Sociedade

Quando a mesa farta de uns representa a fome de outros

Osvaldo Gonçalves

Jornalista

Enquanto mais de 820 milhões de pessoas no Mundo passam fome, pelo menos 931 milhões de toneladas de comida vão para o lixo todos os anos. De acordo com as Nações Unidas, essa quantidade representa 17 por cento dos alimentos disponíveis aos consumidores.

23/03/2021  Última atualização 10H34
© Fotografia por: DR
Já antes da pandemia, estimava-se que, dado o crescimento da população mundial, nos próximos 30 anos se fosse assistir a um aumento de 50 por cento na exigência de produção alimentar. Com a Covid-19, as tendências de agravamento da fome no Mundo são ainda maiores.

A actual pandemia, que já provocou a morte de mais de 2,5 milhões de pessoas no Mundo, provocou um súbito agravamento da situação alimentar. Num documento intitulado "O Vírus da Fome: como o coronavírus está potencializando a fome em um mundo faminto”, lançado em Julho de 2020, a OXFAM alertava que 12 mil pessoas podiam morrer de fome por dia até ao fim do ano passado, devido às consequências da pandemia.

 O aviso era para que o número de mortes diárias motivadas pela fome seria maior que o de óbitos causados pela doença em si. Dados da John Hopkins University apontam que a taxa de mortalidade mais alta no Mundo atingiu o seu nível mais alto em Abril de 2020 , quando morreram mais de 10 mil pessoas por dia, sendo nos meses seguintes de entre cinco e sete mil mortes diárias.

 Com a nova situação, o número de pessoas em nível de crise de fome – definida como nível 3 da Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC) da ONU - aumentou em cerca de 121 milhões de pessoas este ano como resultado dos impactos sócio-económicos da pandemia.
 O grande paradoxo que representa o desperdício alimentar ocorre também nos países mais pobres. Seria de supor que nos países com rendimentos mais baixos o desperdício fosse menor. A verdade, porém, é que o desperdício alimentar é um problema global.

Só na América Latina, por exemplo, 127 milhões de toneladas de alimentos são jogadas fora por ano. O facto demonstra bem porque aquela região é vista como a de maiores contrastes sociais no Planeta.

Na África Subsaariana, a percentagem de desperdício alimentar é de 14 por cento e na Ásia Central e do Sul chega a 20,7 por cento. Os entendidos apontam que o desperdício começa na colheita (10%), agrava-se no manuseio e transporte (50%), prossegue alto nas centrais de abastecimento (30%) e vai até aos supermercados e às casas dos consumidores(10%).

 Além das graves consequências sociais e económicas, o desperdício alimentar tem graves consequências ecológicas, sendo responsável por oito a 10 por cento das emissões de gases de estufa.
 O Mapa Mundo da fome aponta 10 países em que o risco maior de mais de 122 milhões de pessoas serem colocadas à beira de uma crise alimentar extrema como resultado dos impactos sociais e económicos causados pela Covid-19 inclui dez nações, situadas, na maioria longe de Angola.

 Nessa situação encontram-se, sobretudo, países e regiões com grande instabilidade político-militar e marcados por desastres naturais, como o Iémen, Afeganistão, Sahel da África Ocidental, Etiópia, Sudão, Sudão do Sul, Síria, a Venezuela e o Haiti. Mas, é de assinalar que na lista está incluída a República Democrática do Congo, aqui ao lado.

Angola e a RDC partilham uma fronteira total de 2511 quilómetros, 220 dos quais na província de Cabinda, onde se situa o Mayombe. Com uma área total de 290 mil hectares, a floresta é considerada o segundo "pulmão” do Mundo, depois da Amazónia, na América do Sul.
 Além disso, Angola regista uma seca com contornos graves no Sul e Centro do País, situação que, mais do que recorrente, é reflexo da má gestão dos recursos hídricos da região, a qual só pode ser combatida com a intervenção do Estado.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Sociedade