A falta de muitos serviços básicos na localidade fronteiriça de Santa Clara, que divide o Cunene com a República da Namíbia, leva centenas de cidadãos a cruzarem diariamente a fronteira, com destino àquele país vizinho à procura de serviços de saúde, escolas e trabalhos de subsistência.
A situação parece voltar ao normal, depois de a fronteira ter estado encerrada durante cerca de dois anos, por conta da Covid-19. A situação está a ser um ganho para a população que depende muito da Namíbia.
O Jornal de Angola ficou a saber que muitas senhoras que transportam mercadorias à cabeça da Namíbia para Angola, realizam, em média, quatro a cinco viagens por dia, com vista a garantir o sustento das famílias.
Mas nem todos têm a mesma sorte. Durante a nossa ronda por Santa Clara, constatámos que alguns cidadãos não conseguem transpor a fronteira, por não possuírem o cartão do munícipe, que lhes é exigido no acto de emissão do passe de travessia, emitido pelo Serviço de Migração e Estrangeiros (SME).
Do lado de Angola falta de tudo um pouco. Os habitantes da orla fronteiriça - e não só - buscam na Namíbia desde o pão a frutas, produtos de higiene ou artigos do lar, porque do lado de Angola estes têm preços muito elevados.
Apesar da existência de alguns bancos comerciais para facilitar o pagamento dos impostos, Santa Clara clama por outros serviços básicos.
A título de exemplo, o pão de forma, conhecido por mboroto, na Namíbia custa 10 dólares namibianos, equivalentes a 350 kwanzas, em Angola é comercializado a 500 Kz. Apesar de Santa Clara possuir uma única padaria, conhecida por Mamadu, os habitantes da localidade optaram pelo mboroto, por ter mais qualidade.
Durante a nossa permanência na fronteira, constámos que os produtos da cesta básica, como fuba de milho, pão, óleo, chouriço e peixe, dominam o comércio. Procuramos saber o por quê da entrada de quantidade de fuba de milho da Namíbia.
A empreendedora Emília Haufiku, disse que a fuba regista maior procura, devido à fome que assola a região. Muitos compram para proceder à permuta com cabritos, no meio rural.
Amélia Paulo, 35 anos, é mãe de quatro filhos. Residente há sete anos em Santa Clara, disse ao Jornal de Angola que se dedica, há anos, ao transporte de mercadorias à cabeça da Namíbia para Angola, em troca de dinheiro.
Questionada se o que ganha por dia é suficiente, aquela mãe de quatro filhos disse que ganha entre 1.000 a 1.500 kwanzas, por dia e há dias que vai além. Respondeu que o dinheiro não chega, mas disse ser a única via para manter o sustento da casa.
Venda ilegal de combustível
Segunda a fonte que revelou a informação, o produto é transportado na calada da noite para a vizinha Namíbia, onde o bidão de 25 litros varia entre 300 a 400 dólares namibianos, o que corresponde 10.500 e 14.000 kwanzas, respectivamente.
Referiu que o negócio é bastante aliciante, atendendo ao peso da moeda namibiana em relação ao kwanza. O preço e qualidade do nosso combustível está a atrair automobilistas namibianos para Angola.
Viram no aumento do preço da gasolina no seu país, de 15 para 20 dólares por litro, uma oportunidade para adquirir o produto em território angolano. Nos últimos dias, são vistos muitos namibianos a transpor a fronteira com o objectivo de abastecerem viaturas e bidões de reserva.
Outra situação que estimula o contrabando de combustível é a fragilidade da fronteira, que permite passar em diversos pontos e horas do dia, bem como as características dos povos Ambós, da província do Cunene e do Norte da Namíbia, que dificultam a identificação dos residentes deste e do outro lado, já que muitos vivem em Angola mas trabalham na Namíbia. Alguns têm os pais a viver na Namíbia.
Negócio "salva vida”
O transporte de mercadorias a partir do país vizinho é considerado por muitos habitantes da localidade "negócio salva vida” ou emprego temporário. Alguns chegaram mesmo de apelidá-lo de "Cafunfu dois”, uma referência à localidade diamantífera da Lunda-Norte onde muitos cidadãos se deslocavam para ganhar dinheiro.
Centenas de angolanas, algumas com crianças às contas, procuram, a todo o custo, cruzar a fronteira ao encontro dos grandes compradores para ajudá-los na transportação de mercadorias. Ao fim do dia, chegam a levar qualquer coisa como 2.000 kwanzas.
Segundo um oficial de migração em serviço, para tratar o passe de travessia fronteiriço, ao cidadão é-lhe exigido o cartão de munícipe, o que algumas pessoas ainda não têm.
Isso condiciona a emissão do documento, sendo uma exigência imposta pelas autoridades. "Por falta do cartão, muitos cidadãos continuam a utilizar canais impróprios para atingirem a Namíbia, numa clara violação à fronteira”, lamentou o oficial do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME).
Ensino e aprendizagem
O Jornal de Angola constatou igualmente que muitos residentes ao longo da fronteira, apesar de terem nascido em Angola, têm preferencialmente interesses económicos e académicos no país vizinho.
Do levantamento feito, alguns, possuem dupla nacionalidade, outros nem se preocupam com a identidade do país que os viu nascer, nem ouvem a Rádio Nacional. Têm como meio de comunicações a MTC, da rede namibiana.
Durante a nossa reportagem, foi possível notar que um elevado número de angolanos estuda na Namíbia.
Analtina José, natural do Bié, estuda na região de Engelha (Namíbia). Disse que gostaria de estudar em Angola para aperfeiçoar a língua portuguesa, mas foi forçada a ir para a Namíbia porque é lá onde os pais residem há anos.
Analtina e outros colegas que a acompanhavam revelaram ao Jornal de Angola que o sistema de ensino na Namíbia é muito rigoroso.
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