Cultura

Obra de João Melo será destaque na Feira Internacional do livro da Tunísia

Matadi Makola

O lançamento da tradução árabe do livro de contos "Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir”, do escritor João Melo, será o destaque da próxima Feira Internacional do Livro de Tunes, na Tunísia, que vai decorrer de 19 a 29 de Abril.

01/04/2024  Última atualização 10H15
João Melo é um dos mais aclamados escritores africanos © Fotografia por: DR

Numa mensagem partilhada através da sua página numa rede social, João Melo anunciou a sua presença no evento.

A obra já circula no mercado literário da Tunísia desde o dia 25 de Março, data em que foi distribuída às livrarias, sob chancela da editora Maison Du Livre, com tradução de Abdeljelil Larbi, tunisino radicado em Portugal, onde é professor de Literatura Árabe na Universidade Nova de Lisboa. Abdeljelil Larbi já traduziu para o árabe importantes nomes da língua portuguesa, como Camões, Pessoa, Saramago e Jorge Amado. 

Segundo Abdeljelil Larbi, em entrevista ao Jornal de Angola, o processo de tradução de "Imitação de Sartre e Simone Beauvoir” foi simples, realçando que o escritor João Melo ofereceu total colaboração desde o primeiro momento em que foi contactado. Após os acertos com as editoras árabes, o acordo estabelecido foi que a obra fosse primeiramente lançada na Tunísia, país do Norte de África. 

"A tradução deste livro de contos foi muito importante para mim, principalmente porque estudei essa obra na minha tese de doutoramento em Literatura Comparada e, portanto, tenho uma relação especial com esse livro além da minha admiração pelo seu estilo irónico ao descrever as transformações da sociedade angolana pós-Independência, que são quase semelhantes ao que aconteceu em alguns países árabes, especialmente na Tunísia”, justificou o tradutor.

Abdeljelil Larbi contou que descobriu a obra de João Melo há muitos anos, através do seu interesse pelos escritores lusófonos africanos, especialmente angolanos. Explicou que encontrou na obra de ficção angolana diferentes estilos, temas maravilhosos e mundos curiosos sobre as transformações da sociedade angolana. A sua primeira tradução de uma obra de literatura angolana foi "O Vendedor de Passados”, de José Eduardo Agualusa, em 2015.  O tradutor tunisino aponta como seu próximo desafio a tradução de"Diário do Medo”, o último livro de poesia de João Melo, lançado em 2021, pelo qual manifesta interesse em ver lido na língua árabe. 

Confesso apaixonado pela literatura angolana, Abdeljelil Larbi espera ter a oportunidade de traduzir outros escritores, tais como Pepetela, Manuel Rui, Kalaf Epalanga, Djamila de Almeida, Ondjaki e outros. 

"Acredito na riqueza da literatura angolana, bem como na necessidade de as literaturas do continente africano estarem abertas umas às outras, sejam elas escritas em árabes, português ou outras línguas”, sublinhou.

O livro de contos "Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir” foi lançado em 1998, reunindo dez estórias de "gente comum, estórias de gente que se encontra e, sobretudo, se desencontra, a maior parte das vezes, em confronto com a realidade que de repente deixou de fazer sentido para eles”.

Entre os 100 melhores livros

Reconhecido como um dos grandes escritores da sua geração, um nome incontornável da poesia angolana pós-Independência, João Melo nasceu em Luanda, em 1955. Estudou Direito em Coimbra e em Luanda. Licenciou-se em Comunicação Social e fez o mestrado em Comunicação e Cultura no Rio de Janeiro. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), onde ocupou diversos cargos.

João Melo é considerado um mestre do humor e da ironia, assim como um dos criadores do pós-modernismo africano. O escritor é conhecido pelas suas constantes experiências estruturais e linguísticas, a fim de criar narrativas surpreendentes.

Vencedor do Prémio Nacional da Cultura e Artes de 2009, na categoria de literatura, pelo conjunto da sua obra literária, João Melo é habitualmente publicado em Angola e Portugal, mas tem igualmente livros editados no Brasil, Itália, Cuba e Espanha.

Adoptando, sobretudo ironicamente, a temática dos rumos do processo histórico angolano, publicou doze livros de poemas, nomeadamente "Definição” (1985), "Fabulema” (1986), "Poemas Angolanos” (1989), "Tanto Amor” (1989), "Canção do Nosso Tempo” (1991), "O caçador de nuvens” (1993), "Limites e Redundâncias” (1997), "A luz mínima” (2004), "Todas as palavras” (2006), "Auto-retrato” (2007), "Novos poemas de amor” (2009), "Cântico da terra e dos homens”, e "Diário do Medo” (2021).

A essas obras acrescentam-se à sua produção literária cinco livros de contos, designadamente "Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir” (1998), "Filhos da Pátria” (2001), "The Serial Killer e outros contos risíveis ou talvez não”, "O dia em que o Pato Donald comeu a Margarida pela primeira vez” e "O homem que não tira o palito da boca”, assim como um ensaio jornalístico: "Jornalismo e Política” (1991).

Tem ainda poemas e contos publicados em várias antologias, revistas e sites literários em inglês, francês, alemão, árabe e mandarim.

Um dos seus contos - "O meu primeiro milhão de dólares” - foi publicado em inglês no site nigeriano Olongo África, traduzido pelo norte-americano Cliff E. Landers, tradutor habitual de vários escritores brasileiros.

De recordar que a sua colectânea de contos "And Suddenly the Flowers Withered and Other Stories”, que traduzido para o português significa "E de repente as flores murcharam e outras estórias”, foi considerada pela "Britte Paper", um importante site literário americano, vinculado à Universidade de Wisconsin-Madison, entre os 100 melhores livros africanos que se notabilizaram em 2023. Lançada com o selo da Europe Books, do grupo Europe Edizione, foi organizada e traduzida pelo renomado tradutor norte-americano Clifford E. Landers, que trabalha com grandes nomes da literatura em língua portuguesa, em especial brasileiros, como Jorge Amado, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Lima Barreto, Patrícia Melo e outros.

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