Entrevista

“Quero ser lembrado pelo conjunto da minha obra”

Com uma vasta experiência profissional e de vida, Octaviano Guedes Correia, de 81 anos, na passada quinta-feira foi o convidado de mais uma edição do programa “Textualidades - Conversa com Leitores”, uma tertúlia promovida pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto, que junta escritores e leitores. Octaviano Correia recebeu-nos em sua casa, na Centralidade do Kilamba, onde reside actualmente, depois de ter vivido 28 anos na ilha da Madeira, em Portugal. Apesar da idade, o nosso entrevistado continua com uma capacidade de discernimento e uma fluidez vocabular de invejar.

16/05/2021  Última atualização 08H30
© Fotografia por: Maria Augusta|Edições Novembro
O que procura transmitir às novas gerações?
Quando tenho essa possibilidade, procuro sempre transmitir a minha experiência profissional. Escrevia crónicas e histórias infantis para o programa Rádio Piô, da Rádio Nacional de Angola (RNA), onde tive uma experiência muito interessante. Lembro-me que em 1986, depois de ter contado uma história que achava ser maravilhosa, mas que não tinha piada nenhuma para a cantora infantil Gisela Góis, que na altura fazia parte do programa, perguntei-lhe por que razão não gostou e ela disse-me que no país não existiam fadas, mas feiticeiras. Foi assim que refiz os meus escritos. A partir da sinceridade daquela criança, dei uma reviravolta. Aprendi que deveria escrever para as crianças angolanas. Os encontros com os mais jovens, porque também me sinto jovem, servem para partilhar a minha vivência com as novas gerações.

O que significa, para si, o regresso ao país duas décadas depois de estar a viver na Madeira, em Portugal?
Foi uma questão familiar que me levou a ir viver na Madeira. A minha mulher é madeirense, naturalizada angolana desde 1976. Como tinha alguns problemas com a família da minha mulher, decidi fixar residência em Portugal por 28 anos. Estava na Madeira de corpo, mas a minha alma sempre esteve ligada ao meu país. Regressar a Angola tem para mim um cheiro à terra molhada. Tinha que voltar às minhas origens, porque é aqui onde estão as minhas verdadeiras vivências. E também foi sempre o desejo da minha mulher retornar ao país.

Com o passar do tempo, há cada vez mais dificuldades de as pessoas conseguirem adquirir as suas obras. Isso o preocupa?
É verdade. Não apenas as minhas obras, mas de outros escritores angolanos da minha época, porque deixaram de existir editoras que pudessem publicar os livros. Havia muitos entraves para se colocar um livro aqui no mercado. Muitos acabavam por os mandar produzir no estrangeiro, o que tornava as coisas mais complicadas, porque as editoras acabavam por enviar poucos livros. Elas preferiam fazer o lançamento e a comercialização onde os livros eram produzidos. Hoje, as coisas no país parecem já estar a mudar. Temos algumas editoras com alguma qualidade que têm procurado criar uma outra dinâmica na produção e edição de livros de autores nacionais. Outro problema foi o desaparecimento das livrarias no país, como a Mensagem, Lello e Miruí. Esses espaços desempenhavam a função de promotores do livro e da leitura. As crianças tinham sempre o contacto com as figuras ilustradas nos livros, contavam-se histórias e faziam-se pequenas exibições teatrais com base nos contos publicados. Actualmente, encontramos os livros nos supermercados, onde não há ninguém que nos possa orientar. Os livros não se vendem a metro ou a peso. Sempre sugeri que esses centros comerciais devem fazer parcerias com os escritores para a realização de encontros com o público e ajudar na promoção dos livros e a criar hábitos de leitura, sobretudo, nas crianças. Os livros deveriam ser também promovidos nas escolas, o que não tem estado a acontecer com a regularidade desejada. Muitos professores não têm conhecimento do que tem sido produzido pelos escritores, por falta de um Plano Nacional de Leitura eficaz, sobre os livros que devem ser adoptados nas escolas.

Como gostaria de ser lembrado quando partir para a eternidade?
Poderiam até esquecer o meu nome, mas gostaria de ser lembrado pelo conjunto das minhas obras. Desde que elas fossem lidas, publicadas, trabalhadas, encenadas e divulgadas às novas gerações.

O interesse pelos livros e a leitura já foi mais intenso no passado, hoje parece existir um retrocesso. Por que razão?
Quando estive no INALD, actual INIC, realizávamos o Jardim do Livro Infantil, no antigo Parque Heróis de Chaves, com a montagem de pequenas tendas de livros, pequenos palcos de performances de cantores piô, incluindo recitais de poesia. Tudo isso fazia parte de uma vivência entre as crianças. Antigamente, a União dos Escritores Angolanos (UEA) e o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) editavam livros e os mesmos esgotavam, porque se tinha a cultura da compra dos livros. As editoras portuguesas também participavam dos eventos e havia diversidade de obras literárias.

Mas na época não existia a concorrência das novas tecnologias de informação, que se globalizaram…
Isso também é verdade. Hoje as crianças lêem os livros pelos computadores, o que não é o mesmo que manter o contacto físico. Folhear um livro nunca será a mesma coisa que ler pela Internet. Hoje, as novas tecnologias retiraram a magia do contacto com a história do livro, rever o personagem, regressar à página anterior, tornar o livro num companheiro de diálogo permanente. As crianças deveriam ter mais contacto com os escritores nas escolas, para a troca de experiência. Seria uma forma de ajudá-las a ganhar o gosto pelos livros e pela leitura. Felizmente tem estado a existir um fenómeno positivo actualmente. O aparecimento de bibliotecas de rua, que vão ao encontro dos leitores em locais pouco convencionais, como nas zonas periféricas. Um exemplo positivo tem sido desenvolvido pelo jornalista Rui Ramos, que tem feito um trabalho do género, não apenas por Luanda, mas pelo país. Variadas pessoas têm seguido o seu exemplo e têm sido um incentivo à leitura.

Como avalia o estado da literatura, no geral, e em particular a infantil, no país?
Continuamos a ter bons autores, embora não estejam a escrever com alguma regularidade. Antes da independência, havia vários escritores angolanos com textos para serem publicados, mas na época era muito difícil, pelo contexto em que o país se encontrava, sobretudo, por causa da censura colonial. Depois deste período, começou a existir uma maior liberdade, o que permitiu o surgimento de muitos escritores a publicarem os seus escritos. Com as responsabilidades que muitos deles foram ocupando no aparelho do Estado, começaram a ter cada vez menos tempo para se dedicarem à produção de obras literárias. O Pepetela, o Lopito Feijoó e o Ondjaki… este último gostaria de o ver a escrever muito mais… É natural que houvesse um abrandamento na publicação de livros por causa do contexto. Porém, na literatura para crianças já não éramos muitos, agora somos ainda menos. Uns porque já morreram e outros por dificuldades para publicarem um livro.
 
Citou o escritor Ondjaki como uma das principais referências da literatura moderna no país. Porquê?
O Ondjaki neste momento tem dado uma reviravolta à literatura angolana, na sua forma de escrita e de brincar com a língua portuguesa.  Comparo-o um pouco com a escrita de Mia Couto e, se calhar, também é pouco compreendido em Portugal. Para mim ele está a criar uma nova forma de escrever a literatura angolana, numa escrita baseada na forma de pensar, as frases e os termos novos, próprios da sua época. Eu provavelmente já começo a ter dificuldades de compreender essa nova forma de escrita e de vocabulário que o Ondjaki introduz na sua literatura. Embora não tenha muita coisa publicada, acredito serem alguns dos factores que o têm diferenciado. Gosto muito dos escritores Luandino Vieira, Agostinho Neto, Boaventura Cardoso, Pacavira e Uanhenga Xitu.

E quais são as boas referências da literatura infantil, que persistem no tempo?
Ainda continuamos a ter boas referências na literatura infantil, como são os casos, só para citar alguns, da Cremilda de Lima e da Maria Monte. Outros, como eu, têm estado a explorar mais as novas tecnologias de informação para dar a conhecer os trabalhos, através das redes sociais. Tenho mantido o contacto com alguns pais, que muito têm feito para incentivar os filhos ao gosto pelos livros. Há três crianças, que devem publicar os seus livros que foram revisados por mim, com muita qualidade na escrita.
 
Sempre defendeu que para se produzir um livro não se precisa de milhões…  
Na minha época, fazia-se livros com muito pouco e com qualidade. A UEA e o INALD, após a independência, faziam milagres. Conseguiam fazer muito com pouco. Os livros eram vendidos e tinham o retorno financeiro. Não era preciso serem produzidos com papel luxuoso ou capa dura, embora reconheça que o facto de o livro infantil ter ilustrações o torna mais dispendioso. O livro é um bem cultural de transmissão de conhecimentos. Acredito que um dos maiores problemas das instituições seja financeiro. Antigamente, os escritores não pagavam pela produção do livro, mas recebiam os direitos de autor provenientes da venda por parte das editoras. Hoje, o escritor tem que pagar uma percentagem, o que inibe a produção de livros no mercado literário nacional, porque os autores não têm dinheiro para custear as despesas. As editoras também estão com dificuldades para satisfazer o mercado. Antigamente, as livrarias portuguesas questionavam como era possível em Angola venderem-se tantos livros.
 
Defende que os livros dos escritores angolanos deveriam estar inseridos no currículo do ensino primário. Porquê?
Defendo essa ideia porque é de pequeno que precisamos incutir os bons hábitos às crianças. Conheço a Madeira, não por passeios, mas porque tive a oportunidade de estar em quase ou mesmo todas as escolas do ensino primário. Recebia muitos convites que me permitiam estar sempre em contacto com as crianças, numa permuta geracional. Isso me permitiu contar histórias aos pequenos. Foi uma experiência muito importante ao longo desses anos como escritor. Fui com os meus livros às creches. As crianças devem ter contacto com os livros desde os primeiros anos de vida para criar o gosto pelos livros. Nas classes subsequentes a leitura deveria ser obrigatória.

Cresceu a ouvir histórias ou foi com o passar dos anos que começou a ter contacto com os livros?
Vou contar uma história engraçada. Quando era criança, a minha mãe contava-me histórias para eu comer, se calhar foi uma das coisas que me motivou a gostar dos livros e de histórias. A minha mãe reinventava histórias, porque estava cansada de ouvir os mesmos contos. Hoje em dia os pais, por vários motivos, já não têm essa mesma dedicação com os filhos. Sempre contei histórias aos meus filhos, algumas vezes adormecia primeiro que eles. Tornou-se uma cultura familiar, e ainda conto histórias aos meus netos com o auxílio da minha mulher.
 
Como se dá a sua participação na colectânea "Poesia Angolana de Revolta”?
Essa antologia era para ser publicada antes da independência, saiu apenas depois da proclamação da independência, numa altura em que se assistia ainda a alguma repressão no país. O meu poema "África” foi publicado na página literária do então A Província de Angola, actual Jornal de Angola, em que o Carlos Everdosa era o responsável. Como já escrevia algumas coisas entreguei-lhe o poema para ser publicado. Ele retorquiu, e disse-me que aquele poema iria trazer problemas. O poema foi à censura e pediram-lhe para retirar o título "África”. Acho que o Carlos Everdosa teve problemas por não ter obedecido às ordens. Até hoje não sei se foi mesmo ou não castigado. Por causa deste escrito fui convidado a entrar na UEA, entre os meses de Setembro e Outubro de 1975, a convite do escritor António Jacinto. Era o único escrito que tinha. Não tinha ainda nenhum livro publicado na época.
 
Como se explica ter uma formação em Geologia, mas ser na literatura e na rádio onde mais se destaca?  
Não me considero exactamente um escritor, nem radialista, muito menos jornalista. A minha profissão é auxiliar de Geologia, que no fundo está interligada com tudo o que faço até agora. Porque quando a exercia, não ficava confinado no gabinete. Tinha contacto com a natureza, as montanhas e vivências com as comunidades. Foi uma das grandes experiências que tive enquanto trabalhei neste ramo. A minha formação não passou do 7º ano do antigamente, como tenho dito, e ainda me falta terminar duas disciplinas em Geologia. O resto aprendi com a vida. Fiz apenas um estágio na Universidade Agostinho Neto, no curso de Ciências, durante dois meses, vindo da Faculdade de Letras no Lubango. Trabalhei 14 anos em Geologia e já sabia mais que os próprios alunos. Essa minha experiência ajudou-me a conhecer um pouco o país. Na tropa portuguesa, também viajei muito pelo interior do país e tive experiências culturais gratificantes, sobretudo, na minha passagem pelas Lundas. Aprendi provérbios, histórias e contos populares.
 
A história de amor dos seus progenitores dava um bom romance. Nunca pensou na possibilidade disso?
[Risos]. Por acaso tenho pensado em algumas coisas, mas não tão sério. Não me vejo na condição de escrever sobre mim. Posso fazer da história dos meus pais algo romanceado sobre alguns aspectos da minha vida. Penso que tenho uma volta de vida engraçada, como costumo dizer. O pai veio das terras do norte de Portugal nos finais dos anos 1930. Padre católico, 37 anos, desembarca em Moçâmedes. Dois anos depois pede dispensa de votos para casar com uma jovem moçâmedense, mais nova, de 19 anos, que cantava no coro da Igreja de Santo Adrião. A família da minha mãe era bastante conhecida na sua terra. Aquele romance foi um escândalo na época. Um padre vindo de Portugal deixou de o ser para casar com uma jovem de 19 anos, filha de uma das mais conhecidas famílias de Moçâmedes. A solução foi sair de Moçâmedes e rumarem ao Lubango, onde eu e o meu falecido irmão nascemos. O meu irmão também trabalhou na Rádio Clube da Huíla, RNA (Luanda) e na Luanda Antena Comercial (LAC). O meu pai já tinha alugado um hotel. Provavelmente poderá sair alguma coisa, não como autobiografia, mas como um romance. Teve uma época em que se tivéssemos que dar um golpe de Estado o faríamos, porque toda a minha família chegou a trabalhar na rádio.
 
Como foi que entrou para a Rádio Clube da Huíla?
Trabalhei como fiscal de impostos nos Serviços de Finanças, um dos piores empregos. Tinha que estar atrás das pessoas a cobrar imposto. Era uma coisa horrível para mim. O meu amigo Leonel Cosme, como já me conhecia, convidou-me para escrever mensalmente algumas crónicas para a Rádio Clube da Huíla, nos finais da década de 1960. Depois convidaram-me para fazer locução e um programa para crianças. Como repetia as mesmas coisas por falta de conteúdos, começo a escrever histórias para o programa "Parque Infantil”, da mesma estação.  Em 1973 viajo de férias para a Madeira e no regresso ingresso para a Faculdade de Ciências. Depois da minha passagem pelo INALD, sou novamente convidado para fazer locução na RNA, já na década de 1980, no programa infantil Rádio Piô. Neste período, volto a escrever contos semanais, juntamente com Gabriela Antunes, Zé Irineu e uma das minhas filhas. Quando fui para a Madeira conheci pessoas que tinham estado em Angola, já sabiam que escrevia para programas infantis e convidaram-me para escrever para a página infantil do Jornal da Madeira. O jornal tinha uma emissora e volto novamente a fazer programas para crianças na Rádio Jornal da Madeira, onde contava histórias e fazia rádio-teatro. Costumo dizer que a rádio tem um bichinho que quando morde, já não paramos de o fazer.
 
Mário António, Geraldo Bessa Victor e Alda Lara podem ser considerados os grandes representantes da poesia angolana, sobretudo, no incoformismo à colonização portuguesa?
O Mário e o Geraldo foram os primeiros a utilizar uma linguagem angolanizada na construção dos seus escritos, que desvirtualizava os padrões do português de Portugal. Introduziam termos em Kimbundu e Umbundu. Já Alda Lara enquadra-se mais na maneira como compunha as suas poesias. Nós temos uma forma própria e diferente de escrever. Temos particularidades únicas na linguagem e na própria construção dos textos que nos diferenciam dos escritores portugueses. Isso às vezes é difícil explicar. Por exemplo, o meu pai tinha um hotel no Lubango e convivia muito com as crianças da época, que prestavam serviços e que eram os meus companheiros de brincadeira. Agora nem tanto, mas no passado falava com alguma fluidez o Nhaneca, por influência dos meus amigos. Toda a minha vivência de miúdo foi com aqueles que prestavam serviços no hotel do meu falecido pai. E por essas vivências altera-se a forma de ser e estar, o que, depois de muitos anos, tem um impacto directo na forma de escrita e fala, que nos vai distinguir do escritor português.
 
Como descreveria o futuro da literatura angolana?
Não sou capaz de fazer futurologia, mas tenho uma esperança em dias melhores. Penso que neste momento os escritores angolanos começam a ressuscitar. Têm estado a participar mais em diversos encontros sobre literatura. A Academia Angolana de Letras e a União dos Escritores Angolanos têm estado a fazer alguma coisa, como homenagear escritores já falecidos, e não só. Essas pequenas iniciativas têm permitido o renascimento de escritores que andam há muito tempo no silêncio. Sinto que estamos diante de uma nova fase. A pandemia da Covid-19 também não tem facilitado muito a materialização das actividades culturais.

"O Cristiano Ronaldo fugia às aulas para ir jogar a bola”
Sei que foi um dos poucos a entrevistar a mãe do Cristiano Ronaldo, quando esteve a trabalhar para o diário Jornal da Madeira...

É verdade. Não falamos muito do Cristiano Ronaldo, porque o objectivo da entrevista era falar da trajectória de vida de dificuldades e superação da sua mãe. Queríamos saber, diante de tais vicissitudes, como o Ronaldo e os irmãos foram criados. A família de CR7 era pobre, não tinha dinheiro e o pai bebia muito. Se reparar, o Ronaldo tem feito muitas acções solidárias, porque não quer que outras crianças vivam os mesmos traumas pelos quais passou. Ele tinha uma professora que, felizmente, cheguei a conhecer, que faleceu há dois anos. Ela estava sempre atrás do Cristiano para o incentivar a estudar, porque acreditava que no futebol não teria futuro. Ele gostava de fugir às aulas para ir jogar o futebol. Quando começou a ganhar dinheiro ofereceu uma mansão à sua antiga professora, que tinha uma reforma feita pelo jogador e que não era pouco dinheiro. Queríamos saber o que aconteceu, mesmo com todas as dificuldades, para o Cristiano se tornar um dos melhores atletas de todos os tempos do futebol português e mundial. Teve que ir jogar no Sporting porque passava fome e viu no futebol uma das soluções para se safar das amarguras familiares, até porque o pai prestava pouca assistência à família.
 
Actualmente como tem ocupado os tempos livres?
Actualmente já não faço rádio e estou exilado na Centralidade do Kilamba, como diz o meu amigo Dario de Melo. Estou em negociações com uma rádio nova para fazer programas literários e quero convencê-los a fazer um programa infantil, mas ainda não está nada definido. Neste momento colaboro apenas para empresas que me solicitam para a correcção de textos diversos. Tenho uma página interactiva no facebook, onde divulgo todos os domingos a vida e obra de vários escritores angolanos já falecidos. É uma forma que encontrei de homenagear esses autores, muitos deles pouco conhecidos. O David Coelho funciona como um guia para mim em matéria de fornecer dados importantes sobre os escritores nacionais e não só. O meu pai tinha muitos livros que se perderam na guerra no Lubango e os que eu tinha na Madeira queimaram-se num incêndio florestal no Funchal. Os meus tempos de lazer são basicamente ler e escrever, por causa da minha profissão. Já caminhei mais, agora muito menos. Gosto de assistir programas televisivos, como o Nacional Geográfico e novelas que retratam a vivência dos povos no campo e todo aquele contacto com a natureza. Cada vez com menos frequência acompanho os noticiosos. A minha mulher diz que cozinho muito bem. Aprendi a cozinhar quando trabalhava  no Jornal da Madeira à noite e a minha mulher era docente na universidade. Como ficava mais tempo em casa, cozinhava porque a minha mulher vinha sempre a casa almoçar. A minha empregada é especialista em fazer comidas típicas angolanas e aos finais de semana gosto de apreciar uma boa muamba, quer de dendém, quer de ginguba.

PERFIL
Octaviano Guedes Correia nasceu aos 25 de Fevereiro de 1940, no Lubango. É casado com a bióloga Lina Correia desde 1963. Uma relação que gerou cinco filhos.
Em 1961 foi incorporado na tropa colonial e ficou quase quatro anos com a farda colada ao corpo entre o Norte, Lunda e Luanda. Octaviano Correia regressa ao Lubango e liga-se à Rádio Clube da Huíla, onde fazia programas para crianças e um dedicado aos problemas do subúrbio, o "Aqui Lubango”, que a polícia política portuguesa manda suspender.
E depois um dia, em 1974, acordou e o mundo tinha mudado de repente. Acontecera o 25 de Abril. E o mundo nunca mais parou de mudar. E posteriormente aconteceu o 11 de Novembro de 1975, quando, segundo diz, o mundo deu uma nova reviravolta: "Ganhei uma Pátria na terra que já era a minha”.
Octaviano Correia é membro-fundador da UEA (1975), da Associação dos Escritores da Madeira (1989) e da Academia Angolana de Letras (2016).  
Em 1980-81 foi director do  INALD. Na RNA realizou, durante três anos, o programa diário para crianças "Rádio Piô”, o programa "Onda da Manhã” e a rubrica literária semanal "Boa Noite - Boa Leitura”. De 1988 a 2016 residiu na Ilha da Madeira, tendo sido coordenador do suplemento juvenil "Bem Me Quer”, no Jornal da Madeira.
Octaviano Correia escreveu, pode considerar-se, uma extensa obra literária, da qual sobressaem os títulos: "Fizeste fogo à viúvinha”; "Era uma vez que não conto outra vez”; "O esquilo da cauda fofinha e o dendém apetitoso”, "O país das mil cores”; "O reino das rosas libertas”; "O patinho que não sabia nadar”; "Amizade de leão não se faz com traição”; "Luchila a gotinha de água”; "O desvivente”; "A avó que nasceu duas vezes” e "O bicho dos relvados”.

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