Caiu, sexta-feira, o pano da III Bienal de Luanda para a cultura de paz, uma edição recheada de intervenções ao mais alto nível, com Presidentes e Chefes de Governo, no activo e reformados, do presidente da Comissão Executiva e do presidente em exercício da União Africana, de representantes da juventude africana, entre outros actores.
A popularidade do futebol eleva o seu Mundial à condição de evento desportivo mais seguido da humanidade, embora sejam os Jogos Olímpicos, pela multiplicidade de modalidades, a maior concentração de atletas. Atrás do fascínio da bola, correm todos os países. Das mais fortes economias às menos robustas. No entanto, povos iguais no sonho legítimo de desfilar na gala planetária.
Hoje estou num daqueles dias em que o meu cérebro está a mil. Tipo recebeu jet e está a vaguear, decidido a festejar os 48 aniversários da Dipanda. Mas às 22h30 a função do cérebro não é descansar? É estar activo a celebrar também a independência tipo tomou algumas?
Decidi obedecer ao meu cérebro e tentei recordar-me do dia 11 de Novembro de 1975. Não me recordo de quase nada sobre o assunto.
Quando foi proclamada a independência eu tinha sete anos de idade. Lembro-me, muito vagamente, de gritos de júbilo de uma multidão, dos meus pais abraçados aos irmãos e amigos, todos aos choros, porque finalmente uma tal de Angola era um Estado livre e que tinha acontecido o que todos angolanos esperavam.
Às 23h00 do dia 11 de Novembro de 1975, no 1º de Maio, agora Largo da Independência, o meu primo Agostinho Neto, de Caxicane, disse: "Diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”, isso segundo o meu pai, André Kilamba, que sempre se gabou da genialidade do seu primo Neto.
Lembro-me também que adormeci e que quando acordei, os adultos continuavam a festejar. Todos falavam ao mesmo tempo e quase não se percebia nada. Foi uma grande festa com comes e bebes, onde todos partilhavam tudo o que tinham, pois finalmente o sonho tinha se tornado realidade.
A grande mudança para mim foi o facto de sair do bairro Golfe, em 1976, e ir morar num bairro que eu nunca tinha ouvido falar, o Alvalade, com luz, água, e, para o meu regozijo, um grande jardim com muitas flores e parque infantil.
Viva os 48 anos de independência! Declarei-me preparada para dormir, mas o meu cérebro não me obedeceu e resolveu, por sua conta e risco, fazer uma retrospectiva dos ganhos dos 48 anos de Dipanda. Noutros tempos, uma pessoa com 48 anos era tio, pai grande, mas agora vejo gente com essa idade que se comporta como se tivesse apenas 22 anos de idade.
Com muita tristeza tenho escutado gente a dizer coisas tão absurdas como: que mais valia Angola continuar colonizada do que ser independente, porque comparando com 1975 não há diferença alguma. Que Angola não tem independência política e económica. Angola enquanto país independente é um autêntico fiasco, pois não houve consenso entre os três movimentos de libertação nacional, MPLA, UNITA e FNLA para criar um Governo de unidade nacional. Alguém disse-me que Angola está pior do que em 1975 por causa do nível de desemprego, delinquência e condição social da população.
Ouvi jovens a dizer que quem controla a economia em Angola são os chineses e que dentro de aproximadamente 20 anos o presidente de Angola será um chinês assim como os ministros e deputados.
Outro grupo de jovens insanos defendia que Angola precisa de ter uma guerra, não fratricida como já aconteceu, mas com países vizinhos para acabar com a vaidade do Governo. Mentes insanas sim, pois quem está no seu perfeito juízo não pensa assim.
Há quem me disse ainda que como Portugal foi o colonizador, a independência é bem-vinda, mas se fosse a Inglaterra ou a Holanda preferia continuar colonizado, porque Angola seria um país muito mais desenvolvido, tal como a África do Sul e a nossa língua oficial seria o inglês. Sério?
Para estas pessoas, algumas mais jovens que eu, tentei explicar que o colonialismo é uma prática em que um país exerce domínio político, económico, cultural ou religioso sobre outro país, sendo que esse domínio é imposto por meio da força política e militar. É uma exploração.
Quanto ao receio de ter um presidente chinês, expliquei que não é possível, já que Angola é um país que tem o total controlo, domínio e poder dentro do seu território, que é verdadeiramente independente e não está sob a influência de outros Estados.
Se a minha explicação serviu para alguma coisa ou não, não sei, mas ainda expliquei que Angola é um Estado Democrático e de Direito e uma Nação com um conjunto de pessoas que habita o mesmo território, ligadas por afinidades culturais, linguísticas e que obedecem às mesmas leis.
Angola teve muitos ganhos. Foram reconstruídas, entre outras infraestruturas, muitas estradas, construídos inúmeros hospitais, centros médicos e postos de saúde, escolas, universidades públicas e privadas, portos e aeroportos – apesar de alguns necessitarem de certificação e outros tantos estarem inoperantes – são ganhos sim. Quanto ao Aeroporto Internacional AAN, que não conheço bem, é um grande investimento que se for bem gerido será muito rentável para o Governo angolano. Mas oiço tanta palavra negativa a respeito da infraestrutura que até dói. Mas nós, os angolanos, somos assim porquê? Contam-se os angolanos que têm uma palavra de bênção sobre os projectos inaugurados e para a terra onde nasceram.
Ouvi do pastor David Paul YonggiCho que as palavras de maldição de um povo destroem o país e se este povo dizer palavras de bênção a terra será abençoada.
As palavras que oiço dos meus compatriotas são, geralmente, de maldição: esse país não presta. Este país devia ser vendido. Angola é gerida por larápios e salafrários e estamos todos condenados. Mas o angolano é assim porquê? Esquecem-se que os governantes saíram do povo? Segundo o pastor Cho, o que fez a Coreia do Sul ser como é foi, entre muitos outros factores, o facto de o povo abençoar e amar o seu país.
Grande parte da população angolana é cristã, mas não assume o seu real papel de fazer a diferença, nos actos e pensamentos. Quase todos angolanos pensam que devem receber tudo de mão beijada, sem esforço algum. Quase todos amaldiçoam Angola, afirmando que é o pior país do mundo.
O meu Cérebro, assanhado, ao invés de imaginar uma praia do Tômbwa, Namibe, decidiu pensar nos miúdos envolvidos nas rixas sob o olhar impávido dos pais, encarregados de educação e da polícia. Os confrontos são tão violentos que quem estiver de passagem corre o risco de perder a vida. Mas que raio de adolescentes são estes que matam, mutilam, roubam e ninguém consegue detê-los? Estes hábitos saíram de onde? De usar catanas, machados, picaretas, cutelos, facões, martelos e pistolas para lutar? Os pais, de Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste, não conseguem controlar os filhos? Um país que enfrentou os carcamanos sul-africanos hoje está a ser destruído por adolescentes, projectos de delinquentes, e ninguém toma medidas com medo de violar o direito das crianças e não traumatizá-las.
E os actos de vandalismo então? Ouvem-se relatos sobre a vandalização e furto de ferros das torres de alta de tensão, postos de transformação e armários de distribuição de energia, fios de cobre, alumínio e milhares de metros de cabos de fibra óptica, com prejuízos avaliados em milhões de dólares para os cofres do Estado.
Os caminhos-de-ferro de Luanda, Benguela e Moçâmedes não escapam. A vedação ao longo da linha, parafusos e trilhos da linha férrea são furtados, situação que deixa as linhas sem condições técnicas e de segurança para a circulação dos comboios. Como é que um ladrão que faz isso é solto com uma advertência?
O grau de vandalismo e destruição é de tal ordem que nota-se a existência de objectivos para criar alguma instabilidade em Angola. Mas este país não tem serviços de inteligência?
O mundo e "arredores” sabem que este trabalho é encomendado e que existem estrangeiros envolvidos. Para mim todo estrangeiro envolvido em vandalismo, venda de produtos deteriorados, devia ser repatriado… Que fosse incentivar o vandalismo e a malandragem no país de origem, mas não em Angola.
O garimpo de água então? Segundo o balanço da EPAL, a empresa perde diariamente 9 milhões de kwanzas devido ao garimpo e ligações anárquicas. Todos também sabem que existem trabalhadores da EPAL envolvidos na prática do desvio da água para camiões-cisterna.
As ligações e venda ilegal de água são visíveis e feitas tanto à luz do dia como à noite. Os garimpeiros muitas vezes usam maquinaria pesada para as escavações e perfuração de condutas indutoras. Mas somos assim porquê? O Governo não consegue acabar com isso?
Todos os dias arranjam-se desculpas para os furtos: "Ah, o coitado é chefe de família, com um ordenado de 30 mil kwanzas”. Ok! E os gestores públicos com ordenados de milhões e mil e um subsídios, que furtam descaradamente?
Não sei qual é aposição de Angola no ranking africano quanto a mortes nas estradas, mas sei que são registados muitos atropelamentos em Angola. Dados oficias apontam que em nove meses, foram registados 2.678 atropelamentos, com 742 mortos e 3.246 feridos. Isso porque uns conduzem mal ou embriagados e outros atravessam as estradas à toa.
A Deolinda Rodrigues deve ser a pior de todas. Acredito que existam em Luanda 141 pedonais e grande parte delas estão ao longo da Deolinda Rodrigues, mas os meus compatriotas raramente as usam: correr é correr, tipo gazelas na savana. O Estado está a gastar milhões para colocar os separadores de betão com arame, a partir da Vila de Viana até aos congolenses para desencorajar a travessia em locais impróprios. Quantos milhões seriam poupados se, tão somente, as pessoas usassem as pedonais?
A venda informal em locais impróprios como em estradas, passeios, pedonais, rotundas e linha férrea, que acontece com a conivência das administrações locais é um escândalo. Nos merece! Quando se acha que zungar e estender um pano no passeio na berma da estrada para vender são a mesma coisa, o resultado é este: uma baderna.
Nunca Angola teve tanta gente formada, tantos no que tange e no que concerne, mas sem amor. Os que juraram algum dia servir o país colocaram as suas vontades acima da ética e da deontologia.
Existem tantas makas neste país que só Deus! Makas que podem ser reduzidas e evitadas se cada um de nós fizer a sua parte, ter empatia e saber respeitar a opinião dos outros.O meu cérebro decidiu finalmente louvar e exaltar o nome do grande Yahweh por mais um 11 de Novembro.
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