Cultura

O ministro e o kuduro

Entraram sem pedir dá licença em casa do Mamungua, que estava a pancar (comer) o seu mufete de peixe espada com farófa (farinha muceque misturada com cebola picada e um fio de azeite doce ou mesmo óleo maná).

07/03/2021  Última atualização 14H12
© Fotografia por: Arquivo
Mamungua ao ver o Kinama, o Panhanha, o Tipo nos Firmes, o Luando e o Esteira a entrarem a gritar levantou da cadeira e disse: "éh, éh, éh. Aqui é uma casa de respeito. Não é uma casa para entrarem a gritar. Abancam (sentem-se), agora, como manda a boa educação daqueles tempos, dizem bom dia Mamungua”. E os candengues disseram.
Como mandam mesmo os hábitos e costumes da terra, Mamungua os convidou dizendo que quem está fobado (com fome) pode servir à vontade, mas advertiu, como sempre, que não queria ouvir mabossos (conversas)  sobre política.

Por alguns minutos, cumpriram com o "mandamento” do Mamungua: "Não falar sobre política”. Mabossaram sobre o futebol, onde o Esteira dizia que o 1º de Agosto é que tem mais dinheiro, porque desconta dos militares, mesmo que muitos destes não sejam adeptos desse clube. O Luando dizia que o Petro tem mais adeptos em Angola e é que zoza (paga) bem.
Mamungua é um adepto e sócio do grande Progresso Associação do Sambizanda (PAS). Para ele o PAS é o melhor clube de Angola porque sempre deu alegria ao povo angolano. Os outros do asfalto chegaram onde chegaram porque têm kitadi (dinheiro). "Por isso aqui no meu balandi (casa) não quero ouvir falar dessas equipas. Aqui é só Progresso e sempre Progresso”.

Eles aceitaram o desafio, só que Panhanha e o Kinama fintaram, não honraram o compromisso de não falarem política. Entraram no mundo da política. Falaram sobre o julgamento dos ditos marimbombos, autarquias e do polícia agente e da polícia instituição.
Mamungua futucou para que esgalhassem (saíssem) da sua casa, porque ali não era lugar para mabossarem sobre polícia.
Kinama, em nome dos outros companheiros pede desculpas. Porquê? Porque a kudia (comida) estava a lhe saber bem. É assim que conta o mambo do ministro, o irmão do Kadiapato, que desde que subiu nunca pisou no mbila (Sambizanga).
O Kinama disse que quando o filho do ministro completou 15 anos, o nganvive (pai) deu uma grande festa, mas com a recomendação de não tocar músicas de "bandidos”, o kuduro.

Isto porque convidou os seus colegas ministros e outras altas entidades.
O candengue aceitou, Quinze anos são 15 anos. Ele convidou os seus pidimos (primos), avilos (amigos) e vizinhos.
O ministro é que fechou o negócio com o DJ e pediu, segundo o Kinama, para não tocar músicas de "bandidos” ou do subúrbio. Passadas quatro horas os candengues já não estavam a se rever na música dos mais velhos.
Ele como aniversariante faz um truque daqueles que fazem os do Sambizanga, Rangel, Cazenga e Cassequele, vai ter com o nganvive, segundo o Kinama, e depois vai ter com o DJ e manda meter uma música do estilo kuduro. O DJ aceitou porque lhe viu a falar com o pai.

Quando a música começou a bater todos os ministros e convidados entraram na pista, O pai ministro ficou em parampas (descontrolado). Dançou bué. Deu grandes toques e se houvesse concurso de dança kuduro seria o vencedor.
Só que arranjou um grande dikulo (maka/conversa) em casa. É que a mulher quer saber onde é que ele aprendeu a dançar kuduro, quando ele só sai de casa para o serviço e vice-versa e não deixa os miúdos ouvirem a música do seu tempo.

Grande maka!

Pereira Dinis 

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Cultura