O contributo do artista António Ole, enquanto cineasta e artista plástico, foi destacado, na quarta-feira, em Luanda, durante uma homenagem realizada pela Galeria Ndongo 119 - Embaixada Criativa. O evento foi marcado pela exibição de dois filmes do artista, nomeadamente os documentários “O Ritmo do N’Gola Ritmos” e “Carnaval da Vitória”, seguido de uma conversa em torno da sua trajectória artística.
Tchissola Mosquito, responsável da Ndongo 119, salientou que António Ole merece ser homenageado em vida, pelo seu contributo para o desenvolvimento das artes angolanas. Por outro lado, sublinha a consistência do seu trabalho na internacionalização das tradições angolanas, espelhadas em várias das suas obras que marcam a vivência do povo angolano.
"António Ole deu um contributo ímpar para o desenvolvimento das artes plásticas angolanas, bem como para o cinema, porque muito dos artistas que hoje fazem cinema buscaram inspirações nas suas obras, resultado de 50 anos de carreira”, destacou.
Entre os presentes, o actor Orlando Sérgio considerou António Ole como um dos artistas contemporâneos mais conceituados do país, justificando ser um artista singular, pela qualidade da sua obra.
"É um artista muito preocupado com o seu meio, descreve nos seus trabalhos a vivência dos musseques, trata objectos descartáveis e dá um outro olhar, transformando-os em arte. Por isso merece todas as homenagens e mais alguma”, destacou.
A homenagem foi aberta com a exibição do filme "Carnaval da vitória”. Foi o primeiro carnaval da Angola independente, cuja memória para a História foi registada através do documentário feito por António Ole, em 1978.
No documentário "O Ritmo do Ngola Ritmos”, António Ole regista uma página inesquecível da história da música angolana, ao mesmo tempo que oferece uma visão do percurso da resistência dos seus integrantes, representantes dos milhares de angolanos que deram o corpo ao manifesto pela luta da independência.
Estiveram patentes na homenagem 16 obras plásticas originais do autor, sendo a mais antiga produzida em 1964. Segundo a responsável, a exposição estará aberta ao público até ao dia 17 de Julho.
António Ole fez parte, em 1974, da equipa de Contrato Popular, um programa radiofónico, e foi aceite, em 1975, como realizador de programas na Televisão Popular de Angola, cobrindo, nesse mesmo ano, as celebrações do 11 de Novembro, em Luanda. Ainda em 1975, formou-se no American Film Institute, em Los Angeles (EUA), e entre 1981 e 1985 estudou cultura afro-americana e cinema na Universidade da Califórnia (EUA), onde obteve o diploma do Center for Advanced Film Studies.
Desde 1975, dirige vários documentários e vídeos sobre a vida e História de Angola, como "Os Ferroviários” (1975), "Aprender” (1976), "Carnaval da Vitória” (1978), "Sonangol: 10 Anos Mais Forte” (1987), entre outros.
Quanto ao seu trabalho como fotógrafo, o artista começou por fotografar famílias angolanas, retratando os seus numerosos elementos e mostrando certos temas metaforicamente. António Ole faz montagens fotográficas, intitulando-as "Acidentes pelo caminho”, ou desenvolve o seu projecto "Sal”, onde fotografa vários aspectos da extracção e uso do sal como matéria-prima.
Como artista plástico, António Ole cria esculturas inspiradas nas pinturas murais dos Tchokwe, no Leste do país, e produz pintura moderna, cuja originalidade está vincada pelos elementos tradicionais utilizados.
Realizou a sua primeira exposição em 1967 e desde a sua estreia internacional, no Museum of African American Art, em Los Angeles, em 1984, os seus vários trabalhos têm sido apresentados em várias exposições, bienais, festivais, como em Havana (1986, 1988, 1997), São Paulo (1987), Expo’92, em Sevilha, Berlim (1997), Joanesburgo (1995, 1997), Dakar (1998), Amesterdão (2001) e Veneza (2003).
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