Composta por 13 elementos, dentre os quais dez bailarinos e três membros de direcção, com idades compreendidas entre 19 e 34 anos, a Palasa Dance Company é uma companhia jovem, fundada em Fevereiro de 2018.
"Se esses pés falassem”, sob direcção e coreografia de Miguel Carlos, retrata as histórias dos pés que caminharam e viveram na pele a guerra civil angolana, uma das mais longas e mortíferas da história do continente africano, traçando caminhos que juntos fazem a história de um país em paz desde 2002. Segundo a companhia, este espectáculo surge como uma forma de homenagear e dignificar os caminhos de cada uma das vidas nela envolvidas. Por sua vez, "Itanda” conta com direcção e coreografia de Aneth Silva e traz ao palco as expressões da praça, um cenário emblemático reconhecido pela grande maioria dos angolanos, onde muitas pessoas são expostas a questões de vulnerabilidade social. O espectáculo traz à reflexão a importância do mercado informal para a nossa sociedade. Uma actividade que cresce a cada dia e se tornou base para o sustento de grande parte das famílias angolanas, tendo as mulheres um papel fundamental neste processo.
Companhia enfrenta dificuldades
Para
a coreógrafa e directora de produção da Palasa Dance Company, a outorga do
Prémio Nacional de Cultura e Artes tem um impacto significante, por todo o
trabalho que temos vindo a desenvolver. "Por ser o único prémio vindo do
Ministério da Cultura e Turismo, tem um impacto muito grande, para uma
companhia relativamente nova. É um dos únicos incentivos destinado aos mais
diversos sectores culturais", apontou.
Aneth Silva sublinhou que a
distinção é um sinal de que a companhia está num caminho certo, apesar de todas
as dificuldades por que passam para manter o ânimo. Em relação a patrocínios,
Aneth Silva disse que a companhia tem tido apoio de pessoas próximas que têm
acompanhado os seus trabalhos. Um destes apoios vem da Casa das Artes, que tem
ajudado em cada jornada, embora reconheça que falta apoio de um mecenas.
De
acordo com Sara Lopes, directora de ensaio e dramaturga, a companhia tem
enfrentado várias dificuldades, apontando de imediato a falta de um transporte
para apoio dos bailarinos. "Se não tiverem todos não conseguimos
ensaiar", explicou. As outras dificuldades consistem na preparação dos
espectáculos, desde o cenário e o figurino. Sara revelou que isso tem
dificultado em alguns aspectos. "Vezes há que o artista tem uma visão
criativa, mas não pode executá-la porque faltam-lhe recursos.
Existem cenários
que queremos criar mas não o fizemos por falta de condições. Não podemos criar
um cenário como de uma companhia da África do Sul porque exige trabalhos de um
marceneiro, serralheiro e outros profissionais que prestam esses serviços”,
partilhou Para contornar a falta de patrocínios, a dramaturga explicou que têm
sido bastante criativos para poderem adaptar aquilo que têm em visão para porem
em prática no palco. "Acaba por ser um desafio muito bom porque nos
permite trabalhar a nossa mente e nos permite por em prática tudo aquilo que
desejamos em palco, actualmente trouxemos bons cenários em palco com poucos
recursos", detalhou. Sara Lopes lamentou igualmente a falta de casa de
espectáculos, apontando não haver uma organização que responda a esses apelos.
Para a artista, uma das soluções seria uma maior comunhão entre os artistas de
diferentes classes para um tratamento igual, sem olhar mais para os músicos e
menos para os bailarinos. "Existe actualmente maior visibilidade para os
cantores, porém, para que haja mais divulgação da dança, é necessário que os
órgãos competentes permitam que a dança tenha um espaço nos órgãos de
comunicação social, isso seria bastante criativo. Aquilo que levamos em palco
não é mera vontade nossa, porque a produção artística trás consigo uma reflexão
sobre as nossas questões sociais e eleva a nossa humanidade. É um trabalho que
resgata os valores da sociedade", defendeu.
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