Matondo Alexandre, que reagia às informações tornadas públicas da morte por suposta doença misteriosa de várias pessoas, no bairro Caop B, em Viana, por apresentarem barrigas inflamadas, olhos amarelados e os intestinos perfurados, disse que os cidadãos morreram por complicações associadas à malária, febre tifóide, desnutrição e doenças diarreicas agudas.

De acordo com os relatórios médicos, explicou, os cidadãos apresentavam sintomas como dores de barriga e de cabeça e preferiram optar pela auto-medicação. "Não tendo êxitos, procuraram tardiamente pelos serviços de saúde, onde foi constatado o agravamento das patologias”.

O médico adiantou, ainda, que em vários hospitais de Luanda estes pacientes deram entrada, mas já apresentavam os órgãos vitais comprometidos. "A maioria dos cidadãos chegou aos hospitais em estado crítico, situação que não se alterou até à morte destes”, lamentou.

O especialista em obstetrícia frisou que não existem doenças estranhas ou misteriosas a vitimar pessoas em Viana, apenas que tais cidadãos morreram por procurarem tardiamente os serviços de Saúde, depois de optarem pela auto-medicação.

"A auto-medicação quando é feita de forma inadequada, causa efeitos colaterais intensos e o uso de medicamentos de forma incorrecta pode acarretar um maior agravamento da patologia, pois a utilização pode esconder determinados sintomas. Além disso, essas pessoas procuraram muito tarde os serviços hospitalares”, realçou.

Por outro lado, informou, uma equipa da Organização Mundial da Saúde acompanhou o caso, tendo em conta as informações divulgadas nas redes sociais e descobriu que as mortes estão associadas à malária, febre tifóide, desnutrição e doenças diarreicas agudas.

 
Prevenção

A direcção municipal da Saúde de Viana, frisou, pretende intensificar os programas de prevenção e combate a doenças, para evitar que casos do género se tornem hábito entre os moradores.

Matondo Alexandre disse que pretendem realizar, num curto período de tempo, mais palestras de esclarecimento sobre a prevenção de algumas patologias, em especial as que mais assolam as comunidades. Os técnicos de Saúde, realçou, devem ir ao encontro das comunidades, a fim de explicarem as formas de transmissão, cuidados e prevenção das patologias com mais ocorrências nas unidades sanitárias e nas comunidades.

 
Luto

Maria António, residente no sector 10, perdeu o primogénito vítima de febre tifóide. O filho, de 26 anos, cujo nome preferiu omitir, sentiu-se mal e passou a medicar-se sem ser orientado por um médico.

Com o passar do tempo, ficou ainda mais debilitado, e foi levado para o Hospital Josina Machel. Por ter chegado com os intestinos perfurados, foi submetido a duas intervenções cirúrgicas, mas não resistiu devido ao estado avançado da doença.

Adão Cuanza é outro morador da circunscrição que viu o irmão morrer. Residente no sector 9, explicou que o irmão, de 22 anos, inicialmente apresentava os olhos amarelados e a família aventou a possibilidade de ser uma hepatite, por isso, decidiram tratá-lo com medicamentos tradicionais. "A medicação durou apenas três dias, pois a barriga inflamou, começou a queixar-se de dores de cabeça e foi rapidamente levado ao hospital onde em poucas horas acabou por falecer”.

O coordenador do bairro Caop B lamentou o sucedido e defendeu a importância de se construir mais centros médicos com capacidade de efectuar diagnósticos. Cassongo Cazanguie adiantou que o bairro dispõe apenas de pequenos postos médicos privados, incapazes de dar resposta aos mais de 53 mil habitantes residentes na zona.