Hoje, 26, é assinalado o Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, uma efeméride instituída, em 1987, pela Organização das Nações Unidas.
A aventura de Madalena Chiweyengue começou em 2010, quando abandonou a família na província de Benguela logo aos 17 anos e foi procurar emprego no município de Caluquembe (Huíla). Na ocasião foi admitida como professora do ensino primário.
Em entrevista ao Jornal de Angola, o director adjunto do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), Emanuel Caboco, afirmou que a classificação e conservação de bens culturais permite ofertas de emprego, requalificação das cidades, e de outros elementos que elevam a qualidade de vida das populações, além de serem essenciais à atracção turística. Considerou que o património nacional deve ter um tratamento digno porque “ninguém se interessa por ver cidades banalizadas pelo capitalismo selvagem, escudado nos vocábulos ‘modernização’ e ‘requalificação’”.
Defende que a preservação do património é tarefa de todos, por ser parte fundamental da herança cultural nacional, e não apenas uma missão do Executivo. Como avalia a atitude do público em relação à preservação do património, como parte da nossa memória colectiva?
Como sabe, as matérias
relacionadas com o património e com a consciência preservacionista são, entre
nós, ainda bastante recentes. Por isso, o património ainda é desconhecido por
uma grande maioria da população, havendo aqui uma clara necessidade de se
promover a compreensão da importância do património para que a sociedade seja
tida como uma parceira na luta pela preservação do Património Cultural. Mais do
que uma mera celebração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios,
consideramos a data como um marco que nos permite revisitar e actualizar o
nosso compromisso individual e colectivo com a divulgação e promoção do
património, com uma ampliação significativa de abordagens, diálogos e a
disseminação de informação relativa à sua importância do ponto vista social e
até mesmo económico. E, é graças a isso que hoje, já podemos contar com um
movimento de interesse, como de estudantes em busca de conhecimentos,
instituições e organizações a reivindicarem a classificação e preservação de
bens, dentre outras.
O
nosso património já se reflecte na História do país?
Não como desejávamos, mas
contamos com uma Lista do Património Classificado, representativa, com
monumentos e lugares de memória ligados aos vários contextos e períodos
específicos da nossa história e cultura. É bem verdade que durante muito tempo
a classificação desse património privilegiou o património arquitectónico,
sobretudo aquele que está ligado aos períodos de ocupação e de expansão da
colonização portuguesa no país. Mas hoje, não é bem assim, já podemos
considerar como uma lista de património "genuinamente angolano”, porque, hoje é
diferente do passado, os critérios de classificação não se limitam à
"monumentalidade”, "antiguidade” ou "excepcionalidade” que em nosso entender
sujeitava o país num isolamento histórico, porque as formas de avaliação estavam
centradas na arquitectura colonial.
Há um património bem mais
antigo e representativo do processo de ocupação, movimentação e actividades
humanas, espalhado por todo o país e ainda o património ligado à história
contemporânea do nosso país que não faziam parte das prioridades de
classificação e de preservação. Hoje, lugares dessa natureza estão incluídos na
lista, tornando-a, assim, mais equilibrada e representativa em relação à
historiografia angolana.
Importante salientar que, o Património Cultural Imaterial, conformado pela nossa bela e rica diversidade cultural, este, também, não configurava no processo de reconhecimento patrimonial. E, portanto, foram, nos últimos três anos, declarados três bens como património cultural imaterial, designadamente a "Rebita”, o "Sona” e os "Bakama-Zindunga”.
O
"conflito” entre moderno e tradicional é uma das questões que mais preocupa os
peritos da área de património material, particularmente nessa fase em que vemos
um crescimento urbano que tende a modificar (alterar) a riqueza patrimonial
nacional. Que passos devem ser dados para harmonizar esses dois segmentos?
Defendo, e continuarei a
defender, que é a possível coexistência entre o que há de velho e o que pode
vir a ter-se de novo nas cidades. Defendo, sim, a harmonia de formas, a escala
acertada dos volumes, a preservação da identidade e da paisagem básica das
cidades, a diversidade de estilos. Portanto, o novo não pode continuar a
sentenciar ou anular os monumentos antigos.
Talvez a solução passe pela
recuperação do património muitos degradados e subaproveitados, porque se haver
o mesmo interesse e intensidade do ponto de vista de investimento pela defesa e
revalorização do património, em relação ao movimento construtivo que se
verifica, eventualmente, minimizaríamos as justificações de que o velho denota
a cidade.
Outro aspecto importante dessa questão é a precipitação, negligência ou ignorância premeditada em relação ao cumprimento da legislação em vigor, permitindo que se tomem decisões sem ouvir opiniões, sem colher os necessários consensos. É inaceitável que em pleno casco urbano, por exemplo, se admitam e autorizem intervenções sem consulta prévia dos órgãos com competências inerentes à preservação do património.
Que
radiografia faz sobre o actual estado dos monumentos e sítios a nível nacional?
Há um considerável
património degradado. Alguns necessitam de intervenções radicais para a sua
recuperação enquanto bem patrimonial. Mas, o problema não se resume na
conservação ou recuperação. Precisamos definir novos tipos de usos do
património nacional. Embora tenham sido construídos para determinados fins que
actualmente não combinam, nada impede que ao património se venha a dar uma
utilidade contemporânea, com fins voltados, essencialmente ao serviço da cultura
e do turismo.
A falta de engajamento por parte do empresariado é outro problema, pois a maior parte desses imóveis classificados é propriedade do Estado, e é óbvio que este não tem capacidade financeira para desenvolver um programa de recuperação sem a intervenção privada. Há necessidade de uma intervenção mais actuante do ponto de vista da iniciativa privada, até porque o turismo é um campo aberto de oportunidades de negócio no país. Porque não investir no Património?
Qual
é o universo do património classificado, a nível do país?
No país estão classificados
mais de 320 monumentos e sítios, mas tantos outros por se dar tratamento de
inventariação e classificação. As províncias melhor representadas na Lista são
Luanda, Benguela, e Cuanza-Norte.
Aqui sim, notamos um
desequilíbrio porque províncias há com um ou dois monumentos/sítios
classificados. Sob este ponto de vista, é curioso que, havendo em Angola um
total de 164 municípios, somente 43 tem algum património classificado. Se, por
falta de elementos a inventariar ou se pela falta de iniciativas locais de
identificação do seu património, francamente não lhe posso responder.
Quantos bens estão classificados a nível de Luanda e como está o processo de conservação, recuperação e manutenção dos mesmos?
Luanda conta, actualmente, com 120 bens classificados e há ainda um acervo considerável por se classificar ou reconhecer. Há algum património recuperado e em vias de recuperação. Alguns financiados pelo Estado e outros pelos seus utentes ou proprietários.
No livro dedica largos
espaços, capítulos inteiros, a traçar o retrato de figuras com as quais se
cruzou e conviveu, algumas das quais constam da história da luta anti-colonial.
São os casos de Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Gentil
Viana, Deolinda Rodrigues, Eduardo Mondlane, Amílcar Cabral, Sócrates Dáskalos,
Comandante Benedito e outros. Foi sua preocupação homenagear dessa forma
aquelas personalidades?
Sim. Pretendi sobretudo relembrar personalidades que foram muito importantes na vida do Movimento e da luta de libertação de Angola. São figuras de que nunca se fala nos tempos actuais e que na minha opinião devem merecer evocação de tempos em tempos e até que sejam oficialmente reconhecidas com, por exemplo, a aplicação dos seus nomes em ruas das cidades. Um comandante Benedito, por exemplo, deveria ter o seu nome em ruas.
Quais os procedimentos a se cumprir para edifícios classificados como Património Cultural tenham obras de restauro ampliações?
Os procedimentos e critérios
são vários, mas nem por isso que sejam complicados de se entender ou de se
observar. A Lei 14/05, de 4 de Outubro, também conhecida como a Lei do
Património Cultural e o Regulamento do Património Imóvel, são os dois principais
instrumentos de orientação em relação ao tipo de tratamento a que o património
pode estar sujeito, aos condicionalismos, os critérios, etc.
Ainda em relação aos procedimentos, salienta-se que na verdade cabe aos governos provinciais emitirem as competentes licenças de construção e reabilitação. Entretanto, ao Instituto Nacional do Património Cultural compete emitir um parecer vinculativo sobre os projectos que afectam o património ou as suas zonas de protecção.
No âmbito da efeméride, vão ser classificados bens patrimoniais? Se sim, em que províncias?
Sim, por ocasião do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foram classificados mais 19 bens em Malanje, Luanda, Cabinda, Cuanza-Sul, Benguela, Namibe, Huambo, Bié e Zaire.
O património nacional traz proveitos ou rendimentos financeiros aos cofres do Estado, numa altura em que o Governo trabalha em prol da diversificação da economia. Como se poderia obter rendimentos com toda essa herança cultural?
O turismo tem interesse e grande importância para a economia e cultura e até mesmo para o prestígio dos países ou regiões. Há, inclusivamente, países que dele arrecadam receitas e proporciona um elevado nível de vida para as suas populações, justamente, porque este chega a tornar-se numa das suas principais actividades e fonte de obtenção de receitas. Além disso, permite ofertas no mercado de emprego, a requalificação do património e das cidades, o incremento de várias infra-estruturas sociais e de outros elementos que permitem elevar a qualidade de vida das populações.
Por isso, defendo que os elementos de valorização e identidade urbanas e que são essenciais à atracção turística, devem ter um tratamento digno porque ninguém se interessa por ver cidades ou regiões iguais às outras, banalizada pelo capitalismo selvagem, escudado nos vocábulos "Modernização” e "Requalificação”.
Devemos preservar o que há aqui em Angola de diferente, e ao mesmo tempo melhorar as vias de acesso aos potenciais lugares, criar facilidades de investimento em zonas rurais com potencialidades, como Muxima, Massanganu, Dondo, Catumbela, Cambambe e Pungo Andongo, só para citar alguns, onde há muito para apresentar aos turistas. O turismo não é feito só de praia!
Que visão tem a respeito do património como ponto de partida do turístico cultural para a criação de empregos?
Devemos desenvolver um novo modo de olhar o desenvolvimento, como uma actuação transversal aos diferentes sectores de intervenção. O turismo cultural é, garantidamente, uma máquina para o desenvolvimento sustentável. Mas, para tal é necessário investir na recuperação do património e preservação ambiental.
Estaríamos desta forma a proporcionar oportunidades de negócio, de desenvolvimento das regiões do país, de promoção das actividades tradicionais, a absorver mão-de-obra, reduzir os actuais desequilíbrios regionais, etc.
Como analisa o grau de cumprimento das exigências da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) sobre Mbanza Kongo, classificado como Património Mundial da Humanidade, em 2017?
O Estado angolano, de um modo geral, tem sabido gerir as recomendações da UNESCO. Veja que, a par de algumas melhorias do ponto de vista da promoção e preservação patrimonial, tem um engajamento excepcional, sem o qual não era possível, por exemplo, transferir as antenas que estavam situadas no perímetro do centro histórico para outras áreas circunvizinhas. Outra nota positiva é a transferência, em tempo recorde, do aeroporto para outra área, em Nkegue II. Acabámos, recentemente, de avaliar o grau de cumprimento do Plano de Gestão de Mbanza Kongo 2016-2020, e até já estamos, neste momento, a finalizar a actualização deste importante instrumento de gestão. Em resumo, pontualmente vamos progredindo, embora ainda haja um considerável conjunto de acções que devem ser materializadas para garantir melhores indicadores de desenvolvimento na região e na própria qualidade de vida das populações.
Tem havido deslocações de comissões técnicas da UNESCO ao país para avaliar o grau de cumprimento dessas recomendações?
Sabe que a movimentação e circulação de pessoas ficaram bastante condicionadas, nos últimos dois anos, devido a pandemia da Covid-19, mas, ainda assim tivemos acompanhamento de peritos da UNESCO e a mais recente missão foi cumprida em Dezembro do ano passado.
A comissão multissectorial criada pelo Executivo já está em condições de fazer um balanço produtivo sobre as exigências da UNESCO?
A Comissão Multissectorial tem feito, prudentemente, essa avaliação em suas sessões de trabalho. Aliás, a comissão faz um acompanhamento de perto de tudo quanto se projecta e se produz sobre Mbanza Kongo e sobre os demais bens patrimoniais no país. Temos sido felicitados por sermos dos poucos países que conseguiu criar no seio das super-estruturas, uma comissão de alto nível para dar tratamento das questões relacionadas com o Património Mundial. Em outras realidades essa figura não existe.
Como anda o plano de acção apresentado à Comissão para inscrever a cidade do Cuito Cuanavale e as pinturas rupestres de Tchitundo-Hulo na Lista do Património da Humanidade?
A preparação de uma candidatura está sujeita a várias fases, como o levantamento sistemático de lugares, avaliações de critérios, plano de gestão. Trata-se de um processo com uma dinâmica própria. Há acções que, como a desminagem, a localização exacta de lugares, estão projectadas e que a seu tempo serão concluídas.
O turismo tem interesse e grande importância para a economia e cultura e até mesmo para o prestígio dos países ou regiões. Há, inclusivamente, países que dele arrecadam receitas e proporciona um elevado nível de vida para as suas populações, justamente, porque chega a tornar-se numa das suas principais actividades e fonte de obtenção de receitas
perfil
Emanuel Caboco
tem 49 anos de idade,
especialista em Património Cultura. Quadro sénior do Ministério da Cultura,
Turismo e Ambiente colocado no Instituto Nacional do Património Cultural há
mais de 30 anos, exerceu várias funções
no Instituto Nacional do Património Cultural, sendo hoje o seu Director Geral
Adjunto.
É autor de vários artigos sobre património, museus, territórios, cultura e turismo, publicados em várias publicações científicas e periódicos, incluindo o Jornal de Angola e Jornal Cultura, títulos da Edições Novembro. Foi membro da comissão de redacção da candidatura de Mbanza Kongo à Lista do Património Mundial, fazendo parte hoje da Rede de Profissionais Africanos do Património Cultural
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginAngola realiza as suas quintas eleições gerais, marcadas para o dia 24 de Agosto próximo. O Jornal de Angola manteve uma conversa com o juiz conselheiro jubilado do Tribunal Constitucional Caetano de Sousa, o primeiro presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), criada para atender as eleições de 1992.
A nova temporada da Maka à Quarta-Feira da UEA arrancou no dia 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, em Cacuaco, com a criação da Tenda do Escritor e a interacção dos escritores John Bella, Yola Castro e Zullini Bumba com as crianças da comunidade local.
Fátima Almeida é uma angolana que apostou no mercado online há seis anos, vendendo roupas, calçados, electrodomésticos e outros produtos em todo o território nacional, através da plataforma Bayqi. Recentemente, foi eleita por uma organização internacional como “uma das 12 mulheres mais influentes do continente africano”
Ministro dos Transportes desde 2018, Ricardo Daniel Sandão Queirós Viegas de Abreu, fala, nesta entrevista ao Jornal de Angola, sobre os passos que estão a ser dados para a certificação do Novo Aeroporto Internacional de Luanda (NAIL) que, no âmbito da homenagem que se está a prestar ao centenário do primeiro Presidente de Angola, vai ser lacrado, já amanhã, com o nome de Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto.
A ministra da Saúde, reiterou, nesta terça-feira, em Luanda, que o Executivo está “fortemente comprometido no reforço progressivo do Serviço Nacional de Saúde assente em princípios orientadores de eficiência, equidade, eficácia, humanização e inovação”.
O julgamento do “caso Lussati”, que envolve militares e funcionários civis ligados à então Casa de Segurança do Presidente da República, começa a ser julgado esta terça-feira , no Centro de Convenções de Talatona, em Luanda.
O Ministério de Energia e Águas projecta elevar a taxa de acesso à electricidade do país para 50 por cento, até 2025, mais 7,2 pontos percentuais que os actuais 42, 8 por cento, num universo de 33 milhões de habitantes, declarou, esta segunda-feira , no Soyo, o titular da pasta.
Angola evoluiu de forma significativa na prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, sendo de descartar uma nova inclusão do país na Lista Cinzenta do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), declarou, esta segunda-feira, em Luanda o director-geral da Unidade de Informação Financeira (UIF).
A primeira edição do Festival da Música e Dança Tradicional da região Leste, do país, realizada na noite de sábado, no Largo Agostonho Neto, no Dundo, Lunda-Norte, eternizou o Cinguvu, um instrumento musical do folclore daquele região.
O Stand de Angola na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos foi oficialmente aberto ao público esta segunda-feira, numa cerimónia presidida pela ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira.