Embarcámos, a meio de uma dessas manhãs, particularmente quentes (como acontece ultimamente em Luanda), a partir da estação de autocarros da Macon – passe a publicidade – na zona dos Ramiros, um aglomerado populacional que regista um crescimento exponencial, com a previsão de chegada à cidade ferroportuária do Lobito pouco depois das dezassete horas.
Já não se lembra, com exactidão, o dia em que, aos 12 aninhos, começou a fumar cigarros, liamba e crack, numa altura que usava, igualmente, álcool. Sabe apenas que a primeira e tantas vezes que usou drogas foi por influência de amigas com idade mais avançada.
Pinto José, de 38 anos, nasceu em 1985 na aldeia Kahenda, município do Púri, província do Uíge. Vive maritalmente e é pai de três filhos. Viveu a infância e parte da juventude na sua aldeia natal, com os pais. Actualmente, vive no bairro Mbemba Ngango, arredores da cidade do Uíge.
Depois do falecimento dos pais, a situação social e económica de Pinto José complicou-se. Na década de 1990 viu-se forçado a abandonar a localidade e a emigrar para a sede da província do Uíge, com o intuíto de continuar os estudos e encontrar melhores condições de vida.
"Desde sempre fui apaixonado pelo verde das plantas, o modo como elas crescem, se desenvolvem e se reproduzem. O meu sonho era ser técnico médio de agronomia, mas devido às dificuldades financeiras, de alojamento e alimentação, não foi possível estudar”, contou.
Pinto José, que só estudou até à 3ª classe, lembrou que pelas vicissitudes da vida, com realce para as dificuldades económicas, em 1995 integrou-se na Igreja Católica, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no bairro Mbemba Ngango. A sua esperança era que, por meio de oração, Deus operasse um milagre, ouvisse o seu clamor e encontrasse solução para a sua sobrevivência.
"Eu acredito no milagre de Deus. Ali, poucos dias depois, humildemente fui convidado para cuidar de animais domésticos como cabritos, porcos, carneiros e galinhas”, lembrou com um sorriso nostálgico.
Explicou que para além de cuidar dos animais, a paixão do verde das plantas nos seus olhos falava alto. Organizava também os vasos de flores da igreja e da residência das Irmãs Divinas de Misericórdia, onde ele também vivia. "Foi dali que as Irmãs Divinas de Misericórdia me convidaram a frequentar uma formação básica, acelerada, em agronomia, ministrado por alguns membros da paróquia”, disse.
Feita a formação, em 2009, Pinto José começou a multiplicar e a comercializar diversos tipos de plantas, entre comestíveis, ornamentais e medicinais. Prepara a terra com a palha do café e da madeira, cria a matéria orgânica, compra as sementes no mercado e as lança no alfobre. Dias depois, as plantas rebentam e separa-as para as bolsas. Com este trabalho, Pinto José sente-se folgado. Construiu a sua própria residência e constituiu família.
O técnico agrónomo produz por detrás da sua residência mais de duas mil plantas de diversas espécies, como eucaliptos, acácias, cafeeiros, sape-sapeiros, goiabeiras, macieiras, safueiros, laranjeiras, limoeiros, tangerineiras, jambos, berinjelas, figueiras, salsas, videiras, jacas, moringas...
"Não fiz o ensino médio pelas dificuldades financeiras que eu vivia. Aliás só estudei até à 3ª classe, mas em nome da Igreja tive a oportunidade de beneficiar de um curso básico de agronomia, onde aprendi muita coisa boa. E aqui afirmo, sem medo de errar, desde 2009 que venho a produzir e vender plantas, já tenho uma boa experiência neste ramo, que me dá o estatuto de técnico médio. Sonho ser um empreendedor na produção e venda de viveiros de plantas, apenas me faltam alguns apoios”, contou.
O técnico, que fica bravo
quando uma planta é cortada desnecessariamente, acompanha milimetricamente o
desenvolvimento das suas plantas. Explicou que o crescimento das sementes
depende do tipo de planta. "Por exemplo, a laranjeira demora três meses para
chegar à altura do seu transplante, o eucalipto rebenta com duas semanas, o
safueiro se desenvolve com dois meses”, afirmou.
"Empreendedor de plantas”
Com o seu carro de mão carregado de plantas, diariamente Pinto José percorre as ruas e bairros da cidade do Uíge, comercializando plantas a preços acessíveis. O preço depende do tipo de planta que o cliente desejar. O cafeeiro, por exemplo, custa 250 kwanzas, acácia rubra 800 kwanzas, eucalipto 300, goiabeira 200, só para citar algumas. Para quem compre a grosso há um desconto no preço.
"Tenho tido um rendimento positivo. Com este trabalho vivo e sustento a família e a formação dos meus filhos”, disse o técnico agrónomo, acrescentando que os agricultores, proprietários de quintas, empresários e pessoas singulares têm sido os clientes que mais solicitam as plantas do seu viveiro.
Pinto José afirmou que o curso básico de agronomia lhe abriu as portas para adquirir muita experiência e para ser um bom empreendedor no ramo das plantas, produzindo e vendendo plantas. Mas revelou que a sua maior dificuldade actual é a falta de apoio financeiro para adquirir bolsas para a conservação das plantas, motobomba, regadores e um espaço com mais de 10 hectares para multiplicação de plantas.
"A experiência adquirida ao longo do tempo dá-me o estatuto de técnico médio, estou em condições de instruir outros neste trabalho, mas me está a faltar algum apoio para alargar a multiplicação de plantas”, queixou-se.
Pinto José, que já deu oportunidade de trabalho a dois dos seus irmãos, disse que em cada época multiplica mais de duas mil plantas de diversas espécies. Os seus dois irmãos desempenham o papel de alinhadores das pequenas estufas e dos regadores, bem como separam as plantas dos alfobres para as bolsas.
"O trabalho tem sido bom, trabalhamos unidos, temos repartido os rendimentos. O que ganhamos aqui sustenta as nossas famílias, por isso abraçamos forte a experiência do nosso irmão mais velho e queremos mais apoios para darmos também oportunidade de trabalho a outros jovens”, disse Rui Merge.
O mano ajudante informou que na época seca, as plantas que mais vendem são as hortícolas, nomeadamente, salsas, manjericos, couve, berinjelas grandes, alho, cenouras e pepinos, enquanto na época chuvosa aumenta a produção de plantas ornamentais e medicinais. "Este trabalho tem sido rentável. É a maior fonte de sustento para nós”, reforçou Rui Merge.
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