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Projecto “Ekevelo” reforça a segurança alimentar no Virei

“Aqui há muita fome. Não há comida, porque há muito tempo que a chuva já não cai mais. Estou a apanhar essa fruta, que se chama Machequecheque, para nos alimentarmos durante o dia. Em casa não há nada”, explicou Feliciana Fernando, de 16 anos, quando esticava-se toda para colher a fruta da árvore, no dia 21 de Janeiro, na sede do município do Virei, que dista 134 quilómetros a leste de Moçâmedes, a capital da província do Namibe.

18/02/2021  Última atualização 15H45
© Fotografia por: DR
A menina, que sonha ser professora, reside no Cavelocamwe, uma aldeia ba-seada nos arredores da sede municipal do Virei, onde frequenta a terceira classe. "Gostaria que aqui no Virei chovesse bastante, para não faltar comida, e que tivesse muitas escolas para podermos concluir os nossos estudos”, suplicou.O sonho de Feliciana Fernando é partilhado pelos mais de 39 mil habitantes do Virei, dos quais cerca de seis mil enfrentam inúmeras dificuldades para poderem se alimentar. Entretanto, um projecto denominado "Ekevelo”, que traduzido em português significa "Esperança”, começou a ser implementado na região, pela organização Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN), para minimizar a situação da seca, na localidade.

O mesmo está a ser financiado pela União Europeia, gerido parcialmente e co-financiado pela Cooperação Portuguesa Camões I.P, o que motivou a embaixadora da União Europeia, Jeannette Seppen, a visitar a província do Namibe, para constatar "in loco” a sua implementação.O FRESAN é um projecto que pretende contribuir para a redução da fome e da pobreza, melhorar a segurança alimentar e a situação nutricional das famílias residentes nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe, sobretudo através do reforço da resiliência e da produção agrícola familiar sustentável.O Projecto "Ekevelo”, cujo montante investido é de 699 mil e 685,86 euros, tem como objectivo principal melhorar a segurança alimentar e nutricional dos agregados familiares de agropastoris do Virei, através do reforço de insumos, equipamentos e materiais técnicos de apoio à produção agro-pecuária, com maior envolvimento comunitário, e reforçar as competências das comunidades e instituições públicas do município, em particular, e da província no geral.

Com duração de 32 meses, o projecto beneficia 40 membros dos grupos de apoio multissectoriais às comunidades, 150 agregados familiares (2.250 pessoas), 15 membros da equipa multissectorial de Resiliência e segurança alimentar do município do Virei, 70 técnicos e representantes das instituições públicas municipais, provinciais e organizações da sociedade civil do Namibe.As entidades executoras são a Fundação Fé e Cooperação, a Cáritas de Angola, Catholic Relief Services (CRS) e a CSF - Portugal, em colaboração com a Administração Municipal do Virei e Governo Provincial do Namibe.

A gestora de projectos da Fundação Fé e Cooperação disse que a nível das comunidades do Virei, o projecto de melhoria da segurança alimentar e nutricional começa com a mobilização comunitária. Sílvia Santos assegurou que, neste momento, está a ser feito o cadastro de todos os agregados familiares que vão beneficiar de forma di-recta do projecto, e dos grupos facilitadores locais.O coordenador do projecto "Ekevelo”, Virgínio Tito,  informou que o mesmo tem as componentes agropastoris e de recuperação de pontos de água. Avançou que, neste momento, está a ser feito o levantamento das necessidades existentes para a recuperação de um ponto de água, na comunidade do Kuiti-Kuiti, a 30 quilómetros a sul da sede do Virei, e de outros dois no Katenteno.

A vice-governadora do Namibe para o sector Político, Económico e Social,  Carla Maisa Tavares, afirmou que a província regista dificuldades de escassez de alimentos no seio da população local, tendo admitido a existência de focos de fome no Virei.Carla Maisa Tavares esclareceu que o consumo de alguns vegetais faz parte dos hábitos e costumes da população de toda a província.Considerou que a seca que se regista no município é uma situação cíclica que dura há décadas, e tem a ver com as características geoclimáticas da região, e que devido aos hábitos da população local acabam influenciando na sua resiliência.
Estiagem e fomeO soba do Virei, Bernardo Mussungo, afirmou que a maior preocupação com que se debatem os munícipes está relacionada com a estiagem e a fome severa que assolou em grande escala a região, nos últimos nove anos.

"As populações já consumiram tudo o que tinham cultivado, e a maior parte das culturas secaram”, disse a autoridade tradicional, acrescentando que o município precisa de grandes projectos de água para satisfazer as necessidades da população local. "Se não fizerem isso, este projecto vai fracassar”, alertou.Bernardo Mussungo pe-diu a implementação, no Virei, de projectos sustentáveis como represas de água e valas de irrigação para tornar mais fácil o cultivo de alimentos, para animais e seres humanos.

Informou que, com a seca, em função da reprodução excessiva que se regista no seio dos animais, as fêmeas ficam muito fracas e morrem por falta de pasto.O administrador municipal  adjunto do Virei, Narciso Samba, disse que o fenómeno da seca que assola seriamente a localidade provocou a escassez do pasto, o que obrigou a população a fazer a transumância do seu gado para as zonas onde há bastante capim e água.

Embaixadora satisfeita

A embaixadora da União Europeia, Jeannette Seppen, disse que a visita que efectuou ao município do Virei enquadra-se, no âmbito de um programa existente entre a União Europeia e Angola, especificamente ligado ao projecto "Ekevelo”, implementado pela FRESAN."Por enquanto, os projectos estão no princípio da sua implementação.

Esperamos que, em breve, o desenvolvimento facilite o regresso das pessoas que se deslocaram para outras áreas, porque se calhar registava-se aqui a falta de muitas coisas. Creio que este projecto vai contribuir para o desenvolvimento das aldeias deste município”, considerou.A vice-governadora do Namibe, Carla Maisa Tavares, está ansiosa para ver desenvolvido o projecto "Ekevelo”, que pode juntar-se ao empenho do executivo na reabilitação de pontos de água, construção e reabilitação de escolas, e melhorar as acções de segurança alimentar e nutricional a favor das populações do município do Virei.

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