Política

Quadros do Programa Espacial vão ser formados no Japão

Geraldo Quiala e Isaque Lourenço | Tóquio

Angola e o Japão assinaram, esta segunda-feira, em Tóquio, um acordo de cooperação no domínio da indústria espacial para a formação de quadros e partilha de experiências.

14/03/2023  Última atualização 07H19
Ministro Mário Oliveira acompanhou a assinatura do Acordo para a formação de quadros © Fotografia por: Kindala Manuel | Edições Novembro | Tóquio

De acordo com o ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Mário Oliveira, os dois países já têm estado a trabalhar juntos no que diz respeito à formação, através da Universidade do Japão. Desde logo, o acto representa o cumprimento formal  de todo um trabalho realizado entre as partes.

"Angola tem um programa espacial, e tendo em conta o desenvolvimento que o Japão tem nessa indústria, vamos com eles trabalhar, sobretudo, na perspectiva da formação dos nossos quadros, de colher as suas experiências na indústria espacial", disse.

Mário Oliveira disse também que o objectivo é colher toda as experiências japonesas no campo da ciência espacial. Questionado sobre o tempo de duração dos acordos, dos cursos de formação e o número abrangido pela medida, o ministro esclareceu não existir nem prazos, nem limites na implementação assim como na abrangência.

O que vai acontecer, segundo explicou o governante, é serem formados quadros à medida das necessidades do país e do desenvolvimento do programa espacial.

O ministro disse, ainda, que a opção pelo Japão não é nova, sendo apenas parte do plano de formação dos quadros ligados ao Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional junto das melhores escolas, razão pela qual além do Japão tem-se estado a formar, também, técnicos na Rússia e na França, por exemplo.


Assinada carta de intenção entre as partes

A assinatura da carta de intenção de cooperação no domínio espacial, entre Angola e o Japão, ocorreu, ontem, numa das salas do The Okura Prestige, em Tóquio.

O documento foi rubricado pelo director-geral do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPN), Zolana Pedro, na presença do ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Mário de Oliveira. Pela parte japonesa, foi signatário do acordo o director-geral adjunto para a Cooperação Internacional e Secretariado da Política Espacial Nacional do Governo do Japão, Soichiro Sakaguchi. Este acordo prevê o envio de jovens angolanos ao Japão para a formação especializada em engenharia aero-espacial.

Energia e Águas

No domínio da energia e águas, está previsto para hoje ou amanhã a assinatura de um memorando de entendimento entre as partes.

Segundo o ministro João Baptista Borges, o memorando de entendimento prevê o estabelecimento de acordos para a exploração de águas subterrâneas no Sul de Angola, sendo aquela uma região bastante afectada pelos efeitos da estiagem prolongada. O grupo Toyota Tsusho pretende realizar furos artificiais, com a utilização de sistemas solares para o bombeamento de águas.

Para o ministro João Baptista Borges, trata-se de soluções que se vão juntar às outras mais estruturantes de combate à seca e que estão a ser desenvolvidas pelos Governo.

Outra acção importante que tem estado a ser desenvolvida na parceria com o Japão tem a ver com o projecto de transporte de energia entre o Huambo e o Lubango, iniciativa estimada em 150 milhões de dólares, financiados pelo JICA - Agência Internacional de Cooperação do Japão. "Este é também um projecto prioritário e que o Japão vai também financiar no nosso país", disse.

 

Balanço da Economia

O ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, disse que o balanço ao Fórum Económico Angola - Japão é positivo, pois  foi marcado por um discurso programático por parte do Presidente da República, João Lourenço, sobre o que Angola procura no mundo e de que forma o Japão pode se enquadrar nessa cooperação internacional, principalmente transformar Angola num local em que os japoneses possam investir no agro-negócio, principalmente para exportar para o seu país.

Conforme afirmou o ministro Mário Caetano João, o Japão tem limitações de produção agrícola e Angola oferece-se para que os investidores do parceiro asiático possam utilizar as terras e produzir bens alimentares essenciais, assim como também investir forte no domínio da energia, e, por outro lado, a implantação de indústrias farmacêuticas japonesas em Angola, que possam responder a uma preocupação do Governo rel- ativamente às importações de medicamentos.

Mário Caetano João disse que a apresentação feita no Fórum de Negócios foi, fundamentalmente, uma retrospectiva daquilo que Angola foi desde o séc XV.

Passou-se em revista o desempenho e as perspectivas macroeconómicas do país, nos domínios fiscal, monetário e real, bem como foram abordados os quatros principais paradigmas responsáveis pelas mudanças no país, sendo o principal motivo o reforço e consolidação do Estado Democrático e de Direito.

Também o combate à corrupção; reforço do serviço da administração pública quarto e último, que é uma economia baseada na iniciativa privada, com políticas que buscam desbloquear as oportunidades que Angola oferece.

"Esta mensagem foi bem recebida pelos empresários e também pelas autoridades públicas", disse.

Economistas enaltecem iniciativa do Chefe de Estado

O economista Augusto Fernandes vê sempre positivo quando o Chefe de Estado angolano se desloca para o exterior para fazer diplomacia económica.

E, o facto de, desta vez, Angola ir ao encontro da terceira maior economia do mundo, o país da Toyota, dos metros de superfície, que é também o país que não tem matéria-prima em seu território, porém é o terceiro do mundo que mais exporta para o mundo, é bastante positivo, pois o Japão é também o país das indústrias e Angola leva a cabo um plano nacional de industrialização. Desde logo, o economista entende que esta incursão para o Japão é uma iniciativa positiva do Governo.

Para Augusto Fernandes, Angola deve foca os esforços de diplomacia económica com o Japão no sentido de conseguir uma concessionária Toyota em Angola, por formas que a importação dos carros japoneses para Angola seja feita sem intermediário, com os descontos que se impõem, com a garantia de que Angola goze de isenção de impostos para os carros de origem japonesa. Esse simples gesto, no seu entender, tornaria o país numa perfeita zona franca para a passagem dos carros japoneses, que serão comercializados para todas as regiões económicas de África.

"Angola deve assinar um instrumento jurídico com o Japão que permite criar um grupo de trabalhar para a concepção de um projecto de metro de superfície de alta velocidade que liga o Norte e Sul do país", afirma.

Questionado se o Japão é uma "boa" opção para parceria estratégica com Angola, o economista entende estar-se diante de um país muito disciplinado e que Angola é um país que está a promover a disciplina orçamental e outras medidas.

Logo, Angola tem muito que aprender com o Japão, em termos de educação e logística e essa parceria é muito benéfica para Angola. Resumindo, disse, o Japão é dos melhores parceiros económicos que Angola pode ter.

Por sua vez, o economista Alberto Vunge disse existir já um Fórum Económico Angola – Japão, onde deste lado está a AIPEX, o que quer dizer que existem já aproximações entre as classes empresariais dos dois lados. Por aqui, acrescenta, percebe-se que a iniciativa é boa, na medida que escala o nível de poder em matéria de cooperação. Essa opção, segundo o economista, coloca o país num nível bem acima e valoriza os representados pelas entidades intervenientes no fórum económico e dá-lhe o ânimo e conforto necessário.

Sobre as prioridades na mobilização de investimentos, o académico vê que o Japão tem estado presente no processo de crescimento da economia angolana de forma indirecta, através da canalização de linhas de financiamento para alguns projectos estruturantes. O Japão, recorda, tem poupanças e o país pode aproveitá-las para financiar as necessidades internas. Por outro lado, o Japão está presente no sector imobiliário, seguros, banca, telecomunicações e automobilístico, por exemplo.

"Penso que vale a pena diversificar o portfólio de investidores para a economia nacional e diversificar as experiências. Isto poderá acelerar o processo de crescimento económico que pretendemos. Estamos a falar da terceira maior economia do mundo, cujo processo de evolução económica é conhecido e parte de manuais sobre o processo de crescimento-desenvolvimento económico. Com um país assim há, indubitavelmente, lições a aprender com ele", assume.

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