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Psicóloga aperfeiçoa tratamento de doenças mentais por meio das artes

O recurso a linguagens artísticas africanas, especialmente à pintura, dança, teatro e poesia angolana, é o método mais eficaz que a psicóloga Léha Mirwani Mendonça encarou para tratar pessoas com doenças mentais.

20/01/2023  Última atualização 07H35
Especialista Léha Mendonça defende maior investimentos das autoridades angolanas na área da Saúde Mental © Fotografia por: Raimundo Mbya | Edições Novembro

A técnica da linguagem artística, que faz parte do projecto "Etu Mu Dietu”, tem sido usada para ajudar na evolução da melhoria de doentes mentais graves.

Em função dos bons resultados da técnica de tratamento no Brasil, onde a psicóloga angolana reside, actualmente, a especialista quer experimentar o "Etu Mu Dietu” em Angola.

Em entrevista ao Jornal de Angola, a psicóloga realçou que, por exemplo, "a técnica ajuda a doentes mentais com dificuldades de dizerem o que sentem, por que sentem e, na maioria das vezes, sem falar conseguem exprimir por meio das artes”.

Léha Mendonça referiu que, com a técnica, já conseguiu acessar à realidade profunda de pacientes que se mostravam resistentes por via da arte.

Particularmente sobre o "Etu Mu Dietu”, explicou que afecto e internalização do cuidado estiveram na origem da escolha do projecto cuja adopção do nome é uma inspiração da música de Barceló de Carvalho "Bonga”.

A profissional referiu-se aos avanços que o Brasil alcançou nesta matéria. Por exemplo, salientou que, actualmente, no Rio de Janeiro existe um Museu de Inconsciente, que está reservado a obras dos pacientes com transtornos mentais graves, inclusive os trabalhos daqueles que eram muito violentos e agressivos.

A psicóloga fez saber ainda que naquele país da América do Sul quase todos os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) são modelos de substituição dos hospitais psiquiátricos antigos, que eram lugares menos humanizados.

Em 2016, realizou-se, no Brasil, uma Oficina Sobre a Semana de África, onde se adaptou teorias que são de europeus-brancos para os afro-brasileiros. Nesse evento, a psicóloga usou danças e músicas angolanas como o afro-house e o semba, para despertar sobre a cultura de Angola, uma vez que havia pouco contacto com essa arte.

 

Impacto da beleza negra

Léha Mendonça lamentou o facto de ainda existir um estereótipo a pessoas negras, uma vez que elas são vistas como de pouca inteligência e capacidade intelectual.

Por isso, usou pessoas negras para que os pacientes se espelhassem nelas e vissem o lado positivo da beleza negra, bem como da cultura, religião, gastronomia e da alegria do povo africano.

"O nosso projecto fez com que eles sentissem como se estivessem a reviver uma ancestralidade perdida com a época da escravidão”, disse a psicóloga angolana, que fez o Ensino Superior no Centro Universitário Unijorge.

Em relação a essa matéria, o objectivo é de continuar a estudar mais, aprofundar e aplicar a oficina para outros grupos sociais, nomeadamente crianças com autismo e, também, a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero (LGBT).

Para Angola, a profissional quer implementar este e outros projecto relacionados com a saúde mental, mas precisa de apoios das autoridades. "Eu preferia trabalhar aqui, mas ainda não consegui ter algum apoio ou propostas de apoios”, realçou. 


Reforma psiquiatra no país é necessária

A frequentar uma pós-graduação em Arte Terapia e Saúde Mental, Léha Mendonça defendeu a necessidade de uma reforma da assistência psiquiátrica em Angola, com vista a se pôr cobro à exclusão dos pacientes com distúrbios mentais.

A psicóloga destacou a importância da implementação da Lei 180 italiana, também conhecida por Lei de Reforma Psiquiátrica, que determinou a extinção progressiva dos manicómios naquele país europeu.

Uma vez adoptada no país a Lei 180, Léha Mendonça acredita que fica garantido aos pacientes um padrão de procedimento psiquiátrico mais humanizado, solidário e com melhores condições.

No Brasil, desde que se adoptou a Lei de Reforma Italiana, disse, permitiu-se a reorganização do sistema psíquico, através da consolidação de políticas públicas de saúde mental.

Para o caso de Angola, Léha Mendonça ressalta a necessidade de o Governo, através do Ministério da Saúde, seguir o mesmo caminho, começando por olhar para a forma como os pacientes são tratados no Hospital Psiquiátrico.

Além desses passos, a especialista sublinhou ser imprescindível que se discuta com maior regularidade sobre a saúde mental na sociedade angolana, bem como promova informações relacionadas com a importância de as famílias procurarem pelo psicólogo.  


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