Cultura

Prémio Nacional de Cultura e Artes

Maria Hengo

Jornalista

Composta por 13 elementos, dentre os quais dez bailarinos e três membros de direcção, com idades compreendidas entre 19 e 34 anos, a Palasa Dance Company é uma companhia jovem, fundada em Fevereiro de 2018.

24/11/2023  Última atualização 08H20
Coreógrafo Miguel Carlos é o director da companhia © Fotografia por: DR
Sob direcção de Miguel Carlos, Aneth Silva e Sara Lopes, foi distinguida com o Prémio Nacional de Cultura e Artes 2023, o maior reconhecimento do Estado angolano pelo trabalho desenvolvido pelos artistas nacionais nas suas mais variadas formas de expressão artística. A companhia venceu pela composição em dose dupla dos espectáculos "Se esses Pés Falassem” e "Itanda”, exibido em Julho deste ano.

"Apresenta qualidade de produção e excelência, fazendo recurso a linguagens populares, aos factos históricos e aos acontecimentos do quotidiano, incorporados no contexto artístico cultural angolano. Apresenta propostas criativas reflectidas a uma dramaturgia que privilegia a expressividade corporal, que se distingue na concepção cénica dos espectáculos como um todo. A jovem companhia apresenta propostas criativas reflectidas a uma dramaturgia que privilegia a expressividade corporal e na concepção cénica dos espectáculos como um todo”, avaliou o júri.    

"Se esses pés falassem”, sob direcção e coreografia de Miguel Carlos, retrata as histórias dos pés que caminharam e viveram na pele a guerra civil angolana, uma das mais longas e mortíferas da história do continente africano, traçando caminhos que juntos fazem a história de um país em paz desde 2002. Segundo a companhia, este espectáculo surge como uma forma de homenagear e dignificar os caminhos de cada uma das vidas nela envolvidas. Por sua vez, "Itanda” conta com direcção e coreografia de Aneth Silva e traz ao palco as expressões da praça, um cenário emblemático reconhecido pela grande maioria dos angolanos, onde muitas pessoas são expostas a questões de vulnerabilidade social. O espectáculo traz à reflexão a importância do mercado informal para a nossa sociedade. Uma actividade que cresce a cada dia e se tornou base para o sustento de grande parte das famílias angolanas, tendo as mulheres um papel fundamental neste processo.

Companhia enfrenta dificuldades

Para a coreógrafa e directora de produção da Palasa Dance Company, a outorga do Prémio Nacional de Cultura e Artes tem um impacto significante, por todo o trabalho que temos vindo a desenvolver. "Por ser o único prémio vindo do Ministério da Cultura e Turismo, tem um impacto muito grande, para uma companhia relativamente nova. É um dos únicos incentivos destinado aos mais diversos sectores culturais", apontou.

Aneth Silva sublinhou que a distinção é um sinal de que a companhia está num caminho certo, apesar de todas as dificuldades por que passam para manter o ânimo. Em relação a patrocínios, Aneth Silva disse que a companhia tem tido apoio de pessoas próximas que têm acompanhado os seus trabalhos. Um destes apoios vem da Casa das Artes, que tem ajudado em cada jornada, embora reconheça que falta apoio de um mecenas.

De acordo com Sara Lopes, directora de ensaio e dramaturga, a companhia tem enfrentado várias dificuldades, apontando de imediato a falta de um transporte para apoio dos bailarinos. "Se não tiverem todos não conseguimos ensaiar", explicou. As outras dificuldades consistem na preparação dos espectáculos, desde o cenário e o figurino. Sara revelou que isso tem dificultado em alguns aspectos. "Vezes há que o artista tem uma visão criativa, mas não pode executá-la porque faltam-lhe recursos.

Existem cenários que queremos criar mas não o fizemos por falta de condições. Não podemos criar um cenário como de uma companhia da África do Sul porque exige trabalhos de um marceneiro, serralheiro e outros profissionais que prestam esses serviços”, partilhou Para contornar a falta de patrocínios, a dramaturga explicou que têm sido bastante criativos para poderem adaptar aquilo que têm em visão para porem em prática no palco. "Acaba por ser um desafio muito bom porque nos permite trabalhar a nossa mente e nos permite por em prática tudo aquilo que desejamos em palco, actualmente trouxemos bons cenários em palco com poucos recursos", detalhou. Sara Lopes lamentou igualmente a falta de casa de espectáculos, apontando não haver uma organização que responda a esses apelos.

Para a artista, uma das soluções seria uma maior comunhão entre os artistas de diferentes classes para um tratamento igual, sem olhar mais para os músicos e menos para os bailarinos. "Existe actualmente maior visibilidade para os cantores, porém, para que haja mais divulgação da dança, é necessário que os órgãos competentes permitam que a dança tenha um espaço nos órgãos de comunicação social, isso seria bastante criativo. Aquilo que levamos em palco não é mera vontade nossa, porque a produção artística trás consigo uma reflexão sobre as nossas questões sociais e eleva a nossa humanidade. É um trabalho que resgata os valores da sociedade", defendeu.

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