Opinião

O sector da construção como alavanca do desenvolvimento sustentável

Com a recessão e declínio dos níveis de actividade económica nos últimos anos, o sector imobiliário e da construção sofreu um grande revês, reflectido no recrudescimento da actividade, que, no 1º trimestre de 2017, registou uma taxa de crescimento de 4,8% e, no 1º trimestre de 2020, de cerca de 2,9%.

13/04/2021  Última atualização 06H10
O sector imobiliário e o da construção assumem-se como verdadeiras alavancas da actividade económica, pois, ao contrário do sector petrolífero e de outros de actividade, funcionam como molas propulsoras, influenciando variadas actividades económicas, desde a indústria extractiva à transformadora, com destaque para a construção de cerâmicas, vidros, carpintaria, marcenaria, tintas, etc.

O sector imobiliário tem uma importância económica e social crucial. Considerando o crédito à construção e o crédito à actividade imobiliária alavancas para o crescimento económico, esses volumes de empréstimos oriundos da banca representaram, em 2019, cerca de 1.250 mil milhões de Kwanzas, correspondendo a 25% do crédito bruto concedido.

Para percebermos a relevância desde sector, é importante reter que a necessidade de infra-estruturas, habitação própria e habitação social e condigna é um tema permanente das sociedades modernas, que apela fortemente ao investimento. Mesmo em períodos de crise, é importante que o sector privado encontre soluções capazes de garantir o aumento da oferta, quer em infra-estruturas, quer de equipamentos habitacionais dirigidos aos diversos segmentos de mercado.

É importante referir que o sector enfrenta um ciclo recessivo, decorrente da situação macro-económica e da pandemia da Covid-19, em que o preço dos imóveis estabilizou relativamente e o poder de compra dos consumidores decresce, em função do actual quadro macro-económico e das políticas restritivas de acesso ao crédito bancário.

 É evidente que a recuperação do sector imobiliário depende fundamentalmente da melhoria dos indicadores macro-económicos, porque, apesar de existirem grandes potencialidades, é preciso que o cidadão ganhe poder de compra, num mercado que depende sobremaneira do crédito e das taxas de juro praticadas, que inviabilizam a sua expansão.

O mercado imobiliário dificilmente irá realizar a retoma significativa, sem a redução da inflação e da taxa de juros, que devem baixar significativamente, para que seja mais fácil ao cidadão adquirir os seus imóveis e aos empresários participarem, de uma forma mais activa, no seu desenvolvimento. Porém, também espera-se pelo relançamento das empresas que fornecem as matérias-primas para o sector da construção e a estabilização de preços, uma vez que, no pico da pandemia, verificou-se uma baixa na produção de insumos, com impacto no aumento dos preços dos materiais e dos projectos de construção.

A recuperação do sector suscita grande expectativa, porque existem muitas distorções de mercado que ainda persistem e fazem com que o mercado, em alguns casos, apresente uma certa sobrevalorização de activos, que precisam de ser corrigidos.

No passado, os grandes movimentos migratórios intra-territoriais davam-se sobretudo do campo para a cidade. Hoje, esta tendência inverte-se, graças a certas conquistas no plano tecnológico e também pela incapacidade das grandes cidades poderem realizar o sonho de cidadãos que viam nas cidades a possibilidade de oferecer melhores condições de vida, movimentos esses que permitirão, a curto prazo, o aparecimento de novas cidades no interior.

Ora, estes factores terão um efeito determinante no crescimento e desenvolvimento das cidades. Por outro lado, o excesso de população, a falta de planeamento urbanístico são factores que aceleram a obsolescência das infra-estruturas. Portanto, um rol de constrangimentos para os grandes centros urbanos, que encaram uma pressão enorme sobre as infra-estruturas, particularmente as de abastecimento de água, energia, saneamento, transportes e habitacional.

 O Estado e o sector financeiro desempenham um papel crucial, uma vez que o custo de crédito é um factor essencial para estimular a actividade do sector.  Portanto, implantar pólos universitários em algumas regiões, para que possam atrair jovens empresas empreendedoras, garantir o financiamento dos vários sectores da região, por via de instituições de crédito a médio/longo prazo, pode ser um caminho a seguir. 

 Este intento é perfeitamente exequível, desde que suportado por uma estratégia que permita a participação do Estado, do sector financeiro e da sociedade, sabendo que é preciso motivar e mobilizar os cidadãos e empresas a instalarem-se e desenvolverem o interior do país. Há condições para criar pólos de desenvolvimento com grande influência sobre a economia nacional e atrair empresas para zonas que são hoje desérticas e criar os novos centros de excelência, competitivos e geradores de inovação e desenvolvimento, que constituirão a matriz das futuras megapolis do país.
*Economista

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