Política

Nova era nas relações entre Angola e Espanha

Edna Dala

Jornalista

Os reis de Espanha, Felipe VI e Letízia Ortiz, estão desde a noite de segunda-feira em Luanda, onde cumprem uma visita de Estado de 72 horas a Angola, cujo ponto mais alto deve ser a assinatura, hoje, de acordos que vão dar novo impulso à cooperação entre os dois países.

07/02/2023  Última atualização 06H53
Rei Felipe vi está desde segunda-feira em Luanda © Fotografia por: kindala Manuel | Edições Novembro
O casal real aterrou no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro por volta das 20h14, tendo sido recebidos pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, pelo governador de Luanda, Manuel Homem, e pelo embaixador de Espanha em Angola, Manuel Lejarreta.

Para hoje, primeiro dia de trabalho, a agenda reserva um encontro entre os dois Chefes de Estado, no Palácio da Cidade Alta, seguido da assinatura de acordos e uma visita ao Memorial do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto. Amanhã de manhã, o Presidente João Lourenço e o Rei Felipe VI discursam num fórum económico, no qual participam empresários angolanos e espanhóis. Ao fim da manhã,  o Rei de Espanha desloca-se à Assembleia Nacional, onde profere, igualmente, um discurso, durante uma sessão plenária extraordinária que se realiza por ocasião da sua visita a Angola. 

O analista político Matias Pires disse crer que a visita do Rei Felipe VI vai fortalecer as relações sólidas existentes entre os dois Estados e, acima de tudo, elevar o prestígio de Angola. "Porque nenhum Estado envia o seu Rei para um país com o qual não tem plena confiança em vários domínios, com realce até para a própria segurança, democracia e todos esses elementos que constituem, hoje, princípios universais dos Estados, no quadro da cooperação internacional”, sustentou.

Relativamente às relações de cooperação, Matias Pires recordou que os dois países cooperam há muitos anos, quer no domínio da Construção Civil, quer na Economia Azul, Pescas e Segurança Pública.

No domínio da Segurança Pública, lembrou que a Polícia de Intervenção Rápida teve o seu primeiro núcleo fundado em Espanha, cujo Acordo de Cooperação ainda vigora. Um outro segmento a ter em conta, segundo o analista, tem a ver com o sector do Petróleo e Gás, pois Angola exporta estes produtos ao mercado espanhol, num contexto em que a Europa enfrenta uma profunda crise, resultante das sanções impostas à Rússia.

Matias Pires considera o momento oportuno para que a Espanha possa, através do investimento privado e no estabelecimento de parceria com o empresariado angolano, reforçar a sua presença no mercado nacional. Estas oportunidades, ressaltou, serão discutidas no Fórum de Negócios, agendado para quarta-feira, no quadro da visita do monarca espanhol.

O analista disse que se tem verificado uma dinâmica ascendente e excelente nas relações de amizade e de cooperação entre Angola e Espanha, com realce para a troca de visitas ao mais alto nível.

A título de exemplo, recordou que, em 2021, numa época em que o mundo se debatia com a pandemia da Covid-19, o Presidente João Lourenço não se coibiu de visitar a Espanha, ocasião que serviu para manter um encontro com o Rei Felipe VI e formular o convite para o monarca visitar o país. No mesmo ano, o Presidente do Governo espanhol, Pedro Sanchez, também visitou Angola.

Assinatura de novos instrumentos jurídicos

Angola e a Espanha devem assinar, hoje, novos instrumentos jurídicos que, segundo o analista Matias Pires, vão reforçar os anteriores, bem como deve ser, eventualmente, feito o agendamento da próxima reunião da Comissão Mista Bilateral, que vai dar seguimento ao conjunto dos acordos existentes entre os dois Estados.

A assinatura de acordos, hoje, no Palácio da Cidade Alta, é antecedida de um encontro entre o Presidente João Lourenço e o Rei Felipe VI.

Durante o encontro, é possível que os dois estadistas passem em revista questões políticas mundiais, tendo em conta o papel relevante que Angola desempenha nas questões de paz e segurança em África e o facto de a Espanha ser um Estado da OTAN  que presta atenção especial à crise que se observa na Ucrânia, perspectivou Matias Pires.

Um outro aspecto a considerar, acrescentou, é o simbolismo que representa o facto de o Rei Felipe VI discursar no Parlamento. "O facto representa uma maneira de dialogar com o povo através dos seus representantes democraticamente eleitos”, considerou o analista, para quem, normalmente, nestas ocasiões, as visitas ao Parlamento são de grande solenidade e reconhecimento quando se efectuam.

Ainda no quadro da cooperação, disse existirem vários domínios a serem analisados, com destaque para o Comércio, Turismo e Formação de Quadros. Lembrou que muitos angolanos escolheram a Espanha como país de formação especializada.

Matias Pires destacou, igualmente, a colaboração entre Angola e Espanha no domínio do reforço das suas instituições democráticas. "Instituições espanholas têm cooperado com o Estado angolano na organização de processos eleitorais que legitimam as nossas instituições republicanas, que são reconhecidas um pouco por todo o mundo”, referiu o analista.

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