Quando, em 2017, João Lourenço elegeu a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade como os principais males a combater durante o seu mandato como Presidente da República, poucos acreditaram que esta aposta tivesse pernas para andar.
Estive recentemente nas Ilhas Maurícias, tidas por muitos como um paraíso na Terra. Voei para lá a partir do Dubai. Quando esperávamos pelo voo notei grupos de polacos, russos — muitos turistas da Europa do Leste que tinham fugido do inverno do Hemisfério Norte.
A corrupção dos Governos do PT é um dos últimos argumentos de muitos dos eleitores do actual Presidente, Jair Bolsonaro.
Tal corrupção existiu, sim, mas manda a honestidade reconhecer dois factos: primeiro, a corrupção no Brasil não é, obviamente, uma invenção de Lula ou do PT (só para dar um exemplo recente, a corrupção na Petrobrás já vinha dos governos anteriores); segundo, tal corrupção não atingiu Lula pessoalmente (ele ganhou na justiça 26 casos levantados contra ele, o que basta para encerrar a discussão sobre o seu hipotético envolvimento em casos de corrupção).
Mais importante do que isso: foram Lula e os Governos do PT que criaram mais condições para que as instituições brasileiras, a começar pela Polícia Federal, investigassem casos de corrupção. A referida investigação, portanto, não começou com a Lava Jato. Aliás, a operação protagonizada pelo ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba revelou-se uma mera estratégia para impedir Lula de concorrer às presidenciais em 2018 e de possibilitar a chegada ao poder das suas principais figuras. Isso acaba de ser parcialmente conseguido, com a eleição de Moro para o Senado e de Sérgio Dallagnol para a Câmara de Deputados.
Como se fosse necessário, os dois já declararam o seu apoio a Bolsonaro no segundo turno. O insuspeito Estado de São Paulo não hesitou e, em editorial publicado no último domingo, 9, escreveu: "Uma operação estatal cujo objectivo era apurar diferentes modalidades de desvio de recursos públicos para fins particulares tornou-se ela mesma instrumento para a promoção de objectivos particulares: a eleição de ex-funcionários públicos e seus parentes. (...) A transformação da Lava Jato num projecto político-partidário representa um significativo retrocesso institucional”.
Finalmente, não são apenas esses factos que demonstram que a bandeira anti-corrupção de Bolsonaro e dos seus aliados é hipócrita e falsa. Há décadas que todos eles estão envolvidos em esquemas de enriquecimento ilícito. Recentemente, veio à tona o caso da aquisição por parte do clã Bolsonaro de 51 imóveis com dinheiro vivo. Mas o episódio mais clamoroso foi a aprovação de um "orçamento secreto”, que não passa de um esquema de distribuição de verbas para os correligionários políticos do actual Presidente, com notórios fins eleitoreiros. Os números desse orçamento ultrapassam de tal maneira os casos do "Petrolão” ou do "Mensalão”, descobertos no tempo do PT, que muitos especialistas o consideram "o maior escândalo de corrupção da história da República”. Segundo eles, a imprensa deveria chamá-lo "Bolsolão”.
Não é, pois, a corrupção o que está em jogo nas eleições de 30 de Outubro no Brasil. Será a economia? É o que pensa o Folha de São Paulo, cujo editorial do último domingo se intitulava, sugestivamente, "É a economia, Lula”. Segundo o jornal, porta-voz da alta burguesia paulista e brasileira, o candidato da ampla frente democrática montada para enfrentar Bolsonaro "está obrigado a dizer o que pretende mudar ou preservar na economia”. Uma das "exigências” desse sector é que Lula revele o seu provável ministro da Economia. O jornalista Jânio Freitas respondeu assim: "A exigência do nome já, e que saia da turma obcecada pelos cifrões privados, é só pretexto para apoiar Bolsonaro com o engodo de que o fazem por indefinição de Lula”.
O que está em jogo nas actuais eleições brasileiras foi definido incisivamente pelo pastor evangélico Ed René Kivitz. Num vídeo que se tornou viral nas redes, afirmou ele: - "Nós não estamos discutindo mais corrupção. Nós estamos falando de modelo de civilização, de sociedade. Uma sociedade que quer manter-se estratificada. Nós temos um contingente significativo da nossa sociedade que quer manter a ordem social estabelecida. Homem vale mais que mulher, hétero vale mais que gay, magro vale mais que gordo, branco vale mais que preto, rico vale mais que pobre, europeu e americano vale mais que brasileiro, vale mais que sul-americano e africano. Que Brasil é esse?”
Faltam apenas as conexões internacionais das actuais eleições no Brasil. Será o tema da próxima coluna.
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginSão múltiplos cenários que se podem observar do livro “Fundamentos Filosóficos do Insucesso das Reformas Educativas na África Bantu: O caso da RDC, da Zâmbia e de Angola”, de Carlos Gime, que careceram do autor fundamentos numa perspectiva filosófica, visto que a educação bantu, mesmo no período pós-colonial esta(va) ao serviço de seus colonizadores, o que, de certo modo, influenciou grandemente no (in)sucesso da educação na RDC, na Zâmbia e em Angola.
Fazendo jus ao ditado segundo o qual “o cavalo engorda com o olhar do dono”, a Coordenação do Grupo Técnico para Implementação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), encabeçada pelo secretário de Estado Márcio Daniel, deixou, no fim da semana que hoje termina, o conforto dos gabinetes para ver de perto como estão a decorrer os trabalhos sob sua responsabilidade na província de Luanda.
A luta contra a (de)colonialidade pegou. Nos últimos anos muitos autores procuram questionar a dita modernidade imposta por um sistema capitalista pelo facto de não conseguir responder inúmeros questionamentos sobre o eurocentrismo do saber, do fazer e do estar. Trata-se, aqui, de práticas de vida e modos de vida que forçadamente a colonização silenciou e invisibilizou.
Uma semana depois do alerta lançado pela conselheira especial da ONU, Alice Wairimu Nderitu, para a possibilidade de ocorrência de um novo genocídio no Leste do país, o Papa Francisco iniciou terça-feira uma visita de três dias a República Democrática do Congo, tendo, logo no primeiro dia, feito declarações que ecoaram pelo mundo e não deixaram os meios políticos indiferentes.
O Mestre FIDE Internacional, Eugénio Campos conseguiu o segundo lugar, este sábado, pela equipa Associação Internacional de Xadrez para Deficientes Físicos (IPCA), medalha de prata e conquistou uma medalha de bronze a título individual, na primeira paralímpiada de Xadrez que decorreu, em Belgrado, na Sérvia, de 29 a 5 de Janeiro.
A privatização da empresa de Transportes Colectivos e Urbanos de Luanda – TCUL E.P continua na agenda do Estado, mas com a necessidade de se concluir o processo de saneamento económico-financeiro, e também da reestruturação ainda em curso.
Um total de 1.300 casos de cancro são diagnosticados, anualmente, em Angola, de acordo com os dados do Instituto Angolano e Controlo do Cancro (IACC), divulgados, ontem, por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro.
O Papa Francisco pediu, este sábado, aos dirigentes do Sudão do Sul “um novo avanço” a favor da paz no território dividido por lutas de poder e pobreza extrema, no âmbito da visita que está a realizar ao país.
A missão de paz da ONU no Mali “não é viável” sem aumentar o número de forças de paz, de acordo com um relatório preliminar, daquela organização, obtido pela AFP, que menciona uma possível retirada de tropas se as principais condições não forem atendidas.