Opinião

O reinado do petróleo ainda está para durar

O petróleo ainda vai continuar a reinar, como fonte de energia, por muitas décadas. Apesar da crescente aposta nas energias renováveis e limpas por todo o mundo, com destaque para os avanços tecnológicos que temos vindo a assistir nos Estados Unidos e na Europa, de um modo geral, para substituir os combustíveis fósseis pela electricidade, pela energia eólica (dos ventos) e pela fotovoltaica (placas solares), a verdade é que não será tão fácil, e em curto espaço de tempo, deixar de utilizar a gasolina, o gasóleo e outros derivados do petróleo.

16/04/2021  Última atualização 06H00
Tão forte como esta conclusão é o facto de os Estados Unidos terem até mesmo apostado, recentemente, na exploração de petróleo de xisto, apesar de todas as inovações tecnológicas no sentido de diminuir a dependência da economia do ouro negro.

 Se podemos celebrar o surgimento de novas fontes de energia, que garantem uma melhor qualidade de vida ao homem, porque amigas do ambiente, por não contribuírem para o aumento de emissões de dióxido de carbono, também é verdade que o homem, graças ao desenvolvimento industrial e económico que obteve com a exploração de petróleo, do qual se tornou fortemente dependente, não vai poder prescindir totalmente dos seus benefícios.

 Do petróleo não se extraem apenas os combustíveis que servem para mover os carros. Os plásticos representam hoje em dia um grande contributo para as economias e, não obstante terem sido descobertas novas formas de o obter, foi e é a partir do petróleo que nos chega às mãos grande parte dos produtos que hoje inundam o mercado mundial. Outrossim, não é hoje possível falar da transportação aérea e da navegação marítima internacional sem se ter em conta que os aviões e os navios, tanto de pequeno, quanto de grande porte, precisam e dependem do combustível obtido a partir do petróleo para as viagens.

 A realidade nos países do Terceiro Mundo, particularmente em África, ainda é mais dramática no que aos transportes ferroviários diz respeito. Sem diesel, nada anda! Nos países desenvolvidos, já os vemos movidos a energia eléctrica e a realizarem o transporte de passageiros a grande velocidade. Portanto, o valor económico do petróleo ainda vai perdurar por muitos anos. Apesar de se estar já a celebrar a chamada "economia ecológica”, não poluidora do ambiente. E, por assim ser, por o petróleo ainda continuar a dar receitas financeiras que vão permitir impulsionar sectores chave - através da implementação de vários projectos que podem ajudar a diversificar a economia nacional e, assim, modificar a estrutura económica do país -, faz todo o sentido que o Executivo avance com a exploração racional de hidrocarbonetos nas áreas de conservação ambiental.

 O argumento de que o mundo entrou/entra na era da "economia ecológica” e que, por essa razão, devemos abster-nos de realizar a prospecção e exploração de crude em bacias sedimentares onde se situem reservas naturais, não traduz uma visão pragmática em relação àquilo que é a realidade económica de Angola. Uma "economia ecológica”, sabemos, leva décadas a ser construída. Mesmo países mais desenvolvidos ainda não as possuem. Estão a caminhar para lá, mas falta muito. Não é com um estalar dos dedos que as coisas acontecem.

 Entre nós, o modismo no uso das palavras leva-nos a empregá-las com um sentido de urgência que esquece com que pernas se move a economia angolana, com que meios ela conta para poder manter-se de pé. Essa atitude entusiástica, que é de enaltecer, porque as pessoas procuram estar actualizadas em relação a novos conhecimentos, não nos deve, todavia, levar a deixar de olhar com olhos de ver aquilo que é a nossa existência real.

 Isso não significa, entretanto, que o país não deve acompanhar as novas tendências que se verificam na economia mundial. Devemos preparar-nos - como aliás está a ser feito - para ter os carros eléctricos, para potenciar o uso da energia limpa, de modo a que possamos fazer uma transição sem sobressaltos. Há projectos em marcha e acredito que não seremos apanhados desprevenidos.

 Mas, por enquanto, cuidemos, com atenção redobrada, de relançar a economia nacional. E isso só poderá ser feito se for possível realizar novas descobertas de petróleo nas bacias do Kwanza, do Congo, do Etosha/Okavango, do Namibe e outras, explorá-lo e comercializá-lo para a obtenção de verbas indispensáveis para pôr em marcha todo o processo de transformações que o Executivo se propõe concretizar.O reinado do petróleo ainda está para durar.

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