Cultura

Parte da História etnográfica do país guardada num lugar de memória

Entre estatuetas, máscaras e instrumentos tradicionais, usados na agricultura e na música, muito do acervo etnográfico do país está guardado no Museu Nacional de Antropologia, que recebe todos os meses, em média, 2.000 visitantes, entre nacionais e estrangeiros.

20/05/2023  Última atualização 09H10
Álvaro Jorge disse que o acervo do Museu Nacional de Antropologia , maioritariamente etnográfico, tem traços da história de várias localidades do país © Fotografia por: Alberto Pedro | Edições Novembro

Com um acervo total de dez mil peças, o museu tem traços da história de várias localidades do país, algumas herdadas das colecções  do antigo Museu de Angola e outras do Museu do Dundo. Localizado na Baixa de Luanda, a instituição tem peças com traços das histórias dos grupos Bakongo, Ovinbundo, Quimbundo, Nyaneka, Ngaguela, Herero e San.

O director da instituição, Álvaro Jorge, informou, ontem, que o museu tem funcionado de forma regular, com uma programação anual, diversificada, na qual constam projectos como "Peça do Mês”.

Com as portas abertas ao público, diariamente, a partir das 8h00 até às 15h00, o museu está hoje num período de requalificação e renovação. "O processo é longo e requer recursos, quer materiais, quer humanos. Mas temos feito o possível, com o apoio dos parceiros, assim como realizamos diversas formações, para melhor qualificar os funcionários do museu”.

A requalificação, disse, vai permitir dar um outro carácter às exposições da instituição e atrair mais visitantes, através da exibição de conteúdos inovadores, do ponto de vista científico e técnico.

"Temos algumas salas em reabilitação, por isso a maioria das exposições não são abrangentes. Ao todo, existem 14 salas, mas apenas sete estão abertas ao público. Devido a essa limitação, a meta tem sido a reabilitação completa do edifício”, realçou. O museu, disse, está a preparar, dentro do quadro de inovações previstas para os próximos meses, informatizar a maioria dos registos de inventários e catálogos, actualmente apenas no formato físico.

A maioria das peças, acrescentou, tem sido conservada com o apoio de especialistas em conservação. "A direcção do museu tem feito, também, acções de formação, regular, de forma a aprimorar o conhecimento dos funcionários na matéria”, explicou, além de informar que no momento têm uma funcionaria a ser formada, em Berlim, Alemanha, na área de Conservação de Peças Museológicas.

Projectos para o futuro

Das várias iniciativas programadas pela direcção do museu para os próximos dias, as de maior relevo são a criação de um site para divulgação das peças e interacção com os visitantes de todas as partes do país e do mundo.

No domínio das actividades interactivas com os visitantes, Álvaro Jorge destacou a realização de diversas actividades culturais e educativas, inclusive oficinas para ensinar as pessoas a tocar instrumentos como a dikanza ou xilofone.

Quanto a interacção dos funcionários do museu com os visitantes, o director considerou positiva a interacção. Para melhor divulgação e promoção da cultura, avançou, o Museu Nacional de Antropologia vai procurar aumentar o acervo ainda este ano. "O país dispõe de peças em diversos museus internacionais, sendo uma delas da cultura cockwe, patente no Museu Etnológico de Berlim”, realçou.

Em relação ao papel dos museus hoje, Álvaro Jorge disse que é fundamental a sociedade prestar maior atenção à preservação da memória colectiva. "Os museus devem estar mais próximos das comunidades”, destacou. 

Instituições parceiras

A nível de parcerias, referiu, a instituição conta com o Museu Etnológico de Berlim, que tem ajudado na formação especializada de quadros. "A parceria foi feita tendo em conta toda a experiência deles nesta matéria, assim como no domínio da conservação das peças, mediação cultural e na identificação de determinadas colecções”.

Outro parceiro, acrescentou, é o Goethe Institut, um facilitador na locação de fundos, assim como no apoio à formação de técnicos do museu. A instituição alemã, continuou, surge como uma parceira essencial na realização de várias actividades culturais. 

Vantagens

O professor de Historia Sebastião da Silva disse que os museus são um ganho para a sociedade, pois por meio deles é possível conectar o passado e o presente. "É preciso que o legado dessas instituições seja transmitido às novas gerações”, disse.

Os ganhos do projecto "Peça do Mês”

A "Peça do Mês” é um projecto expositivo regular, que consiste na apresentação mensal de uma peça, numa "vitrina especial”, no Museu Nacional de Antropologia, em Luanda.

O director Álvaro Jorge, mentor do projecto, explicou que a iniciativa surge da importância de expor as peças menos visíveis para os visitantes.

Este mês de Maio, informou, a peça escolhida é a Axiluanda, termo atribuído aos povos nativos de Luanda. "Os Axiluanda destacam-se não só por serem nativos, mas por ainda conservarem alguns traços folclóricos que os distinguem, como a prática da pesca artesanal, os pratos típicos tradicionais, sobretudo a vestimenta”.

A vestimenta feminina é dividida em dois tipos: um europeu e outro conservador, sobretudo entre as idosas. O formato tradicional, esclareceu, inclui uma determinada diferença na expressão sociológica e cultural.

O traje tradicional na forma mais antiga consta de vários panos, o kimone e o lenço para a cabeça. Essas peças acompanhadas de acessórios, como brincos, anéis e pulseiras, são parte da cultura da mulher Axiluanda.

"Quem for ao museu e ter contacto com a peça, vai ver que, a par da roupa interior, a mulher Axiluanda tem peculiaridades na forma de vestir, sendo uma delas, o uso de três panos. O primeiro, chamado de ‘mulele ya jipanda’, é preso com um acessório com o nome de ‘phonda ya mbunda’, feito com uma tira de tecido que desce até ao tornozelo. O segundo, do mesmo tamanho, passa por baixo das axilas e é preso sobre o peito ou lançado sobre o ombro esquerdo e também desce até ao tornozelo como o primeiro”, explicou.

O terceiro pano, que considerou muito importante, é o da cabeça, colocado directo ou por cima do lenço e caído até a cintura. "As pontas superiores podem ser dispostas de várias formas. Podem ser puxadas para frente, por cima dos ombros ou variar. Para os usuários, este último pano é imprescindível para as pessoas de destaque social”.

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