Cultura

Nguxi dos Santos produz documentário sobre o Virei

Analtino Santos

Jornalista

“Virei” é o novo projecto cinematográfico de Nguxi dos Santos, realizador que pretende continuar a produção de documentários e conteúdos que retratem a tradição nacional.

18/01/2023  Última atualização 10H35
Realizador está na fase de produção do curta-metragem sobre a vida das populações do Virei, o seu potencial cultural e natural © Fotografia por: DR

No ano passado, Nguxi dos Santos lançou "Madiata” dedicado a um músico tradicional de Mbanza Kongo sucedendo a uma filmografia onde encontramos "Mamã Muxima”, "Pessoas e Lugares”, "TPA e Outras Histórias”, "A Mística nos Tambores de Joãozinho Morgado”, "Tony do Fumo”, "Os Kiezos” e tantos outros.

Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, o realizador revelou que "na verdade eu tinha recebido um convite para fazer um documentário institucional sobre o Virei. Eu achei que deveria fazer as duas coisas então estou a fazer o projecto para o qual fui solicitado e outro sobre a vida das populações do Virei, o seu potencial cultural, a riqueza natural, dentre outros aspectos depois de tudo que constatei que existe e penso continuar a pesquisar”.

Nguxi dos Santos disse que tem uma paixão antiga por esta região e "é importante recordar que no passado já realizei um projecto semelhante na região do Curoca que resultou no documentário e na exposição, "Povos e Lugares” e dela uma das fotografias está numa das colecções do Vaticano. Este projecto surgiu numa colaboração de Samuel Aço, antropólogo que muito contribuiu para a sua materialização, ainda no período das guerras andei muito por esta região”.

Quanto ao processo da produção revelou que "já fiz as primeiras captações, agora estou a organizar-me para o alinhamento e verificar o que deve ser acrescentado. Ainda não tenho previsão para conclusão porque estou a fazer com meios próprios porque quero dar a conhecer o que existe em relação à nossa cultura. Não deixo de pesquisar e divulgar para que  Angola e o mundo possam saber o que temos e o que somos”.

O autor também alertou para a diversidade étnica, pois como descreveu "estão reflectidas nas danças, músicas, gastronomia, maneira de vestir, línguas, enfim as variações da cultura que é algo dinâmico. É importante que saibam que no Virei existem várias etnias não são apenas os Mumuílas, encontramos os Khoisan, o Nyanekha Humbi e eu ainda não consegui falar com as três comunidades, então interessa-me voltar para ouvir todos”.

As diferentes abordagens entre as comunidades para Nguxi dos Santos é uma oportunidade para apresentar às entidades governamentais e à sociedade civil a situação real "penso que é importante mostrarmos as diferentes abordagens e divulgar para que o Estado consiga tomar as responsabilidades para nos envolvermos nos conflitos que estão a acontecer no Sul de Angola e devemos tratar estas questões. Evitam casamentos, não há entendimentos, conflitos por causa dos bois, espero que as futuras gerações resolvam, porque de momento os tribunais não conseguem”.

Nguxi dos Santos revelou que tem outros projectos em carteira como o "Recordar é Viver” transmitido no passado fim de semana na Televisão Pública de Angola (TPA). "Eu tenho muitos concertos do passado e agora estou a compilar outros. Houve uma reacção positiva porque passamos artistas que já partiram como Carlos Burity, Zecax, Nick e momentos de música angolana. Um outro projecto que gostaria de fazer é o ‘Reviver Xavarotti’ um espaço que deu o seu contributo para a divulgação da música angolana, porque era um ponto de encontro entre músicos nacionais e estrangeiros que vinham para o país”.

O realizador lamentou a pouca divulgação das produções nacionais nos órgãos de comunicação. "Infelizmente as televisões não anunciam e quando passam apanham todos de surpresa. Por exemplo, falo do documentário sobre Joãozinho Morgado, Os Kiezos, Tony do Fumo e outros. Gostaria de fazer uma mostra com os documentários que tenho produzido em todo o território nacional, mas não tenho possibilidades porque é preciso uma logística”.

Nguxi dos Santos está satisfeito com a viagem ao Virei, onde participou no debate sobre o Dia da Cultura Nacional e interagiu com artistas e agentes culturais locais. Actualmente luta para concluir o documentário sobre o Sam Mangwana, a Rumba Congolesa e outros projectos históricos que tem pela Nguxi dos Santos Produções, a sua aposta nos audiovisuais depois da Dread Locks, pioneira neste segmento do empreendedorismo cultural.

Augusto Manuel dos Santos "Nguxi dos Santos” nasceu aos 22 de Janeiro de 1960, no município do Nzeto, província do Zaire, é um cidadão com uma longa folha de serviço em prol da cultura angolana e não só. Durante 35 anos trabalhou na Televisão Pública de Angola, período em que realizou e produziu vários documentários, programas e exposições fotográficas, tendo sido  por duas vezes vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Artes.

Também é oficial militar na reserva, como repórter de guerra na TPA entre 1979 e 1989, pertencendo à Direcção Política do Departamento de Cinema FAPLA. Entre 1981 e 1982, filmou a Batalha de Cahama - um conflito entre o exército angolano e o sul africano - e, em 1992, foi um dos repórteres que documentou o conflito pós-eleitoral que ocorreu em Luanda, Huambo, Benguela, Bié e outras zonas.

Em 1987, frequentou um curso de Realização e Produção, orientado por especialistas cubanos. No campo dos documentários audiovisuais produziu e dirigiu filmes como "Pelo Silêncio das Armas”, "Mamã Muxima”, "O Grande Desafio”, "Um Homem Enterrado Vivo”, "Pessoas e Lugares”, "TPA e Outras Histórias”, "A Mística nos Tambores de Joãozinho Morgado”, "Tony do Fumo”, "Os Kiezos” e "Madiata”.

A nível de exposições tem patente no Palácio de Ferro a mostra "Vozes e Silêncios” que reúne fotografias inspiradas nos poemas de Agostinho Neto. No passado já expôs "Marcas de Guerra” e "Túmulos do Reino do Congo”. Fora das artes visuais e fotografia lançou o livro "TPA e Outras Histórias” onde colheu depoimentos de antigos colegas da Televisão Pública de Angola.

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