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População de Palma ainda continua a fugir

Dois meses depois do ataque de grupos extremistas islâmicos contra Palma, no Norte de Moçambique, centenas de pessoas continuam a chegar de vários pontos da mortificada província de Cabo Delgado.

25/05/2021  Última atualização 09H40
Famílias inteiras continuam a temer barbárie de extremistas © Fotografia por: DR
No sábado, um barco pesqueiro com 49 pessoas atracou na capital, Pemba. A ameaça extremista é omnipresente, difusa e preocupante. Um homem desembarca. Seus pertences numa trouxa repousam sobre a cabeça e, na mão, carrega dois tambores de plástico. As mulheres, com lenços coloridos que deixam o rosto descoberto, carregam crianças, uma garrafa térmica e alguns pertences.

A polícia controla os recém-chegados. Inspecciona a bagagem para verificar se não estão armados e se não há terroristas infiltrados.
Numa outra embarcação de madeira, no meio das águas agitadas do Oceano Índico, Júlia Francisco deu à luz, com a ajuda de alguns companheiros de infortúnio.
Depois de três dias na praia, eles a levaram, assim como os demais, para um estádio coberto a cerca de dez quilómetros de distância, que funciona como campo de trânsito.

Júlia estava grávida de 7 meses quando os Shababs, como são chamados os extremistas que aterrorizam a região desde o final de 2017, lançaram um ataque surpresa em Palma, em 24 de Março. A ofensiva aconteceu a apenas 10 quilómetros do complexo de gás do grupo francês Total.
Com os primeiros disparos, "todos começaram a correr”, contou Júlia Francisco  à AFP em swaíli, uma das línguas faladas nesta região vizinha da Tanzânia. "Eu sabia que se não corresse também, eles me alcançariam”.

Caminhou, correu e escondeu-se na floresta com o pai, a madrasta e o filho de quatro anos. Passou semanas no complexo energético, com milhares de pessoas que esperavam ser resgatadas. Apanhar um barco custa entre 40 e 65 euros, uma pequena fortuna para aquela gente.
Os deslocados contam que, em Pemba, ainda há "muita” gente para socorrer. Segundo as ONG, são cerca de 20 mil.

Com a calça rasgada, uma camiseta e um casaco preto, Sumail Mussa, de 50 anos, espera na praia. Com o telefone na mão, quer ligar para parentes para ver se podem acomodá-lo, mais a esposa e o filho. Está sem crédito para telefonar. "A vida era terrível lá, por isso fu-gimos”, diz laconicamente.
No estádio, onde as janelas estão cobertas por mosquiteiros, há cerca de 300 pessoas. Júlia anda devagar, porque ainda não se recuperou do parto. Vai buscar água, tenta lavar a roupa na relva ao redor do complexo desportivo. "Sinto-me mal. Sofro porque não tenho família para me ajudar”, confessa com voz tímida.

O marido trabalha em Ma-puto, a milhares de quilómetros de distância. Júlia não tem ideia onde se encontram a mãe, as irmãs e um irmão. "Nem sei se estão vivos”, murmura, olhando para o telefone.

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