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Primeiro-Ministro integra rebeldes no novo Governo

O Primeiro-Ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, anunciou, ontem, uma remodelação no Governo integrando antigos líderes rebeldes, uma iniciativa que faz parte do acordo de paz assinado com uma aliança rebelde em 2020.

10/02/2021  Última atualização 07H00
O chefe do Executivo sudanês, Abdalla Hamdok, pretende preservar a paz assinada no ano passado © Fotografia por: DR
O novo Executivo do Sudão passa assim a contar com ministros da Frente Revolucionária Sudanesa, uma aliança de grupos armados, segundo anunciado pelo Primeiro-Ministro numa conferência de imprensa transmitida pela televisão a partir da capital, Cartum, e noticiada pela Associated Press.

Mariam al-Mahdi, líder adjunta do principal partido da oposição, o Umma, e filha do último Primeiro-Ministro eleito democraticamente no país, Sadiq al-Mahdi foi no-meada para o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros. Gibril Ibrahim, líder do Movimento Justiça e Igualdade, parte da Frente Revolucionária Sudanesa (SRF), foi nomeado para liderar a pasta das Finanças. Hamdok manteve Nasredeen Abdulbari como ministro da Justiça e Yasser Abbas como ministro da Irrigação, enquanto os militares mantiveram o major-general Yassin Ibrahim Yassin à frente da Defesa.

O chefe do Governo não nomeou, no entanto, um novo ministro da Educação para ocupar o lugar deixado por Mohamed el-Tom, mas afirmou que há conversações em curso. O novo Executivo é composto por 25 ministros, incluindo quatro mulheres. Hamdok dissolveu o antigo Governo no domingo, uma medida esperada depois de o Conselho Soberano do Sudão ter nomeado três representantes da SRF como novos membros. Estes novos membros são Alhadi Idris Yehia, do Movimento de Libertação do Sudão, Malik Agar, da facção do Norte do Movimento Popular de Libertação do Sudão no Estado do Nilo Azul, e Al-Taher Abu Bakr Hagar, presidente das Forças de Libertação do Sudão. Todos estes grupos integram a Frente Revolucionária Sudanesa.

Os três líderes rebeldes juntaram-se assim aos outros 11 membros do Conselho Soberano, formado em 2019 e que lidera o país na sequência de um acordo de partilha do poder entre militares e civis que conduziram a revolta que levou ao afastamento do então Presidente, Omar al-Bashir. O anúncio de ontem será o primeiro desde à assinatura do acordo de paz em Outubro, entre o Governo de transição sudanês e a SRF, uma coligação de cinco grupos rebeldes e quatro movimentos políticos. Este acordo, assinado após meses de negociações, deu posições aos rebeldes no Governo e 75 lugares num Parlamento de transição.
 
Crise económica aguda

O novo Governo tomará posse num contexto de crise económica aguda e tensões com a vizinha Etiópia, para além da recente violência étnica na região de Darfur. A economia foi dizimada durante a liderança de Al-Bashir devido a décadas de sanções dos Estados Unidos, má governação e conflitos armados. Uma inflação desenfreada, reservas de divisas baixas e um mercado negro próspero estão entre os desafios mais prementes.

Várias regiões, incluindo Cartum, assistiram as manifestações nas últimas semanas, denunciando o estado desastroso da economia. No mês passado, conflitos sangrentos entre tribos árabes e não árabes irromperam nos Estados de Darfur do Sul e Oeste, matando cerca de 250 pessoas. Na frente diplomática, as relações com a vizinha Etiópia têm sido carregadas de tensão em torno da região fronteiriça de El-Fashaga, onde os agricultores etíopes se instalaram em terras reclamadas por Cartum. Estas tensões surgem num momento delicado das relações entre os dois países, que tentam, juntamente com o Egipto, chegar a um acordo sobre a controversa construção na Etiópia da Grande Barragem da Renascença no Nilo Azul.

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