URSS no século XX

O Chefe de Estado de Timor-Leste, José Manuel Ramos-Horta, comparou o papel da China no mundo actual, um Estado com o qual os países do Global Sul sempre podem contar, ao da URSS no século XX.

05/06/2023  Última atualização 09H44
Ramos-Horta pede mais apoio aos países pobres © Fotografia por: DR

O líder de Timor-Leste fez estas declarações domingo, no fórum de segurança da região da Ásia-Pacífico, Diálogo de Shangri-La, em Singapura.

"No início dos anos 90, conheci [...] um jovem diplomata da Somália. Conversamos muito sobre os pro-

blemas que estavam a preocupar o mundo na época. Ele me disse: 'Olha, a União Soviética entrou em colapso e não temos ninguém a quem recorrer para obter ajuda real agora” contou Ramos-Horta na cimeira.

Ramos-Horta disse que, durante a época da União Soviética, os países ocidentais apenas "davam palestras sobre direitos humanos e se recusavam a ajudar", mas estes podiam se dirigir a Moscovo e conseguir ajuda.

'Agora estamos sozinhos, não temos ninguém a quem recorrer, ninguém para nos ajudar', disse-me esse diplomata na época", continuou ele, observando que isso não se referia apenas à Somália, mas ao Global Sul, cujo desenvolvimento foi muito afetactado pelo colapso da URSS.

Avaliando a situação actual do Global Sul como pobre, Ramos-Horta observou que, sem assistência externa, muitos países da região correm o risco de cair na pobreza e no caos, enquanto os países do Norte continuam a enriquecer, mas não fornecem assistência suficiente ao Global Sul em questões cruciais, como a garantia de acesso à água potável, a crise de segurança alimentar nesses países, a saúde e a educação, para as quais o Global Sul não tem recursos próprios.

"Se voltarmos a 2023, veremos que a China é agora uma potência mundial e um ímã para o Global Sul. Não vejo o meu amigo somali há muito tempo, mas ele provavelmente diria o seguinte hoje: 'Agora não estamos sozinhos. Agora estamos indo [pedir ajuda] à China'", disse o Presidente de Timor-Leste.

Os países que agora ocupam assentos no Conselho de Segurança da ONU, no Grupo dos Sete (G7) e no G20, de que o Brasil faz parte, não demonstram grande sabedoria e liderança ao lidar com questões globais, muitas das quais são mais graves no Global Sul, aponta Ramos-Horta.

"É claro que a ajuda chega, mas grande parte dela não chega aos beneficiários", disse este, explicando que enormes quantias de dinheiro destinadas à ajuda real são gastas com especialistas e analistas que realizam estudos intermináveis para avaliar a situação e as áreas do Global Sul que mais precisam de ajuda.

"Bilhões de dólares estão a ser  investidos no conflito na Ucrânia e gastos para atender a milhões de refugiados ucranianos na Europa, mas não vemos nenhuma mobilização semelhante de compaixão pelas pessoas dos países em desenvolvimento que sofrem com a enorme dívida externa, as terríveis consequências da pandemia da COVID-19, a inflação, as quedas do mercado de acções, o disparo dos custos de transporte e assim por diante", afirma Ramos-Horta.

Delineando uma situação em que os governos dos países ricos não estão a fazer o suficiente para resolver os terríveis problemas dos países em desenvolvimento, o líder timorense clamou as pessoas mais ricas do Global Norte e do Global Sul a reunirem esforços e capital para ajudar as pessoas dos países em dificuldades.

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