Cultura

O papel crucial do grupo JULU

Analtino Santos Manuel Albano

Jornalistas

As artes cénicas, com realce para o teatro comunitário, desempenharam um papel crucial na transmissão de conselhos úteis. O grupo de teatro Julu, fundado a 9 de Junho de 1992, foi um dos mais notáveis, com personagens bem conhecidas como "Avô Ngola”, interpretado por Manuel Teixeira, e “Visolela”, vivida por Domingas Mendes.

04/04/2024  Última atualização 14H20
© Fotografia por: DR

Para dar suporte ao projecto, o Grupo Julu criou a rede nacional de teatro comunitário, que contribuiu muito para o reforço e propagação da mensagem de paz, perdão e reconstrução nacional, em parceria com o UNICEF e MONUA(Missão das Nações Unidas em Angola).

Um sonho por realizar

Um dos marcos do grupo foi a exibição da peça " Um sonho por realizar”, no Teatro Avenida, em meados da década de 1990, com uma assistência composta por deputados, membros do Governo, corpo diplomático e membros da ONU, incluindo Alioune Blondin Béye, então representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU) em Angola. A peça foi escrita por Alves Sardinha e retratava o grito das crianças apelando à paz e à necessidade de os políticos trabalharem em conjunto para o bem comum.

Regozijado pela pertinência da peça e de todo o trabalho do JULU, Alioune Blondin Béye endereçou uma carta de felicitação ao grupo, destacando o trabalho notável em prol da paz e reconciliação nacional.

Mais de 20 anos depois, Conceição Diamante, conhecida nas lides artísticas como "Catarina”, personagem que interpretou na telenovela de produção nacional "Reviravolta”, realça que o grupo precisava de fazer um pouco mais "pelas famílias angolanas”. 

Domingas Mendes, mais conhecida por "Vissolela”, personagem de um teledrama do UNICEF, de sensibilização sobre as minas, nos anos de 1990, transmitido pela TPA, disse que o momento é de reflexão, pelo facto de o grupo ter tido altos e baixos nestes 31 anos de existência.

A actriz Maria Cassule está no grupo há 31 anos. Durante muito tempo, foi a mascote da rubrica "A Estrelinha Cuia como Sambapito”, da campanha de vacinação contra a poliomielite.

O actor António Francisco, membro co-fundador do grupo, disse que o colectivo tem sido resiliente e uma das grandes referências do teatro angolano ao longo das últimas décadas.

As artes ao serviço da paz e da reconciliação nacional

Os  artistas sempre  estiveram  presentes  nos  vários  processos  históricos  do  país. A celebração do Dia da  Paz  e da Reconciliação Nacional não foge à regra, sendo uma missão que os artistas, da música ao cinema, abraçaram de forma exemplar durante as décadas da guerra civil,  além de terem sido"obreiros” no processo de reconciliação nacional.

Para assinalar a data de hoje, o Jornal de Angola traz os depoimentos de Dom Kikas e de Jenifer Tavira.

Celebrando 30 anos de carreira e 50 de vida, prevendo uma tournée, que inclui concertos em diversas províncias do país e no exterior e o lançamento de um livro autobiográfico, Dom Kikas recordou vivências marcantes da sua trajectória.

Experiência inesquecível

O músico partilhou, recentemente, um momento que considerou fundamental e de grande valor pátrio, refente a uma actuação realizada um ano antes da conquista da paz.  "Em Janeiro de 2001, durante o período da guerra civil, fomos cantar no município do Bailundo (Huambo), que tinha sido recentemente palco de grandes batalhas. Viajámos num voo militar e, quando lá chegámos, deparámo-nos com um cenário triste e devastador. Uma localidade quase completamente destruída. Montaram a aparelhagem num passeio, ao lado da estrada, e actuámos ali mesmo. Foi gratificante ver a alegria do povo. Até os militares punham as armas de lado para dançar. Eu, Maya Cool, Yola Araújo, Action Nigga e os músicos da banda vivemos uma experiência inesquecível”, recordou Don Kikas, autor de vários sucessos.

Música "nova Angola”

Na voz de Jennifer Tavira, uma jovem  cantora  oriunda do Namibe, a música "Nova  Angola” tornou-se num verdadeiro hino. Lançada a partir da República Popular da China, em 2017, onde residia, na qualidade de estudante de Biotecnologia, na cidade de Wenzhou, a música começou a  tocar  sem que ninguém conhecesse a intérprete.

Jennifer Tavira era desconhecida pelo grande público e dava os primeiros passos na carreira musical. Antes deste sucesso, que rapidamente "viralizou”, carregava  na  bagagem  apenas a  experiência  nos  grupos  corais  da  Igreja  Metodista

 do  Lubango e  os primeiros  passos  como profissional, em Nairobi,  no Quénia, onde frequentou  o  curso  de  música  na Kamata  School.

O conteúdo, a simplicidade e objectividade da mensagem  em "Nova  Angola”  despertou interesse  nacional  e foi imediatamente acolhida pela comunicação  social, retirando Jennifer Tavira do anonimato levando-a para  o grande ecrã.

A   música "Nova Angola” tem a composição de Ludo Lupembe e a  produção do nigeriano Kenzeal.

O sucesso teve eco também na China, onde começou a receber vários convites para actuações. O mais relevante foi o pedido para a gravação de uma versão do tema popular chinês "Wo Ai Ni Zhong Guo”, que significa "Eu amo a China".

A música levou Jennifer Tavira a produzir outros  temas com a mesma mensagem apelativa ao amor pátrio, nomeadamente  "Levanta a Cabeça" e "Sou Angolano”.

Abraçar e Perdoar

No âmbito da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos, foi lançado, em 2020, o hino da campanha "Abraçar & Perdoar", que contou com a participação de músicos consagrados, num coro de vozes que reuniu Matias Damásio, Gersy Pegado, Margareth do Rosário, Filho do Zua, Puto Português, Dom Caetano, Bambila, Jeff Brown, Sabino Henda, Selda, Ary, Walter Ananás, Yannick Afroman.

A palavra de ordem foi "filhos da mãe Angola” que seguem juntos, "curando as feridas e os rancores do passado”. O projecto voltou a juntar, em Novembro do ano passado, os músicos Yannick Afromam, Mago de Sousa e Jennifer Tavira, que cantam uma Angola de "irmãos que se sentam à mesa”. 

 

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