Opinião

O País das bananas

Adebayo Vunge

Jornalista

Essa expressão é muitas vezes utilizada num tom jocoso, para repugnar a ausência de firmeza e autoridade do Estado, dando assim lugar a uma ideia de desordem e de caos.

29/05/2023  Última atualização 09H22

Mas não é agora presentemente o caso que pretendo utilizar com essa expressão.

Socorro-me apenas dela para manifestar o meu verdadeiro agrado pelo anúncio, recentemente, de que Angola estará cotado como o maior produtor de bananas em África.

E, isso não é difícil de atestar para quem anda um pouco pelo país ou ainda quem tem a possibilidade de ir às praças e aos supermercados. Para quem circula pelas ruas da cidade e depara-se com as nossas zungueiras carregadas de frutas, nesse caso particular também de bananas.

Portanto, os nossos níveis de produção interna são assinaláveis e veio agora o reconhecimento internacional, sendo fundamental que possamos manter os níveis e quiçá elevar ainda mais o potencial que temos nessa fruta e noutras. Julgo que podemos estar a assistir movimentos similares em frutas como o ananás, a manga, o maracujá e quiçá o abacate.

Ora, em primeiro lugar, chamo atenção à necessidade que temos de induzir o consumo da banana e das frutas de uma maneira geral no seio da nossa população e de forma particular entre as crianças. Assusta-me, muitas vezes ver que as próprias vendedoras, por razões sociais e económicas, mas também por questões de hábitos de consumo do produto, não consomem uma única fruta por largos períodos de tempo, apegando-se assustadoramente às famigeradas "Conchas” e "patinhas” de frango que pululam por aí.

Mas estando nós diante de um produto em que se regista escala, é importante que possamos replicar esse bom exemplo da banana para outras culturas. E chamo atenção para outras culturas que têm peso de comoditties no mercado internacional de bens, como é o caso do abacate, café, cacau, algodão e a mandioca. Pois, além de estarem cotados e transacionados em bolsas, estes produtos têm hoje uma elevada procura e consumo internacional.

Portanto, se do ponto de vista dos factores de produção como é o caso da terra e do factor homem (trabalho) estamos mais ou menos em condições de fazer face ao desafio, o mesmo nem sempre se coloca quanto ao capital. E, aqui, é fundamental que o sistema financeiro possa encontrar soluções que visem mobilizar fundos para investirmos cada vez mais na agricultura, uma vez que o produto tradicional do crédito apresenta ainda inúmeros constrangimentos. Assim, para além do Estado ser chamado a dinamizar facilidades de crédito, vamos precisar de continuar a mobilizar poupanças e recursos internos para atender essa demanda tão elevada pelos produtos agroalimentares.

Essa abordagem pela agricultura é estratégica. Em primeiro lugar porque permite-nos libertar-nos do espetro de fome que paira em algumas partes do nosso território.

Não faz qualquer sentido, uma vez que o nosso problema será então o aumento dos níveis de produção e também o das cadeias de distribuição. Precisamos de logística para levar o que é produzido no meio rural para as grandes cidades. Há, pois, trabalho e mais do que isso mercado.

Em segundo lugar, e fundamental do ponto de vista de posicionamento estratégico do nosso país, a aposta na produção agroalimentar não visa apenas a nossa própria segurança alimentar. Essa aposta leva em consideração o mercado potencial que existe ao nosso redor no mercado da áfrica central onde os Congos ocupam um lugar potencial inquestionável, mas igualmente ao nível da África Austral, tornando a nossa produção suficientemente competitiva para estar presente aqui e quiçá noutros mercado transatlânticos, em particular pensando na Europa.

Então, a agricultura e o exemplo da banana devem ser seguidos pois tem já atrás de si pequenas indústrias de processamento, emprega pelo País, milhares de jovens e acima de tudo trata-se de um mercado gerador de renda, que valerá a pena mensurar proximamente para que tenhamos uma fotografia mais real.

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