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Municípios da Huíla e Cunene com mais apoios contra a seca

Estanislau Costa | Lubango

Jornalista

Uangela, Paulino e Ngelele estão entre dezenas de jovens empenhados nas acções que os pais levam a cabo para mitigar os efeitos da seca, que continua a assolar as localidades da Chibia e Gambos (Huíla) e Cuvelai, Ombandja e Cahama (Cunene).

15/03/2021  Última atualização 14H13
Muitas aldeias estão a ser abandonadas e a população e o gado percorrem longas distâncias à procura de água e de pasto © Fotografia por: Domingos Mucuta | Edições Novembro
O trabalho das famílias visa proporcionar melhor pasto para o gado, lavrar os campos nas margens dos rios Cunene e Caculuvar. As mudanças climáticas fizeram com que a transumância, um movimento de pastores e animais para encontrar melhor pasto e água, se realizasse mais cedo.

Ngelele e sua companheira com um garoto às costas, que aparenta dois anos de idade, começam a marcha antes do raiar do sol. O transporte de certos haveres é normalmente auxiliado por dois jumentos. Para a defesa, munem-se de artefactos como zagaias, catanas, lanças e outros objectos contundentes.
À frente estão 23 cabeças de gado e 15 cabritos, cuja atenção especial é dada às fêmeas, por sinal a maioria na marcha. Durante o percurso, é comum o cruzamento entre criadores oriundos de outros pontos. Desperta a atenção a mistura de animais, mas sem perdas ou confusão na distinção de pertença.
A vida segue o seu rumo normal, sem pânico ou lamentações. Além dos projectos do Executivo direccionados para abrandar as consequências da seca, Organizações das Nações Unidas (ONU) aliaram-se aos esforços das autoridades para minimizar a carência de bens indispensáveis à sobrevivência.

O passo inicial foi dado com a criação de cinco escolas de campo para os agropastoris, no município dos Gambos, o que facilitou o contacto e apoio às famílias assoladas pela seca nas calamidades.
Os dados que o Jornal de Angola teve acesso atestam que mais de 150 famílias são beneficiadas directamente e outras duas mil indirectamente com animais para a criação, como cabritos e galinhas, bem como kits de irrigação e de veterinária.

 Consta também a distribuição de sementes de batata rena e hortícolas, com realce para tomate, cebola, couve, beringela e repolho. Para o fomento frutícola, as famílias beneficiaram também de mudas de limoeiro, tangerineiras e laranjeiras.
O apoio contemplou igualmente comunidades de Capunda Cavilongo (Chibia), onde entre outros apoios, foram entregues enxadas e catanas. Os beneficiários das localidades da província da Huíla e Cunene enalteceram o gesto da FAO, por reforçar a criação de condições que visam garantir a auto-sustentabilidade das famílias.

Acções em curso
A representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em Angola, Gherda Barreto, acompanhada de técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), Instituto de Serviços Veterinários (ISV), entre outros, esteve em algumas localidades das terras de Mandume e na sede do município dos Gambos, para se inteirar das acções em curso.

Gherda Barreto, durante o contacto com os beneficiários, incentivou os produtores a se engajarem cada vez mais na lavoura de diversos bens necessários para o consumo das famílias, que conta agora com o reforço de material, capaz de facilitar cada vez mais a agricultura familiar.
Referiu que os beneficiários, principalmente com kits de irrigação, estão agora em condições de cultivarem diversos produtos para o enriquecimento da dieta alimentar, por haver condições de rega favoráveis ao desenvolvimento das culturas e respectiva diversificação.

Importa realçar que o programa da FAO, orçado em 781 mil dólares, visa melhorar a segurança alimentar das famílias afectadas pela seca, com realce às crianças e jovens concentrados em certos municípios das províncias da Huíla e do Cunene.
Uma nota que o Jornal de Angola teve acesso refere que vão ser distribuídos 4000 enxadas e catanas, 50 kits de irrigação, igual número de reservatórios de água com capacidade para 6000 litros e 200 kits de veterinária, que permitem os primeiros socorros aos animais, entre outros bens.

Para a diversificação da produção agrícola, a agência vai proceder também a entrega de quatro toneladas de sementes de massango, cinco de batata rena e 20 de milho. Foi também gizada uma acção de repovoamento animal, composta por 2000 cabritos, igual número de galinhas, entre outros.

Para melhorar o pasto do gado bovino consta ainda a entrega de 3000 blocos de sais minerais vitaminados. Importa realçar que no município dos Gambos a seca afecta acima de 90 mil pessoas, facto que incentivou a reabilitação de 23 pontos de abastecimento de água potável, no quadro do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

O administrador municipal dos Gambos, Elias Sova, informou também que decorre a construção do sistema de água e um tanque de 500 metros cúbicos, para irrigar acima de 450 hectares de terras aráveis na Tunda do Chianje, assim como a instalação de diversos bebedouros.

  Provenientes de vários Municípios
Garantida assistência a centenas de pessoas


A governadora provincial do Cunene, Gerdina Didalelwa, assegurou, sábado, assistência alimentar e de acomodação às mil e 188 pessoas que abandonaram as suas residências devido à fome provocada pela seca.
A garantia foi dada num encontro com as famílias sinistradas que se encontram abrigadas na região de Calueque, município de Ombadja, durante o qual procedeu a entrega de duas toneladas de massango.

Trata-se de famílias oriundas dos municípios do Curoca, Cahama, Mucupe e Chiange, que procuraram abrigo na povoação de  Calueque (Ombadja), no sentido de conseguirem emprego nas fazendas e outras áreas agroprodutivas, junto do rio Cunene, para se sustentarem.
Gerdina Didalelwa disse, à Angop, que o Governo vai prosseguir com  acções imediatas e a médio prazo, para suprir a carência de alimentos e de água potável para a população, apesar das dificuldades económicas actuais.

Informou que o Governo está a traçar estratégias para a aquisição de cereais e fuba de milho, assim como tendas para abrigar as famílias que se encontram ao relento.
De acordo com a governante, a província do Cunene continua a sofrer os efeitos da seca que se prolonga por três anos consecutivos, razão pela qual foi feita uma informação aos órgãos centrais no sentido de se reforçar a assistência alimentar às famílias.

Disse que a situação actual é preocupante, com relatos diários de comunidades a abandonarem as suas residências em direcção às áreas de transumância e outras que procuram abrigo junto das famílias nos municípios do Cuanhama e Ombadja.

A governadora da província do Cunene garantiu que as administrações locais e as autoridades tradicionais foram orientadas a fazer o levantamento dos deslocados, para se obter dados reais do número de famílias e direccionar melhor a assistência.

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