No dia em que este jornal completou 46 anos a levar informação ao público (de Angola e do mundo), a direcção decidiu brindar os funcionários com uma festa.
– «Quantas pessoas, no nosso país, vivem do salário que auferem?»–atirou a Delmara.
Numa aldeola familiar com reminiscências medievais, como era Kitumbulu nos anos setenta do século XX, a caça grossa e a pesca em rios caudalosos eram confiadas a homens. A recolecção, que incluía ratos, salalê, pesca com cestos, grilos, cigarras gafanhotos e frutos e sementes silvestres estava confiada a mulheres e crianças.
Em Kitumbulu, fazenda do meu avô paterno, onde "escapei ser dado à luz”, lembro-me de ter acompanhado a minha mãe e outras parentes à "caça” de salalé. As térmitas constroem um monte de barro com vários canais "tubulares” internos que desembocam num hall a que chamávamos de ninho. É onde ficava a "rainha” que tem à volta várias obreiras. Do "ninho” a baixo, seguem outros canais (inexplorados).
Viajo ao que o meu subconsciente conserva e olho para aquele monte de salalé que nos meses de início de chuva "liberta” a jinguna (o insecto gorduroso e voador) que apanhávamos para conduto¹ e ou usado como isca na pesca fluvial com anzóis ou muzwa².
No monte vivem quatro tipos distintos de formigas: o salalé voador (jinguna), as obreiras que barreiam/constroem e reparam o monte (pareciam-me comer e defecar o barro), a rainha (única) e os soldados que guarnecem a fortaleza, apresentando uma cabeça agigantada e terminais em forma de tesoura. Esses últimos são chamados "makenene” entre os baluba e tucokwe, no nordeste de Angola.
Até à minha primeira ida a Lunda Sul, em 2005, ignorava que a "formiga soldado” do monte de salalé fosse comestível. Em Kitumbulu capturávamos e comíamos apenas os "adolescentes” cheios de vida e banga, que voavam alto, caindo depois, sem asas, na boca faminta do sapo ou do bagre quieto nos matuku³ do rio calmo e preguiçoso. Nos dez anos de permanência em Saurimo, vi a formiga-soldado (makenene) como iguaria, mas resisti em levá-la à boca e com ela forrar o estômago.
Dizem os nordestinos que "o bicho é só vitamina!”. Porém, aquelas tesouras, que já me rasgaram os dedos ao procurar capturar jinguna para a pesca, inibiam-me.
- E se, mesmo morto e temperado, me rasgar a língua? - Dizia para mim mesmo.
Na verdade, recomendam os grandes apreciadores de makenene que "é preciso mastigá-los bem”. Uma vez no prato, os insectos devem ser levados aos dentes molares e "manterem pouco contacto com a língua, antes e durante a mastigação”.
Provei, finalmente, o "benquisto” makenene em 2021, na Lunda Norte, e repeti a dose, com maior à vontade, em 2022, também no Dundo. Não têm aquela gordura do salalé voador ou ainda jovem, sem asas, surpreendido com jarros de água e apanhado no ninho, como fazíamos em Kitumbulu. Mas persistem que "o makekene é só vitamina!”.
Nessa de procurar a palavra com o sentido etimológico e semântico ideal, fiquei momentaneamente na dúvida entre vitamina e proteína. Chamei o duvidário mental que me ficou às voltas, enquanto os que comigo partilhavam a mesa de dez lugares, habituados à iguaria, foram se "vitaminando”, levando-me a colocar o dicionário de lado.
- Vou consultar depois. - Avancei, levando os insectos à boca e mastigando-os com vagar e delicadeza, até os tornar em bolo alimentar que a língua cuidou de mandar goela abaixo, sem provocar-lhe danos.
Num estudo do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), intitulado "A contribuição dos insectos para a segurança alimentar, subsistência e meio ambiente” (FAO, 2015), lê-se que "mais de 1.900 espécies de insectos são consumidas no mundo todo. Contudo, esse número continua a crescer à medida que aparecem novos resultados de pesquisas sobre o assunto. A maioria das espécies conhecidas é colectada na natureza; no entanto, poucos dados estão disponíveis sobre a quantidade de insectos consumidos no mundo. A partir de dados publicados, os grupos de insectos mais consumidos são os besouros (coleópteros) (31%), as lagartas de mariposas ou borboletas (lepidópteros) (18%) e abelhas, vespas e formigas (himenópteros) (14%). Estes, seguidos de gafanhotos, esperanças e grilos (ortóptera) (13%), cigarras, cigarrinhas, cochonilhas e percevejos (hemípteros) (10%), cupins (isópteras) (3%), libélulas (odonatas) (3%), moscas (díptera) (2 %) e outras ordens (5%)”.
A jinguna é, para mim, um grande conduto e está na linha do majuku⁴ (jinsombe para os bakongo, masololo para os tucokwe), gafanhoto, grilo, cigarra e katatu (makoso ou kimpyatu para os bakongo). Todos eles são proteicos!
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¹- acompanhante, geralmente, de funji ou pirão.
²- nassa. Instrumento rudimentar de pesca.
³- esconderijos, tocas, ninhos de peixes.
⁴-lagarta que se desenvolve de forma metamórfica em palmeiras em putrefacção.
Soberano Kanyanga
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