Política

Oficial superior denuncia complô para perturbar as eleições de 2022

Santos Vilola

Jornalista

A UNITA está a mobilizar antigos militares das extintas FALA para, a partir dos órgãos de base, médios e intermédios do processo eleitoral, impedir a vitória do MPLA nas próximas eleições, com megas manifestações e distúrbios em todo o país, de modo à chamar a atenção para a necessidade de uma intervenção da comunidade internacional.

20/03/2021  Última atualização 08H48
Manuel Cortez acusou Abílio Kamalata Numa de estar a fazer falsas promessas a ex-militares © Fotografia por: ANGOP
A denúncia, feita ontem, é do tenente-coronel das extintas FALA, Manuel da Conceição Faustino Cortez, antigo oficial dos Serviços Internos da residência de Jonas Savimbi no Cuito (Bié), chefe da casa de Jonas Savimbi na Chicala Choloanga (Huambo) e director nacional dos Ficheiros Presidencial.

Manuel Cortez, formado em inteligência, contra-inteligência, espionagem e contra-espionagem, no ex-Zaire (República Democrática do Congo), Togo e África do Sul, disse que o actual secretário nacional para a Inserção Social da UNITA, o general Abílio Kamalata Numa, está a reunir ex-militares para a actualização de dados, com promessas de que só com a vitória do partido, nas próximas eleições, poderão ser inseridos na Caixa Social das FAA.

Chefe do sector nacional de Mobilização e chefe-adjunto do Departamento de Sondagem e Opinião Pública no Secretariado de Mobilização da UNITA, entre 2003 e 2019, Manuel da Conceição Cortez renunciou, ontem, em conferência de imprensa, no Memorial do Kifangondo, em Luanda, à militância no partido liderado por Adalberto da Costa Júnior.
Manuel Cortez justificou a renúncia por considerar que a UNITA "é um partido, onde impera o tribalismo, o regionalismo acentuado e dissimulado, e a intriga.”

Segundo o oficial superior, "a calúnia é tradição naquela organização responsável pela morte de milhares de cidadãos inocentes”.  "Existem na UNITA lutas desenfreadas para os cargos de deputados, comissários da Comissão Nacional Eleitoral e de assessores parlamentares, privilegiando descaradamente familiares próximos, deixando à deriva verdadeiros militantes que tanto deram e não são reconhecidos”, disse.

Manuel Cortez afirmou que, para a inserção na Caixa Social das FAA, a UNITA privilegia familiares mais próximos de responsáveis da direcção do partido, discriminando os verdadeiros oficiais das antigas FALA.
Antigo oficial de campo do brigadeiro Esteves Pena "Kamy”, Manuel Cortez afirmou que o actual presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, "não goza de boa simpatia interna, é uma figura de pouco relevo no processo de luta, não colhendo apoio das bases a nível nacional.”

Manuel Cortez, que ocupou, até 2019, o cargo de director de gabinete de Rafael Massanga Sacaíta Savimbi, no Secretariado para Mobilização Urbana, enquanto secretário-geral adjunto da UNITA, referiu que o que também fragiliza Adalberto Costa Júnior é o seu "carácter divisionista e cínico, criando divisão interna, alas e facções a nível dos órgãos centrais.”

"A UNITA hoje faz-se de vítima do suposto tribalismo e xenofobia que propaga nas redes sociais, alegadamente por ter um presidente mestiço. Mas é a própria UNITA quem discrimina Adalberto Costa Júnior, apelidando-o de filho do colono”, referiu, acrescentando que vai aderir ao MPLA, "por ser um partido verdadeiramente nacional e preocupado com o povo”.


Perfil de Manuel Cortez
Manuel da Conceição Faustino Cortez, 49 anos, natural de Luanda, é sociólogo e nunca foi desmobilizado. Com os pais filiados na UNITA, esteve nas regiões militares de Malanje, Bié e do Huambo e na Região Militar 66, quartel-general da UNITA, na Jamba, em 1982.
Frequentou o ensino primário e secundário no Centro de Formação Integral da Juventude Sem Fim, na Jamba, no Liceu Aurélio Tchipaco "Vida de Deus” e no Liceu Comandante Samandjolo, no Licua.

Fez formação militar de tropas especiais no Charlie 5, na Faixa de Caprivi (Namíbia), com instrutores sul-africanos e foi promovido ao posto de capitão. Até 1996, exerceu, entre outras funções, a de director nacional adjunto de Mobilização e Recrutamento. Foi promovido a major, em 1997, e submetido a um "refrescamento político-militar”, tendo cumprido várias "missões pontuais” e recrutado 1.400 mancebos para o Centro de Instrução do Mbimbe, no Huambo.
Chefiou dois batalhões no Huambo e, sob orientação do general Altino Sapalalo "Bock”, na altura chefe do Estado-Maior das FALA, foi chefe  interino de uma brigada na área do Sambo, Samboto, no Huambo.

Foi convocado pela direcção da UNITA para a área do Lumbala Nguimbo, onde recebeu a missão de abrir uma rota segura para Zâmbia, para apoiar a logística de Jonas Savimbi. Em 2000, foi promovido a tenente-coronel e nomeado coordenador de Mobilização, no COP Huambo.


  Partido do "Galo Negro” queixa-se de intolerância

A secretária provincial da UNITA no Huambo lamentou, ontem, supostos actos de intolerância política, ocorridos no dia 10, na aldeia de Nunda, sector do Samunguva, na comuna da Ngalanga, município do Londuimbali, situação que, alegadamente, tem forçado os cidadãos a abandonar a localidade, por razões de segurança.

Albertina "Navita” Ngolo, disse, em conferência de imprensa, que os supostos actos culminaram com a morte de um militante da UNITA, na aldeia de Katongo, comuna da Ngalanga, e agressões físicas a cinco pessoas, quando participavam numa reunião do partido.

A dirigente partidária repudiou este tipo de comportamentos, que "não contribuem para alicerçar um Estado de Direito e Democrático”. Acções desta natureza têm aumentado nos últimos tempos, disse, acusando os militantes do MPLA nos municípios do Longonjo, Cachiungo, Ukuma, Ecunha, Caála, Chicala-Cholohanga, Bailundo e Londuimbali de "fomentarem situações lastimáveis em tempo de paz”.

"Os angolanos conquistaram a paz com muito sacrifício, vários filhos deste país pagaram isso com o bem mais precioso, a vida”, lembrou Navita Ngolo, que apelou às autoridades competentes, nomeadamente ao Ministério do Interior, "a tudo fazer para responsabilizar, civil e criminalmente, os autores destes actos. "A UNITA está de mãos abertas ao diálogo franco”, garantiu a também deputada, que se manifestou "receptível a cooperar com todas as instituições do Estado, entidades religiosas, tradicionais e a população em geral para não se pôr em causa o processo de consolidação da democracia”.

"Estamos condenados a viver juntos, independentemente dos ideais política e partidários que cada um defende. Angola é a casa de todos nós e o respeito pela diferença deve fazer parte de todos nós, para que haja desenvolvimento e progresso do país, particularmente no Huambo”, enfatizou.

Adolfo Mundombe / Huambo

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