A Associação Única de Direitos de Autor e Conexos (AUDAC) representou o país na conferência da associação dos produtores de fonogramas e vídeograma que decorreu de 25 a 27 deste mês, na Tanzânia em Dar es Salaan.
A 10.ª edição do prémio Africa Magic Viewers Choice Awards, na Nigéria, marcada para o dia 11 de Maio de 2024, conta com nomeações de dois filmes, “O 11º Mandamento” e “Mfumukazi”, com a participação da angolana Eltina Gaspar, como operadora de câmara e designer de produção.
O livro “100 Poemas Para Agostinho Neto”, lançado no dia 13 último, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, reúne poemas de autoria de 27 membros da União dos Escritores Angolanos (UEA). Os poemas, de um modo geral, como refere a Nota do Editor assinada pelo poeta David Capelenguela, secretário-geral da UEA, giram “em torno da nostalgia, da valorização dos aspectos culturais de Angola, da melancolia, da dor e, acima de tudo, traz-nos uma literatura que serve, igualmente, como diálogo aberto com o poeta homenageado”.
Ao compulsar o livro, que tem a dupla chancela editorial do Memorial Dr. Agostinho Neto e da UEA, salta à vista a falta de um índice, que deveria ser indispensável numa edição como esta, e o número irrisório de exemplares impressos, apenas mil. Efectivamente, atendendo à circunstância do centenário e à qualidade do homenageado, bem como ao facto dos autores serem poetas consagrados, é de estranhar tão pequena tiragem, quando há todo um país, com as suas 18 províncias, 164 municípios, 518 comunas, 44 distritos urbanos, milhares de escolas e mais de 10 milhões de alunos potencialmente leitores. Reunimos aqui, no limite do espaço disponível, alguns poemas constantes do livro
De tanta força brava
a seda de seus lábios jardins de tanto silêncio
nos dias de hoje chega ao sol
o mar de músculos rijos detalhes
ondeada a enxada abria meus olhos em pastos menores
às quatro da tarde meu quarto só dizia
a certo tempo um beijo meus cinco anos
vez ou outra meus olhos ainda descem o morro em
[força brava]
Abreu Paxe
O vendedor de visões
estou a vender e a comprar visões, aquelas cegas que
só podes observar na ilusão de um sim: imagens, ca-
minhos, cidades e países que não podes viajar. estou
a vender o olhar da águia que alcançou o inabitável
no voo inalcançável de um cometa. aceito também a
permuta da filosofia da beleza para quando fechares
os olhos e sentires a iluminação da cegueira. compro
e pago caro a eternidade das coisas, no
singelo silêncio
dos universos: murmúrios de um sol que
ainda
apagado, sonho-vivo.
António Pompílio
Epitáfio a Agostinho Neto
És o centenário das batalhas poéticas
matai-vos
ruge aceso o brilho nos arrabaldes da alma
limpaste pedaços de desejo de morte
a corte por Deus é alma
a chuva é deserto de folhas miúdas
o sol
centelhas da alma, búzio ancestral
A língua é doce promover o diálogo e paz
tinteiro de sorriso ao ar livre
sol aberto, ais na Ucrânia, a mágoa
Bia, Naty, Paula, Eugénia, continuem unidas
Garças de nudez edénica teu corpo
álgebra de cristal e bronze
como apertam as saraivas das ancas
o trigo com que a fome do menino
são
folhinhas penduradas assim
Akiz
Neto
Grades
Entristeço-me
Quando penso no recomeço
Haverá algum dia
Olho para as grades que encerram
Os meus pensamentos misturados,
Em sonhos, perspectivas, ilusões
E até concretizações
Até quando
O que fazer
O que pensar
Apenas os poemas aliviam a alma
Elsa Barber
Maza
(Água)
É deus liquidificado
Matando a sede dos mortais
Gloriosos dizem
Água para todos
Populares 10mentem
Todos para água
Potável
Pó tal vez
Fantasma Ki anda
Em torneiras eleitorais
Maza
(Água)
Vinde a nós em leito oral
Em leito oral vinde a nós
Escreveram no chafariz da vida:
Kwakutwadividila
(Aqui estamos perdidos)
Tu ladidi
(Estamos secos)
João Fernando André
A) As moscas do horizonte
E Sob a escuridão das estrelas. As moscas das asas largas encontram
os caminhos
espalham as patas frescas através das luzes e dos mistérios da
imagem salgada.
Na noite de quebrar o fogo do barco: a asa esquerda desliza
sobre a paisagem imunda. A asa direita_aberta sobre os
horizontes
e as fronteiras obscuras vai rompendo os desejos dos
corpos translúcidos.
São as chamas da minha terra húmida
_ essas moscas nuas como os pássaros da rua estagnada.
João Maimona
Recordando Agostinho Neto
Pau de imbondo te chamou
um poeta
lírico
que escreve
com as mãos
submersas na terra
Onde
tuas raízes?
Recordo: os homens
dançavam
na tua morte
como que
totalmente abandonados
à dor
Não o desejarias
mas o espanto
dominou-nos
De tanto te esperar
o povo
jamais saberá
porque partiste
João
Melo
In
Poemas Angolanos (1989)
Canção para Manguxi
a luta
em luto só se converte
quando
na hora derradeira
tomba o herói
mas ela
se verdadeira
para além da dor
se prolonga
o luto
quando justa a luta
o herói apenas se converte
em bandeira
Jofre
Rocha
1988
Ainda Vive
É vida morte
e morte vida
Morreu vivo
e vive morto
Quem desabrochou
A BELA PÁTRIA!
Lopito Feijó
Diálogo 4
Cem anos desde o teu nascimento
Continua cintilante no céu uma estrela
Destemida e imponente no fir mamento
Bela e inconfundível de cor amarela
Cem anos desde o teu nascimento
Continuas nos choros das Áfricas
No gesto prenhe das montanhas
No músculo, na dor e no movimento
Cem depois do teu nascimento
Ainda ouvimos o teu canto dolente
Num poema fechado e incógnito
Ainda ouvimos estalido do chicote
Sobre velho dorso vergastado
De quem anda nos caminhos do mato
Mbangula Katúmua
Palavra lavrada
no fundo do túnel faltou a palavra acesa
para iluminar a floresta da reminiscência
faltou realmente o queixume de verbos
porque depois do solilóquio do destroço
todos são a mão o braço i o antebraço
pregar o sorriso na máscara do dia
um pedaço de banana i maçã
a gente se lembra que todos comem areia
no fim do jogo de xadrez político
no fim o baralho de cartas
Pombal Maria
Cresce Meu Milho
ÉCresce, meu milho
cresce...
Cresce qual falo louco
cresce como se fora muito
o sémen para a espiga
crescer como se fora pouco
o tempo para a colheita
Cresce, meu milho
cresce...
Cresce tão e tanto
que mesmo sem sintonia
com a seca descabida
te transformes
sem rebuço piedoso
de um terno pranto
em grito sólido
rugidor e vigoroso
com a dimensão da fome
A BELA PÁTRIA!
Luís
Rosa Lopes
1.Apetece-me dedicARTE poemas en feitados
Cujos versos sejam notas de blues
Poemas que não sejam compreendidos
Senão
por iximbis e ituta
Kilamba
Apetece-me ainda gritar todos os sonhos
Trazer na lagoa da pátria todas as makas
Génio da natureza vem
Exorcizar akwangola
Num poema de esperança sagrada
Poemas enfeitados
Para o Kilamba - I estrofe
Ras Nguimba Ngola
Poema 101
Não bastam cem poemas para enaltecer o nosso poeta maior
Sendo ele
Ser humano digno de valores morais e éticos superiores
Médico curador de múltiplas feridas
Humanista de uma panóplia de afectos
Escritor poeta da liberdade
Condutor da luta pela independência
Político de excelência
Estadista da união da nação
Pessoa ímpar da nossa Sagrada Esperança
Homem calmo, moderador de causas difíceis
Este ser é Agostinho Neto
Lisboa, 24.05.2022
Sandra Poulson
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