Política

Questões laborais lideram casos de violação dos direitos humanos

Nilza Massango

As questões de maior conflito, no país, em matéria de violação dos Direitos Humanos por parte das empresas, têm a ver com os direitos dos trabalhadores, sobretudo com as condições de trabalho, garantia do direito à greve e à filiação sindical, afirmou, ontem, em Luanda, a secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Ana Celeste Januário, na abertura da terceira edição do Fórum Internacional sobre Empresas e Direitos Humanos

30/11/2023  Última atualização 10H13
Ana Celeste Januário (segunda à direita) discursou na abertura do fórum realizado em parceria com a Embaixada da Noruega © Fotografia por: Edições Novembro
Ao discursar no evento, realizado numa parceria entre o Ministério da Justiça e dos Direitos humanos e a Embaixada do Reino da Noruega, Ana Celeste Januário alertou  sobre o grande perigo, particularmente aos direitos dos trabalhadores com a entrada dos actores do sector empresarial, tidos como possíveis e prováveis violadores dos Direitos Humanos.

"Tradicionalmente dizia-se que o principal violador dos Direitos Humanos eram os Estados. Hoje, com a entrada de novos actores, não estatais, aumentou o leque de responsáveis pela violação e abusos desses direitos”, sublinhou, dando atenção também ao direito à protecção ambiental, onde no exercício das suas actividades as empresas são chamadas a respeitar o ambiente e as suas normas para o bem da comunidade, a responsabilidade social, o apoio e suporte às comunidades, sobretudo àquelas que vivem próximo dos locais em que as empresas actuam.

Sobre o que Angola tem feito, além de aderir, em 2022, à Iniciativa de Transparência nas Indústrias  Extractivas, Ana Celeste Januário referiu que em matéria de Direitos Humanos o país tem implementado as seis recomendações do Comité das Nações Unidas sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, sobretudo que têm a ver com o diálogo entre o Estado, empresas e comunidade e a criação de planos de acção específicos para se fazer um trabalho fundamentalmente de disseminação.

Nesta perspectiva, a governante frisou que são realizados, também, fóruns para a busca de boas práticas e que o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, enquanto coordenador da Comissão Intersectorial de Elaboração de Relatórios Nacionais de Direitos Humanos, tem realizado várias actividades e encontros de reflexão sobre os mecanismos de interligação entre negócios, empresas e Direitos Humanos.

"Neste fórum vamos passar a experiência de Angola e recolher, sobretudo, a da Noruega, um país que tem boas práticas e um trabalho bem referenciado sobre a matéria, e que foi precursor de várias propostas de resolução à nível das Nações Unidas, ligadas à protecção do ambiente, aos negócios, gestão das empresas e Direitos Humanos”, justificou.

Experiências da Noruega

Ao intervir na sessão de abertura, o embaixador do Reino da Noruega em Angola, Bjornar Dahl Hotvedt, destacou que a Lei da Transparência que entrou em vigor em Julho do ano passado, no seu país, é um bom exemplo, pois obriga as empresas norueguesas a realizar com regularidade diligências de vida para assegurar que haja uma conduta de negócio responsável nas políticas das mesmas e que se identifiquem potenciais riscos aos direitos fundamentais, bem como o dever de assegurar que o público tenha acesso às informações sobre como as empresas mitigam estes riscos.

Ao se dirigir aos demais participantes, com realce para o secretário de Estado para os Recursos Minerais, Jânio Víctor, o diplomata norueguês destacou também os passos significativos que Angola tem dado no sentido de aumentar a transparência e a responsabilidade das empresas.

A título de exemplo, Bjornar Dahl Hotvedt citou a adesão de Angola à Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas, que junta os governos, as empresas  e a sociedade civil, com o objectivo de criar padrões para divulgar informações relevantes ao longo da cadeia de valor da indústria petrolífera e mineira.

O diplomata referiu que, actualmente, as empresas que adoptam princípios éticos, garantem uma maior reputação e, por isso, são as que atraem os melhores funcionários, mais clientes, e garantem uma maior sustentabilidade.

"Nas edições anteriores foram abordados os passos que têm sido dados na Noruega no sentido de aumentar cada vez mais a incorporação de princípios éticos e de respeito pelos Direitos Humanos em toda a cadeia de valor das empresas”, lembrou,  acrescentando que é através da cooperação que se consegue mostrar que nos tempos em que vivemos, o respeito pelos Direitos Humanos não representa um desafio, mas uma oportunidade.

Por este motivo, disse que eventos como este seminário são importantes e necessários, pois constituem oportunidades para que os diferentes actores se sentam à mesma mesa, possam discutir os desafios comuns, manifestem as suas preocupações e soluções, bem como estabeleçam padrões para a sua actuação.

Neste âmbito, frisou que Angola e a Noruega têm tido uma longa e frutífera cooperação na área dos Direitos Humanos, lembrando que, em Julho deste ano, os dois países assinaram um acordo para o início da terceira fase da referida cooperação, que vai estar voltada a apoiar Angola na implementação da Estratégia Nacional dos Direitos Humanos.

Acredita que para se ter êxitos nesta matéria é preciso ser-se proactivo, compreender as mudanças que ocorrem no mundo e os desafios que estas mudanças colocam. Foi assim, segundo o diplomata, que se percebeu que havia a necessidade de engajar as empresas, que neste momento são importantes, como as principais geradoras de riquezas e inovação.

Bjornar Dahl Hotvedt  disse ser inegável a necessidade das empresas e que a questão que deve ser discutida é sobre como as empresas podem adaptar a sua actividade de maneira em que respeitem os Direitos Humanos, protejam o ambiente, empoderem as suas comunidades e gerem riquezas e bem-estar para todos.

O diplomata definiu o seminário sobre as Empresas e Direitos Humanos, que se insere no Plano de Implementação da Estratégia Nacional dos Direitos Humanos de Angola,  como sendo parte do leque de iniciativas importantes que promovem o diálogo e a busca das melhores soluções  para a promoção e protecção dos Direitos Humanos.

"Estou convencido de que vai contribuir na implementação da Estratégia angolana dos Direitos Humanos”, frisou.

No fórum, que decorreu sob o lema "Construindo pontes entre as Empresas e os Direitos Humanos”, participaram, entre outros, representantes de diferentes empresas que actuam no Agro-negócio, sector de Extracção Diamantífera, de Exploração Petrolífera e Segurança.

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