Opinião

O que África pode esperar de Lula?

Osvaldo Mboco

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

É importante anotar que o Brasil esteve distanciado do continente africano no consulado do antigo Presidente Jair Bolsonaro, que não inseriu o respectivo continente na pauta da Política Externa do seu país. Entretanto, não é menos verdade anotar que, durante os 12 anos de governação do PT, o país esteve mais presente em África, por meio da cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

27/01/2023  Última atualização 06H05

O Brasil é um país importante no Sistema Internacional pelas características que possui e pelo papel que pode jogar no "status quo” do mundo, principalmente nas questões ligadas à segurança alimentar, com a guerra que domina o Leste da Europa, entre a Rússia e a Ucrânia e que acarreta consigo consequências terríveis para o berço da humanidade, que é dependente dos cereais e grãos provenientes desses dois Estados.

Entretanto, o Brasil é, ainda, o terceiro maior produtor mundial de alimentos, o primeiro de proteína animal e um dos maiores exportadores da América Latina. O país esteve na base da criação do G-20 e dos BRICS. É igualmente a 9 ª  maior economia do mundo (na era Lula, chegou a atingir o sexto lugar).

Todavia, é também importante sublinhar que o contexto e as circunstâncias por que o Presidente Lula regressa ao poder são completamente diferentes de quando deixou a Presidência, o que lhe obrigará a proceder a uma maior gestão parcimoniosa dos recursos disponíveis, tendo como um dos primeiros desafios a redução do índice de pobreza e fome. No entanto, não se pode fechar e muito menos descorar a cooperação com a África.

O continente africano é a esperança do mundo, na busca de novos mercados e conquista dos espaços, considerando as riquezas que repousam no seu solo e subsolo.

 "África é a última fronteira do capitalismo”, tal como disse Achille Mbembe, filósofo e pensador camaronês.

Secundando o pensamento acima, o autor, no seu livro "Os Desafios de África no século XXI - um continente que procura reencontrar-se”, sustenta que as maiores potências económicas mundiais têm procurado zonas de influências através de plataformas cujo raio de acção transcende as suas fronteiras, usadas como um instrumento das suas políticas externas. Todavia, o continente africano tem registado uma corrida desenfreada das economias mais desenvolvidas em determinadas áreas, nalguns casos, e, noutros, com uma extensão a nível continental.

O primeiro passo que o Presidente Lula poderá dar em direcção à África é a reabilitação ou recolocação do Brasil no mapa político africano para as questões ligadas à cooperação comercial, adequação ou reajuste das parcerias existentes diante do contexto mundial.

O grande "handicap” da relação de África com os terceiros  Estados é a questão da segurança continental, que gravita em várias ordens, desde a política, a económica e a social, agravando-se com a precariedade do ambiente de negócios que inibe os investidores de deslocarem unidades fabris para os Estados africanos. Todo e qualquer investidor investe num Estado que lhe oferece segurança e que possibilita o crescimento económico e desenvolvimento da sua empresa, mais o retorno do capital investido.

Num contexto complexo e de incertezas que o mundo atravessa, completamente dividido devido aos vários acontecimentos que dominam a pauta internacional, o Brasil poderá constituir-se numa alternativa  para os Estados africanos, no sentido de aumentar o volume de negócios. 

No entanto, para isso, é fundamental que os países africanos operem transformações estruturais e estruturantes que concorram para a  melhoria do ambiente de negócios.

O continente africano tem  terras aráveis e férteis para a agricultura, rios e mares em abundância, uma flora e fauna invejáveis. O Brasil pode cooperar com os Estados africanos no sentido da modernização agrícola, se partirmos do pressuposto de que o país tem uma vasta experiência na agricultura e o continente apresenta os piores índices de crise alimentar.

Assim, essa possível cooperação serviria de alavanca para a autosuficiência alimentar do continente e reduziria a dependência de produtos agrícolas dos terceiros Estados. Entretanto, a par disto, é relevante que o continente trace um Plano de Industrialização Continental, com o fito da indústria transformadora.

Se a agricultura é a base e a indústria é o factor decisivo, conforme defendeu o presidente António Agostinho Neto, um dos nacionalistas africanos do século XX, então, o continente precisa passar da teoria à prática.

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