O mais antigo conflito entre dois povos no Médio Oriente, envolvendo judeus e palestinos, entre o Estado de Israel, a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) e todos os grupos que lutam para a instauração do Estado daqueles últimos, entrou para uma fase em que aquele desiderato, além de deixar de ser assumido, parece começar a fazer pouco sentido quando se fala em “solução dos dois Estados”.
A assumpção da chamada "solução dos dois Estados”, de que fiz referência, além das partes directamente envolvidas, nomeadamente os israelitas, cujo Estado e sociedade pendem perigosamente para a extrema-direita, os palestinos, cujas lideranças, oficiais e oficiosas (ANP e os grupos fundamentalistas), era suposto ser avocada pelos Estados Unidos, pela ONU, pelo moribundo Quarteto do Médio Oriente para Paz e, final ou eventualmente, pela Liga Árabe.
Feliz, para alguns, e infelizmente, para outros, inclusive a era em que as negociações de paz serviram como estratégia de gestão do conflito, mesmo quando não levasse a lugar nenhum, por força das sucessivas eleições legislativas antecipadas, em função de alguma Intifada ou atentado e represálias de grandes dimensões, deu lugar hoje a uma nova realidade.
Pela primeira vez, a comunidade internacional em geral e o Médio Oriente em particular parecem "imobilizados” pela mensagem e posicionamento do Governo de Israel, desde o Executivo anterior de Naftali Benett, abertamente oposto à criação do Estado palestiniano, ao actual de Benjamin Netanyahu, veladamente contrário ao citado Estado.
E cada eleição legislativa em Israel, o processo de formação do Governo apenas tende a confirmar os mesmos cenários dos últimos vinte anos, mais inclinado à direita se mostra, numa altura em que os religiosos e sectores marcadamente radicais começam a "tomar de assalto” as estruturas do poder, ainda que democraticamente.
O actual estado de coisas apenas favorece os sectores radicais nos dois lados, sendo que há muito os moderados, nomeadamente a esquerda e os liberais em Israel, a ANP do lado palestino, deixaram de ser vozes com uma palavra a dizer na actual conjuntura em que, em ambos lados, ganha força a mensagem de radicalização.
Mas a espiral de violência destes últimos dias, em que os israelitas mataram nove palestinos e em que, os últimos, assassinaram sete judeus, seguido de represálias em ambos lados, parece reavivar a memória de muitos que pensam que a melhor forma de coexistência entre judeus e palestinos passa por cada povo viver, com paz, segurança e dignidade, "na sua própria terra”.
A "solução dos dois Estados”, espécie de a última esperança, que morre todos os dias sem expectativa de "ressurreição”, salvo na dimensão retórica, tende a ser inviável ao ponto de apenas ser mencionado para fins meramente político e diplomático.
Sem relação com o que se passou recentemente na região, segunda-feira chegou a Israel o secretário de Estado, Antony Blinken, com uma mensagem de apelo à calma e de referência ao ainda compromisso dos Estados Unidos para com a "solução dos dois Estados”, uma visita que pouco ou nada iria mudar o curso dos acontecimentos.
O Estado palestiniano é, cada vez, uma autêntica miragem na medida em que desde a administração de Donald Trump, passando agora pela de Joe Biden, os principais líderes americanos evitam inclusive falar em tal entidade. Joe Biden foi claro ao chegar à Casa Branca, desde 2020, como Presidente, depois de lá ter trabalhado como Vice-Presidente de Obama em dois mandatos consecutivos, ao lado dos quase 40 anos de Senado, dizendo que não iria, contrariamente aos seus antecessores, "pressionar” as partes para dialogar, uma mensagem bem recebida em Tel Aviv. Aliás, há dias, um relatório divulgado pelo The New York Times divulgava, sem grande novidade, que o poderoso lobby AIPAC (American-Israel Public Affairs Committe) – Uma das várias organizações que defende políticas pró-Israel junto dos poderes legislativo e executivo dos Estados Unidos – alegadamente tinha gizado uma estratégia segundo a qual as lideranças americanas iriam "pressionar” menos o Governo de Benjamin Netanyahu.
Neste diapasão, nas hostes palestinianas as expectativas, se algumas, geradas pela visita de Antony Blinken abeiraram-se do zero, facto que levou Ahmed al-Deek, um dos principais assessores do ministro das Relações Exteriores da ANP, Riyad al-Malki, a dizer ao jornal The Jerusalem Post o seguinte: "não temos grandes expectativas, mas temos exigências básicas e queremos transmiti-las ao Governo dos Estados Unidos. De qualquer forma, este Governo israelita não vai ouvir Blinken. Assim que ele partir, eles anunciarão grandes planos para construir e expandir assentamentos.”
E seguramente, Antony Blinken, ao visitar Rammallah, a espécie de "capital de facto” da Palestina, em que se encontrou com a cúpula de direcção da ANP, terá ouvido aquelas palavras, baseadas também na ideia de que os Estados Unidos deviam fazer um pouco mais.
Na verdade, embora os Estados Unidos não poderão impor a paz às partes, mas o compromisso sobre a "solução dos dois Estados”, tal como reafirmada pelo secretário de Estado, parece virar contradição quando lidam com situações que contrariam exactamente a solução dizem promover. "Qualquer coisa que nos afaste dessa visão é prejudicial para a segurança de longo prazo de Israel e para a sua identidade de longo prazo como um Estado judaico e democrático”, disse Blinken sem precisar exactamente que passos a administração Biden tenciona dar na direcção da moribunda solução.
Até quando os Estados Unidos, que têm quase o monopólio da mediação do conflito, preservando ainda alguma credibilidade junto das partes, vão actuar com a balança a pender para um dos lados, deixando "morrer” a "solução dos dois Estados”, perdendo o crédito que ainda têm, provocando maior radicalização em ambos os lados e viabilizar o que os sectores fundamentalistas nos dois lados aspiram: a manutenção do insustentável status quo do conflito israelo-palestiniano.
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