Faltam a partir de hoje 55 dias para os angolanos exercerem o seu direito de voto. No dia 24 de Agosto, todos os caminhos dos cidadãos maiores de 18 anos vão parar à mesa de escrutínio. As listas iniciais dos candidatos, segundo uma fonte ligada ao processo, estão colocadas “ab aeterno” e, em princípio, até dia 5 de Julho, os partidos concorrentes devem suprir as insuficiências, caso haja.
O julgamento do “caso Lussati”, que envolve militares e funcionários civis ligados à então Casa Militar do Presidente da República, desde há algum tempo redenominada Casa Militar, começou ontem em Luanda no Centro de Convenções de Talatona, em Luanda.
Ao contrário do que querem fazer-nos crer os ideólogos do capitalismo tecno-financeiro global e hoje dominante (também chamado neoliberalismo), a História, obviamente, não acabou nem pára. Por isso, alguns deles não escondem, agora, que o modelo deve ser imposto mesmo à custa de guerras e expansionismos, confirmando que, ao contrário (talvez) do “velho e bom liberalismo”, o actual não gosta de pessoas (prefere robôs e algoritmos).
O mais recente exemplo de que a História não terminou aconteceu no último domingo na Colômbia: pela primeira vez na história desse país latino-americano, um candidato progressista, Gustavo Petro, foi eleito presidente da República; ao mesmo tempo, e também pela primeira vez, uma mulher negra, igualmente progressista, Francia Márquez, foi eleita vice-presidente.
Ou seja, os "nadies” (zés-ninguéns) ganharam. A Vice-Presidente eleita resumiu assim esta inédita ocorrência, depois de mais de 200 anos de Governos elitistas (cito de cor): -"Esta foi a vitória dos despossuídos, dos pés descalços, dos que nunca tiveram nada, dos ´nadies´, dos povos originários, do meu povo negro, das comunidades discriminadas de LGBTQ+ e de todos os colombianos!”.
Insisto no seguinte detalhe: a vitória de Petro e Francia é particularmente notável, tendo em conta que a sociedade colombiana é, historicamente, das mais elitistas e conservadoras da América Latina. Ao assistir aos actuais acontecimentos, não pude deixar de evocar uma conversa que tive em tempos com a mãe de um amigo colombiano, uma senhora simpática e gentil, que me jurou que na Colômbia não havia (?) negros. Eu, que só via negros na selecção colombiana de futebol, calei-me, por uma questão de boa educação.
Mencionar o conservadorismo, o elitismo e o racismo das classes dirigentes colombianas talvez seja pouco. O escritor José Maria Vargas Vila, por exemplo, relatava que os ditadores da Colômbia molhavam o punhal em água benta antes de assassinar alguém. A verdade é que, ao longo de toda a sua história, o país foi governado por elites brutais e sanguinárias, responsáveis por um regime baseado no terrorismo de Estado, assim como na cumplicidade com o narcotráfico e a violência das milícias.
Os "nadies” e as forças progressistas sempre se rebelaram e tentaram mudar esse estado de coisas, inclusive com o recurso à luta armada, que, na última fase, durou mais de 50 anos. Esse substrato foi permitindo ao longo dos últimos anos o crescimento eleitoral da esquerda colombiana. Por outro lado, as elites (ditas conservadoras e liberais) que, durante mais de dois séculos, se foram alternando no poder, caíram gradualmente em descrédito, ao longo do tempo. Por isso, nas últimas eleições, o candidato considerado de centro-direita, Federico Gutiérrez, não conseguiu ir à segunda volta, tendo os conservadores sido representados por um magnata ("oligarca”, para usar a palavra da moda) da construção, suposto D. Juan e admirador confesso de Hitler, Rodolfo Hernández.
Desta feita, os colombianos entenderam que estavam diante de uma "eleição transformadora” (expressão do analista brasileiro Mathias Alencastro) e que, por isso, não podiam perder tempo com um aventureiro. Gustavo Petro foi inteligente e conseguiu atrair centristas e conservadores prestigiados para o seu "Pacto Histórico”. Mas a escolha de Francia Márquez para Vice-Presidente foi um tiro na mosca: no Caribe e no Pacífico colombianos, regiões de grande concentração de populações afrodescendentes, a votação na dupla Petro-Francia foi acachapante.O papel da nova liderança colombiana não será fácil. O país, além da desigualdade, da pobreza e do racismo, é marcado pelo crime e a violência. As relações com os EUA, que mantêm bases militares no território colombiano, são complexas. Impossível de prever, pois, como será o futuro imediato. Mas o simples facto de ter ocorrido, torna a mudança eleitoral de domingo literalmente histórica.
*Jornalista e Escritor
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