Opinião

O socratismo pandémico

Manuel Rui

Escritor

O muadiê começou a vida política como secretário de Estado do ambiente, sagaz, culto e de oratória que impressionava quem o visse nas televisões.

15/04/2021  Última atualização 08H10
 Lançou-se de peito às balas em matéria de cimenteiras para tratar o lixo que hoje tem valor energético e não só. Escolheu uma terra perto de Coimbra e logo o poeta da Praça da Canção, Manuel Alegre, histórico do mesmo partido a que pertencia o jovem engenheiro cuja licenciatura começava a ser contestada por ter sido eventualmente obtida nessas universidades de cuspe e giz.

Sócrates, de sua graça, subiu que nem foguetão a primeiro ministro mas governando em minoria em tempo de restos da crise mundial iniciada na a América com o banco Lehmon Brothers. Lançou-se no computador para as escolas "O Magalhães” que conseguiu vender à inocência de Hugo Chaves da Venezuela, encrencou uma empresa de telecomunicações para negócios com a Oi brasileira mais uma golden share à mistura, o seu ministro das finanças governava com PECS, espécie de empréstimos e chegou um dia que as finanças do Estado estavam falidas quase sem dinheiro pediu a entrada da Troika que, com o novo ministro Passos Coelho, Portugal ficou a ser governado pelos desígnios estrangeiros numa submissão superior a que Portugal sofreu com o domínio dos Filipes de Espanha. O primeiro ministro Passos Coelho face ao desemprego chegou a bradar "vão para Angola”…como se isto fosse um caixote do lixo oua gata borralheira de que falava o capitão Henrique Galvão…

Aqui é que começa a telenovela. Mas antes, quero lembrar que  outro Sócrates foi o filósofo da Grécia Antiga, a.c., que com Platão e Aristóteles são a base das filosofias ocidentais. Sócrates morreu vítima de um julgamento, acusado de violar a ordem vigente e condenado à morte por envenenamento com uma beberragem de uma erva letal: cicuta. Então, no meu colégio havia uma vítima, uma colega em litígio com a inteligência e foi à chamada, o professor perguntou se Sócrates tinha sido envenenado com cicuta e um colega estigou no ouvido dela "não, diz atropelado por um recruta”…que ela repetiu e foi a gargalhada geral, coitada da Angelina, se fosse hoje era bulling…

Agora este Sócrates decidiu ir para Paris estudar filosofia. Instalou-se num palacete em zona nobre e vinha a Portugal fazer para a televisão uma crónica política de bom nível comunicacional. E começou o cerco no jornalismo de investigação e outro de constante acusação e sensacionalismo que alimente uma televisão. O engenheiro vivia melhor que o ex-Presidente francês Sarkozy que acabou sendo julgado, condenado e detido, em França não houve alarido mas em Portugal, a telenovela Sócrates crescia…que o homem enquanto foi primeiro ministro favoreceu um grupo de empreitadas de um amigo para o Estado, teria recebido dinheiro de corrupção ativa de um dos Al Capones da Banca, Ricardo Espírito Santo, mais uma espécie de formação de quadrilha, como dizem os brasileiros, com uma série de gente de colarinho branco. O empreiteiro mandava dinheiro vivo que seriam pagamentos da corrupção e o estudante de filosofia socrática moderna esbanjava milhões de euros com garotas mas não vinho verde, talvez bordeaux, o motorista que levava os euros chamava-se Perna até que ai pernas para que te quero chamaram a Lisboa o engenheiro e quando desembarcou estava a televisão para filmar o engenheiro a ser preso e ir em cana direto para a cadeia de Évora onde esteve cerca de um ano. Claro que quem mandou chamar a televisão foi quem o mandou prender em estrito cumprimento do segredo da injustiça.

E o processo dura cerca de sete anos. São quilos e mais quilos de papel em volumes com aquela linha de agulha. Até que finalmente seria distribuído a um juiz a quem depois foi retirado e passou para outro num tribunal que só tem dois juízes e quase nem se pode falar em sorteio para distribuição. Produzida a acusação, finalmente, a audiência para despacho de pronúncia do juiz que, durante três e dez minutos, resumiu as seis mil páginas, desancando no procurador, ridicularizando-o até, deu no outro seu colega e até no Supremo. O tal Juiz Ivo Rosa, deu como prescritos os crimes de corrupção, ao banqueiro abreviou-lhe com abuso de confiança e para Sócrates e o amigo do dinheiro vivo sobraram três crimes de branqueamento e mais três de falsificação de documentos, outros talentosos talentos foram absolvidos.O processo tinha 28 arguidos. Dos 31 crimes da acusação a Sócrates sobraram seis e foi ilibado de 25, tendo o Juiz invocado prescrições e falta de consistência probatória. Sócrates saiu do tribunal como um gladiador que matou leões no coliseu de Roma. O procurador pediu em fim de audiência 120 dias para recorrer.

O Povão que já tinha sido empurrado pela comunicação social para o julgamento prévio em praça pública, ficou desvairado com este despacho de pronúncia, faz confusão como se de sentença se tratasse…e enquanto aguarda por vacina para o corona, para esta pandemia socrática nem vacina nem cicuta.

E é quase o linchamento do juiz, quer dizer, confinamento por via do quase desconfinamento de Sócrates, o povo julgou os ricos e agora fala que se um pobre rouba um chouriço num supermercado vai logo em galera e os ricos fartam-se de roubar e nada lhes acontece. Já corre um abaixo assinado com milhares de assinaturas para o juiz ir para a rua.

Moral da história… quiseram no processo Marquês (foi assim batizado) encher o saco com outros processos e deu salada russa, em vez de separarem o bacalhau à Bráz da chanfana e esta das iscas. Agora medita-se, comenta-se sobre os mega processos…porém o Sócrates filósofo da antiguidade teria muito que aprender com este para não ser condenado como foi.Fico a imaginar que se houvesse na justiça portuguesa um VAR como há para o futebol, o juiz Ivo Rosa, nas dúvidas, fazia aquela sinalética do VAR e esperava pelo veredito da cidade da justiça…

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