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Pandemia e injustiça racial fazem “disparar” homicídios nos EUA

Os homicídios nos Estados Unidos da América (EUA) aumentaram dramaticamente no último ano e uma investigação aponta a pandemia e a injustiça racial como os principais factores

03/02/2021  Última atualização 07H00
Pandemia "afectou desproporcionalmente as populações mais vulneráveis" © Fotografia por: DR
De acordo com um relatório divulgado pela Comissão Nacional sobre a Covid-19 e a Justiça Criminal, feito em parceria com a organização filantrópica Arnold Ventures, sediada em Houston (Texas), os homicídios aumentaram 30% entre 2019 e 2020. O estudo incidiu sobre as percentagens de criminalidade de 34 cidades norte-americanas.

Entre as 34 cidades estudadas, 29 aumentaram as percentagens de homicídios de um ano para o outro. Milwaukee (Wisconsin) registou um aumento de 85%, Seattle (Washington) contabilizou um aumento de 63%, Chicago (Illinois) de 55% e Nova Iorque de 43%.

A pandemia  provocada pelo SARS-CoV-2, que assola o mundo e, em particular, os EUA há quase um ano, e a injustiça racial são apontados como os principais factores do aumento exponencial de homicídios no país.
Por isso, os investigadores exortam para a urgência de duas medidas: o fomento das relações entre as forças de seguranças e as comunidades e a expansão de iniciativas contra a violência.

Richard Rosenfeld, um criminologista da Universidade do Missouri -- Saint Louis e um dos autores deste estudo, explicitou que a polícia foi obrigada a 'sair das ruas' por causa da pandemia, uma vez que ou os agentes contraíram a Covid-19 ou ficavam em casa para evitar a exposição a colegas infectados.

Os elementos das forças de segurança que não estavam em casa também tinham a capacidade de intervenção diminuída por causa da necessidade de distanciamento físico, que impediu a interacção de proximidade com as comunidades, acrescentou o investigador.
"Isto reduziu bastante a habilidade da polícia de se empenhar de uma maneira proativa no policiamento que reduz o crime", sublinhou Rosenfeld em declarações à Associated Press (AP).

Saint Louis (Missouri), uma das cidades que fez parte do relatório, contabilizou 262 homicídios no último ano, o valor mais elevado desde 1993, ano em que a cidade registou 267 homicídios - período em que a população era substancialmente maior.
O estudo dá  conta de que a pandemia "afectou desproporcionalmente as populações mais vulneráveis" e colocou em risco "indivíduos sobre stress físico, mental, emocional e financeiro".
O SARS-CoV-2 também colocou um 'travão' em esquadras, hospitais, tribunais e outras entidades envolvidas na resposta à criminalidade.

O homicídio de cidadãos afro-americanos - que 'disparou' desde 2010, incluindo a morte de Michael Brown, de 18, em 2014 - também contribuiu para esta percentagem elevada. As grandes concentrações de polícias implementadas pelo executivo do antigo Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, para responder às manifestações do movimento "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam"), que reivindicava a igualdade racial, também diminuiu a presença de agentes nas comunidades, importante para a dissuasão de crimes, aponta este estudo.

Negros representam 5% dos vacinados

Os negros representaram apenas 5% das pessoas vacinadas contra a Covid-19 durante o primeiro mês da campanha de vacinação nos Estados Unidos, segundo um estudo das autoridades de saúde, apesar de estatisticamente serem mais afectados pela doença
Entre 14 de Dezembro e 14 de Janeiro, cerca de 13 milhões de pessoas receberam pelo menos uma dose de uma das duas vacinas contra a Covid-19 autorizadas nos Estados Unidos, de acordo com a informação do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC na sigla em inglês), a principal agência federal de saúde pública do país.

Dos cerca de 13 milhões que receberam a vacina é conhecida a etnia de metade, ou seja, de cerca de 6,7 milhões de pessoas e, destas, apenas 5% se identificaram como negros, contra 60,4% brancos, 11,5% hispânicos e 6% asiáticos. Ainda assim, entre as duas categorias de população que receberam uma dose durante a primeira fase da vacinação - cuidadores e residentes em lares-, 15% são negros, indicam os mesmos dados.

O CDC observa, por outro lado, que cerca de 14% dos vacinados identificaram-se como sendo de ténia "múltipla" ou "outra" o que limita a possibilidade de serem tiradas conclusões definitivas sobre os dados existentes.
"Um conhecimento mais completo sobre a raça e a etnia ao nível das localidades e dos operadores é crucial para garantir que quaisquer disparidades na vacinação sejam detectadas e respondidas rapidamente", precisou o CDC no estudo agora publicado.
Em determinadas regiões e localidades, os postos de vacinação estão localizados em bairros com população predominantemente branca e o mesmo desequilibro é observado no número de dispositivos com acesso à Internet, necessária para a marcação das consultas de vacinação.

Citada pela AFP, Marcela Nunez-Smith, indicada pelo Presidente Joe Biden para coordenar uma resposta equitativa na luta contra a crise causada pela Covid-19, lembrou que os afro-americanos tem 2,9 vezes mais probabilidade de morrer por causa da doença provocada novo coronavírus.
Por seu lado, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, garantiu que o executivo está muito atento a esta questão, nomeadamente através do apoio ao aumento de vagas para vacinação dirigidas a pessoas em maior risco.

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