Economia

Preços dos ovos de Páscoa a 22 mil kwanzas em Luanda afasta clientes

Kátia Ramos

Jornalista

Um dia antes da festividade mais importante da religião Católica - a Ressurreição de Jesus - o Jornal de Angola foi para a rua e sentiu que os tempos mudaram. A estrela da festa, os ovos de Páscoa, continuam a perfumar os supermercados mais emblemáticos da cidade de Luanda mas já não são vendidos em milhares de unidades como noutros tempos.

01/04/2024  Última atualização 10H21
Os ovos de Páscoa já não são vendidos em milhares de unidades como noutros tempos © Fotografia por: Luis Damião | Edições Novembro

Quem o confirma é Sérgio Agostinho, gerente  do Shopping Candando de Talatona.

"Os nossos patrões têm velado para que a corporação ofereça os melhores produtos e a preços baixos, mas nem tudo depende apenas da boa vontade do empreendedor, pois as dificuldades  com a exportação é uma barreira quase difícil de se ultrapassar”, diz cabisbaixo.

Para reverter esse quadro, a cadeia  Candando apostou numa  campanha de promoção – de 22 de Março a 1 de Abril. O ovo Super Kinder ou Ferroro Rocher, com surpresa, de 150 gramas, que antes custava 28.999 kwanzas, está  a ser vendido a  22.000 kwanzas.

O chocolate em formato de ovo está a custar quatro vezes mais que a mesma quantidade em barra, por razões logísticas.

Às crianças  foram prestadas uma atenção especial. Os ovos de chocolate composto por glúten (e outros sem para os intolerantes), com motivos de  personagens da Disney, como os Patrulha Pata, Frozen, Dolci Preciosa, PJMasks Power Heroes ou Senza Glutine,  no valor mínimo de 13 mil kwanzas tornavam  as  prateleiras coloridas. Mas,  ainda assim não parece ter convencido os consumidores.

É o caso de  Karine Manita, Miss Angola 1999, actualmente  apresentadora da ZAP.

Encontrámo-la  numa azáfama nas compras para a festa cristã, mas ainda assim aceitou falar à nossa reportagem: "Os produtos existem como podemos constatar, falta-nos é ‘bolso’ para obtê-los”, disse sorridente.

No Belas Shopping, outro ponto nevrálgico para compra para a celebração da Ressurreição de Cristo, o preço dos ovos de Páscoa não é  diferente do praticado no Candando. "Quem tem quatro filhos como eu e cada um deles quer um ovo de Páscoa de certeza que este ano não  terão”, disse  José Alexandre, funcionário público.

O Deskontão da rua Direita de Luanda não foge à regra. O valor dos ovos de chocolate varia entre 19 e 22 mil kwanzas.

 
Vai um coelho de Páscoa

Não obstante os supermercados estarem a substituir, cada vez mais,  as vendedoras de rua, a Páscoa é um dos períodos  (a par de datas como 2 de Novembro, Dia dos Finados, e o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher), em que elas  mais vendem agachadas por detrás de  pequenas bancadas improvisadas ao longo de algumas avenidas da capital, 

"Os ovos de chocolate são um espectáculo,  mas o coelho da Páscoa também sai bem”, promoveu Marta Roque, dona de uma das bancadas mais concorridas localizada em frente ao Cemitério do Alto das Cruzes. "O negócio não está a andar”, disse.

Segundo ela, a falta de dinheiro será o principal factor para que o negócio esteja "fraco”, mas a chuva que caiu nos últimos dias também ajuda a afastar potenciais clientes, bem como o local no qual a venda é feita.

Para o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), o "executivo deve implementar projectos, incluindo  oferta de extensões de terra para empresários e o estabelecimento de indústrias de processamento de cacau de médio porte”, sugere em opinião publicada nesta edição.


Alguns dos chocolates mais famosos do Mundo

Chocolate Michel Cluizel
A confeitaria francesa Michel Cluizel, faz chocolates desde 1948. É um dos poucos negócios de família no mundo que cultiva os próprios grãos de chocolate. Uma tradição de confeitaria com mais de 60 anos levada até aos limites da perfeição. É por isso que tem de pagar um pouco mais de 800 dólares por uma caixa selecção dos bombons aqui produzidos.

Wispa – Chocolate de ouro
Está habituado a ver chocolate da Cadbury no supermercado, mas talvez não conheça o Wispa, uma barra de chocolate enrolada em ouro. Devido ao seu valor ser extremamente caro, entrou para o livro de recordes do Guiness como a barra de chocolate mais cara do mundo. Este é um chocolate perfeito para adoçar a boca. Custa 1500 dólares.

Neuhaus Praliné

Neuhaus Praliné, fundada em 1857,  pelo comerciante Jean Neuhaus, é uma marca que abriu nesse ano a primeira loja na Bélgica. Começou por fabricar chocolates de xarope e licor doce e, em 1923, lançaram as primeiras embalagens para guardar os doces. O Praliné é o topo de gama da Neuhaus, a fornecedora da Casa Real Belga. Custa 20 dólares


Neuchatel Chocolates
Vendidos nas melhores lojas Gourmet, a marca Neuchatel Chocolates fabrica trufas, bombons e tabletes de chocolate negro com e sem frutas. Estas variedades têm cacau criollo e, segundo a empresa, cada um deles demora 75 horas a ser confeccionado, para realçar a excelência dos chocolates suíços. Custa 25 dólares.


Opinião
José Severino, presidente da AIA

No actual contexto da crise global do cacau, em que até mesmo as exportações da Côte d’Ivoire,  principal fornecedor mundial, não apresentam sinais de recuperação, como Angola pode se beneficiar? A análise deve ser cuidadosa, especialmente considerando as preocupações de longo prazo acerca da disponibilidade de áreas para o cultivo de novas árvores de cacau, uma vez que as empresas alimentícias estão a aderir às novas regulamentações da União Europeia que proíbem a importação de commodities originadas em regiões recentemente desmatadas.

Durante a época colonial, o cacau de Angola já havia chamado a atenção internacional, sendo exportado de Cabinda, mais especificamente do município de Buku Zau, onde se produzia 1500 toneladas para a Holanda, pela empresa Panga Panga.

É de conhecimento geral que a estratégia do projecto de Cadeia de Valor Agrícola para a produção de cacau tem como objectivo transformar Cabinda num modelo de produção nacional. Essa intenção já levou representantes dos quatro municípios  da província ao Ghana, o segundo maior produtor africano depois da Côte d’Ivoire, para troca de experiências, não apenas na área de produção, mas também na de transformação.

Numa pesquisa recente realizada pela Associação Industrial de Angola em parceria com a Nestlé, foi constatado que Angola não apenas possui um território maior do que os dois principais países produtores de cacau, mas também apresenta condições de altitude e clima semelhantes.

Diante desse cenário e seguindo o princípio da Diversificação da Economia e das Exportações, devido à queda nas receitas do petróleo, iniciativas governamentais foram tomadas no sentido de promover o cultivo do café arábica, com apoio do INCA. Foi assim que surgiu a Federação RECAFé, com o objectivo de elevar Angola ao ranking mundial na produção de café, amêndoa de cacau, óleo de palma e amendoim, especialmente nas regiões de Cabinda, Zaire, Bengo, Cuanza -Sul, Cuanza-Norte e Uíge.

No entanto, é crucial incentivar os pequenos produtores, integrando-os num programa de fomento do cacau que prevê a disponibilização de instrumentos de trabalho para empresas agrícolas familiares, a oferta de extensões de terra para empresários e o estabelecimento de indústrias de processamento de cacau de médio porte.

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