Opinião

O colapso do SVB e os receios de nova crise financeira mundial

Filomeno Manaças

Esta semana começou com os alarmes a soarem nos Estados Unidos e na Europa na sequência das notícias sobre a falência de um dos maiores bancos norte-americano – o Silicon Valley Bank (SVB), numa lista de 20 considerado o 16ª no ranking -, preocupação que ficou acentuada com relatos surgidos na imprensa, na quarta-feira, sobre as dificuldades de liquidez por que estaria a passar o europeu Credit Suisse.

17/03/2023  Última atualização 08H00
© Fotografia por: DR

A preocupação é justificada pelos receios de que se repita o que aconteceu com a crise financeira de 2008, nomeadamente a possibilidade de contágio devido ao nível de exposição dos demais bancos ao SVB, como ocorreu, naquela altura, com a falência do Lehman Brothers. Essa exposição é essencialmente traduzida na dimensão ou volume de negócios que outras instituições financeiras ou clientes, individualmente, possam ter com o banco falido.

O Silicon Valley Bank faliu, e, logo de seguida, também faliram o Signature Bank e o Silvergate Bank, o que ajudou a adensar os receios atrás referidos, motivo que levou as autoridades monetárias norte-americanas a intervir para acalmar o mercado, garantindo que os clientes do SVB, e dos restantes dois bancos, não vão perder dinheiro. Também na Suíça o Banco Central prontamente veio a público tranquilizar o mercado e assegurar que o Credit Suisse "cumpre os requisitos de capital e liquidez impostos sobre bancos com relevância sistémica” e terá acesso a liquidez se se provar necessário.

Por seu turno, os especialistas desdobram-se em discussões e explicações sobre o que realmente está a acontecer. De modo particular, procuram esclarecer a diferença em relação à crise do subprime de 2008, assente basicamente em créditos generalizados de má qualidade no sector imobiliário.

Fundado em Outubro de 1983 em Santa Clara, na Califórnia, o SVB foi concebido como um banco para apoiar as startups, ou seja, conceder empréstimos a empresas em estágio inicial de implementação no mercado, tendo-se tornado no parceiro bancário de quase metade das empresas americanas de tecnologia e saúde criadas com capital de risco e cotadas na bolsa de valores o ano passado. A febre das startups permitiu ao SVB transformar-se no maior banco do Vale de Silício com base em depósitos locais (25,9 por cento).

Para se ter uma ideia da sua dinâmica de crescimento, e de acordo com dados da Globo, o banco passou de um valor de 60 biliões de dólares em depósitos recebidos, em 2019, para 190 biliões de dólares em 2020. Esse valor era de 209 biliões de dólares até ao final do ano passado.

O aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, que, de 0,25 por cento em 2020, foi subindo até atingir 4,75 por cento em Fevereiro, numa tentativa do Banco Central norte-americano controlar a inflação, é apontado como a principal razão para a derrocada do SVB. Porque, para não ficar com aquele dinheiro todo parado no banco, o SVB aplicou em títulos do tesouro norte-americanos e em títulos do mercado imobiliário. Acontece que, o aumento das taxas de juros fez esses títulos perderem valor de mercado. Por outro lado o ambiente de negócios foi se deteriorando e as pessoas começaram a perder interesse em investir em novas startups.

Esse processo de erosão obrigou o SVB a vender os títulos a um preço inferior. Com isso, desanimados, muitos clientes optaram por retirar o seu dinheiro do banco. A repercussão na bolsa de valores foi, como era de esperar, negativa, e provocou um grande susto em muitos investidores.

Tanto o Silvergate Bank como o Signature Bank, vocacionados para o negócio das criptomoedas, foram também afectados pelo aumento sucessivo da taxa de juros. Porém, antes de ter sido declarada a falência, foram também alvo de investigações para determinar se teriam adoptado as medidas suficientes e necessárias para evitar o branqueamento de capitais. As desconfianças em relação aos criptoactivos ainda são grandes, apesar de o negócio ter conseguido ganhar espaço no mercado.

Já a história das dificuldades do Credit Suisse - um banco suíço de investimento e provedor de outros serviços financeiros - tem a ver com o facto de o accionista maioritário, o Banco Nacional Saudita, ter recusado, com fundamento em dispositivo regulatório (não ultrapassar os 10 por cento das acções), efectuar uma operação de injecção de mais capital. Mas, ontem, com a intervenção do Banco Central suíço, que assegurou um empréstimo na ordem dos 50 mil milhões de euros, o Credit Suisse, cujas acções tinham desvalorizado em 24 por cento, viu as mesmas dispararem para 32 por cento na bolsa europeia.

Portanto, está posta de parte a hipótese de o efeito contágio ocorrido em 2008 estar a repetir-se. Os bancos precaveram-se e tomaram medidas para evitar que o fenómeno volte a ocorrer. Todavia, em ambas situações, fica evidente que o mercado reage desfavoravelmente a notícias negativas que acompanham as instituições.

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