Opinião

Pandemia milionários e pobreza

Manuel Rui

Escritor

As pessoas só pensam nas vacinas mesmo os das bolhas de algumas seitas, religiões ou desconfiança que grassam por esse mundo fora. Nem há tempo para pensar como é que com a pandemia os ricos ficaram mais ricos e a pobreza explodiu.

18/02/2021  Última atualização 07H00
Os que já eram pobres ficaram mais e o exército aumentou com os pobres gerados pela pandemia. Há voluntários que se organizam para  reunir ofertas de comida para dar a quem tem fome e não tem dinheiro para comprar alimentos. O mundo precisa de mudar o estatuto da ONU e acabar com o direito de veto para que as resoluções da assembleia fossem de exequibilidade imediata. O mundo precisa de prestar contas a alguém. O mundo tem que reconhecer que este capitalismo não serve os valores elementares dos direitos humanos e, infelizmente, o Papa não tem autoridade sobre os políticos, nem sobre aqueles que lhe beijam a mão mesmo não sendo tão católicos como foi Salazar, Franco ou Mussolini. A vergonha do mundo é que as migalhas que sobram das mesas de alguns e são deitadas fora, davam para matar a fome dos outros.

Os 10 mais ricos do mundo aumentaram as suas fortunas, durante a pandemia em 540 biliões de dólares, quantia que chegava para pagar uma vacina para 7,5 biliões de pessoas do mundo e, inclusive, não deixar que mais multidões caiam  na pobreza. Certo que além do aumento das riquezas houve o aumento das doações mas isso é de pouca monta.No entanto, mesmo na Europa, em países periféricos como Portugal, com a pandemia, enquanto os pobres são despedidos ou recebem subsídios, para os ricos, sempre que fecham uma fábrica é uma poupança em salários que deixam de pagar, não podem andar no avião privado ou de iate por causa das limitações e quarentenas, poupam dinheiro e jogam na bolsa.

Mas agora surgiu um novo e repentino tipo de milionários. São os gerados pela pandemia. Os patrões das vacinas. Só o dono da Amazon, JeffBezos, já o mais rico do mundo, ficou mais 65 por cento rico durante a pandemia e quarentena. Instituições abalizadas contam  50 bilionários por conta das vacinas.  Mas vejamos:-UgurSahin da BioNTech (Alemanha) com 4,2 bilhões de dólares.- StephaneBancel da Moderna (França) com 4,2 bilhões de dólares.-Irmãos Struengmann daBioNTech (Alemanha) 22 bilhões de dólares.-Robert Langer da Moderna (Estados Unidos) 1,5 bilhão de dólares.-Hu Kun da Contec (China) 3,9 bilhões de dólaresIsto são apenas alguns exemplos.- PremchandGodha da IpcaLabs (Índia) 1,4 milhão de dólares.

Doações dos bilionários correspondem a 0,3 da sua riqueza total aumentada com a pandemia.Há quem fale na necessidade de pressionar os Governos para a criação de um imposto sobre riquezas. Penso que desta vez os laboratórios têm armas mais poderosas que as armas nucleares para impor as regras aos políticos muitos, quem sabe. Já envolvidos nos negócios das vacinas.O novo bilionário mais singular é Sergio Stevanato, 1,8 bilião de dólares, patrão do fabrico de milhões de frascos seguros e apropriados ao transporte das vacinas. A empresa italiana Stevanato Group, a segunda produtora mundial de frascos de vidro ainda é o maior produtor mundial de  canetas de insulina e máquinas que fabricam, esterilizam e embalam biliões de frascos, seringas e  outros produtos de vidro.Mas se já compararam a pandemia a uma guerra mundial, passe a ironia, podemos falar em efeitos colaterais, quer dizer, os que ganham dinheiro com azaragatoas, cotonetes e algodão, também com oxigénio e outros insumos. E ainda as agências funerárias, os fabricantes de caixões e os do pronto a comer.

O que boa parte dos observadores criticam é o secretismo sobre o negócio dos laboratórios com os estados sendo os contratos de alta confidencialidade. Pode-se dizer que a economia actual está dependente da produção e da compra de vacinas e, como sempre, aparecem no meio intermediários, gente que recebe comissões pois não era   este negócio tão vital que escaparia às regras do costume. A pandemia conseguiu pôr à vista desarmada a  perigosa obstinação política de "o estado sou eu” contra a ciência com Trump e as receitas de desinfectantes e Bolsonaro com a  "gripezinha” e uma postura anti vacinas.Diz a ONU que o pior está para vir. São 176 milhões de novos pobres que poderão sair do balanço da crise sanitária. Só que não será como no fim da 2ª Guerra Mundial. Não haverá vencedores nem Plano Marshall.

Quem diria que depois das desigualdades geradas pelo neoliberalismo chegaríamos a um ponto em que ousamos definir o sistema por capitalismo pandémico. As palavras são muito importantes. Foi tempo de capital por oposição ao trabalho. Das grandes manifestações do primeiro de Maio, das lutas sindicais. Tudo isso foi amolecido depois da Perestroika com comissões conjuntas e onde era capital trabalho agora é empregadores e empregados, os que dão emprego aos que recebem. Agora também a pandemia tem seu léxico. Já houve quem a organizasse da letra A a Z. Assintomático e Zaragatoa… o leitor pode ir à Net, procurar léxico da pandemia que dá para ficar de boca aberta. Com máscara porque tudo isto passa por uma mascarada para o Kabocomeu dançar no próximo carnaval

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